26 Novembro 2015
Na zona rural da Itália, perto da cidade de Pisa, um grande experimento está quase sendo colocado em prática.
Se for bem-sucedido, uma das célebres previsões de Albert Einstein será observada diretamente pela primeira vez.
A reportagem é de Rebecca Morelle, publicada por BBC Brasil, 25-11-2015.
Se falhar, leis da Física poderão ter de ser reconsideradas.
O aparelho responsável pelo experimento se chama Advanced Virgo ("Virgo avançado", em tradução livre), e buscará a prova de um dos fenômenos astrofísicos mais enigmáticos.
"Talvez tenhamos a primeira oportunidade de detectar ondas gravitacionais na Terra", explica Franco Frasconi, da Universidade de Pisa e membro da equipe internacional do Projeto Virgo.
"Seria uma demonstração clara de que o que (Einstein) disse há 100 anos está absolutamente correto."
Em 25 de novembro de 1915, Albert Einstein apresentou à Academia Prussiana de Ciências a versão final de suas equações de campo, que descrevem como a matéria produz gravidade e a influência da gravidade sobre a matéria.
As equações sustentavam sua Teoria da Relatividade Geral - pilar da física moderna que transformou nosso entendimento do espaço, do tempo e da gravidade.
A partir daí, um leque de conhecimento se abriu - da expansão do Universo ao movimento dos planetas, passando pela existência de buracos negros.
Mas Einstein também propôs a presença de ondas gravitacionais, basicamente feixes de energia que distorcem o tecido do espaço-tempo, o conjunto de quatro dimensões formado por tempo e espaço tridimensional.
Pense nesse fenômeno mais ou menos como as ondas que se formam quando jogamos uma pedra em um lago.
Qualquer objeto com massa deveria gerar essas ondas quando está em movimento. Até nós mesmos. Quanto maior a massa, mais intenso será o movimento, e maiores serão as ondas.
Einstein previu que o Universo estava inundado por essas ondas.
Feixes no tecido do espaço-tempo
Aposta italiana
Agora pesquisadores na Itália esperam encontrar essas ondas. Mas não será fácil.
A primeira versão do projeto Virgo foi posta em prática em 2007 - e não encontrou nada. O mesmo ocorreu com um experimento semelhante nos Estados Unidos, o Ligo (sigla em inglês para Observatório de Ondas Gravitacionais com Interferômetro a Laser).
As duas máquinas - chamadas interferômetros - agora passaram por caras melhorias, e as equipes esperam avanços em sensibilidade que podem ser a chave para o sucesso.
"A tecnologia necessária para detecção de ondas gravitacionais só se tornou disponível hoje. Nos últimos dez anos, desenvolvemos uma tecnologia muito sofisticada para construir esse tipo de interferômetro", diz Frasconi.
Os cientistas pretendem detectar as mínimas distorções criadas quando ondas gravitacionais passam pela Terra. Eles esperam observar as ondas que emanam de eventos cósmicos violentos, como estrelas explodindo e buracos negros em colisão.
O mesmo ocorre dentro do equipamento. E se as ondas percorrerem exatamente a mesma distância dentro dos dois túneis, elas podem se cancelar, produzindo nenhum sinal.
No entanto, quando uma onda gravitacional passa pelo túnel, espera-se que ela distorça o seu entorno de maneira muito sutil, alterando o comprimento dessas passagens em uma fração de átomo.
E o modo como as ondas se movem pelo espaço e pelo tempo significa que um túnel seria esticado e outro, espremido, o que resultaria em um laser viajando uma distância um pouco maior, enquanto o outro teria uma jornada mais curta.
Como resultado disso, os feixes se recombinariam de uma forma diferente: as ondas de luz iriam interferir entre si, em vez de se cancelar - e os cientistas detectariam um sinal.
Houve grandes esforços para isolar esses experimentos de interferências comuns da Terra, como ruídos de tráfego e terremotos.
"É uma questão de construir uma máquina para evitar barulho. A máquina está ancorada no solo, e o solo costuma vibrar. O maior desafio do Virgo foi isolar os espelhos. Gastamos muito tempo para desenvolver um pêndulo que isolasse os espelhos dos ruídos sísmicos", diz Frasconi.
Mas um sinal captado na Itália não será suficiente.
Se uma onda gravitacional for identificada lá, o aparelho Ligo, nos EUA, que possui o mesmo modelo do Virgo, porém com detectores de 4 km, também deveria ver o sinal. E outro aparelho menor na Alemanha.
O Ligo já está funcionando nos EUA, e pesquisadores esperam ligar o Virgo no final deste ano.
As equipes trabalham em conjunto e estão tão confiantes que já projetam 1º de janeiro de 2017 como o dia de um avanço histórico.
A previsão pode ser um pouco ousada, mas Frasconi, que trabalha nessa área há 20 anos, se diz confiante sobre o fim dessa busca.
"Neste momento é extremamente importante detectar ondas gravitacionais pela primeira vez na Terra. Se isso não ocorrer, não teremos as informações certas, o conhecimento correto do resto do Universo."
E se não funcionar?
Caso as ondas não apareçam, será um indicativo de que os experimentos precisarão ser redesenhados. E, em ultima análise, talvez os físicos tenham que repensar o funcionamento do Universo.
Mas uma observação direta irá abrir uma nova janela para o cosmos - uma que não teria sido possível sem Einstein.
Wiseman, do Imperial College de Londres, diz que observar ondas gravitacionais seria "uma confirmação fantástica do nosso entendimento sobre a relatividade geral".
"Temos boas razões para acreditar que elas existam, mas não podemos ter certeza de que entendemos a relatividade geral até identificarmos diretamente esses feixes no espaço e no tempo. Observá-las abriria o caminho para novos modos de testar a relatividade geral, mas também nos daria uma ferramenta completamente nova para observar alguns dos objetos mais fascinantes do Universo."
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Após 100 anos, cientistas tentam provar teoria de Einstein que embasa leis da Física - Instituto Humanitas Unisinos - IHU