26 Novembro 2015
Há 100 anos, nascia a Teoria da Relatividade Geral e surgia uma verdadeira filosofia baseada nos conceitos de paz e de religião cósmica.
A reportagem é de Giacomo Dotta, publicada no sítio Webnews, 25-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Qual é o sentido da nossa existência, qual é o sentido da existência de todos os seres vivos em geral? Saber responder a tal pergunta significa ter sentimentos religiosos. Vocês dirão: mas, então, tem sentido fazer essa pergunta? Eu lhes respondo: qualquer um que acredite que a sua própria vida e a dos seus semelhantes não tenha sentido não é apenas infeliz, mas também pouco capaz de viver." Com essas palavras, Albert Einstein explicava o seu modo de ver as coisas na vida.
O seu ponto de vista era e é influente por um motivo claro: Albert Einstein foi aquele que, mais do que qualquer outro, conseguiu mover a imaginação para mais longe das coisas da terra, até os confins do universo, sugerindo o horizonte último.
Corria o ano de 1915, era o dia 25 de novembro: passaram-se exatamente 100 anos. Aquele que tinha deslocado para mais além os limites tinha o direito e o dever de reinterpretar o quadro geral. Partindo da religião e da religiosidade, pois esta é a única teoria que até aquele momento tinha colocado a si mesma os problemas essenciais que, no início do século XX, a Teoria da Relatividade Geral também tentou enfrentar.
Depois da bomba atômica: o manifesto Russell-Einstein
O papel de Albert Einstein no desenvolvimento da bomba atômica é ambíguo e permanecerá assim para sempre. O fato de que as suas teorias inspiraram o seu desenvolvimento é indubitável, assim como o fato de que a construção dela deriva mais diretamente das pesquisas de Enrico Fermi e da chamada "gangue da Via Panisperna" (salvo Ettore Majorana, cujo desaparecimento nunca resolvido o mantém fora de qualquer responsabilidade sobre o Projeto Manhattan).
O que se sabe é que Einstein manteve conversações com o presidente dos EUA Roosevelt, com o qual deixou claro o impacto que teria uma bomba de tal feitura. Ele explicou as suas potencialidades bélicas, provavelmente deplorou em tom informal o impacto possível, mas, ao mesmo tempo, é possível que Roosevelt tivesse sido mais incisivo ao dar a entender como apenas uma demonstração de força poderia parar os fascistas e os seus aliados.
O próprio Einstein, aliás, não escondeu a ameaça: a Alemanha também estava trabalhando sobre o urânio, e o risco de serem antecipados era pesado demais para poder ser mantido em silêncio.
"Este novo fenômeno levaria também às construções de bombas, e é concebível (embora muito menos certo) que se possam construir desse modo bombas extremamente poderosas de um novo tipo. Uma única bomba desse tipo, transportada em uma embarcação e explodida em um porto, poderia muito bem destruir todo o porto e uma parte do território circundante."
Depois veio Hiroshima. Depois veio Nagasaki.
O legado de Albert Einstein sobre o tema nuclear é datado de 9 de julho de 1955, poucos meses depois da sua morte, através do manifesto Russell-Einstein assinado por 11 cientistas de todo o mundo. Porque este era o objetivo principal: levantar a voz da ciência contra a inovação gerada pela própria ciência, para que todo o poder das descobertas sobre o átomo não terminasse a sua corrida nos gestos insensatos da política e do intervencionismo militar.
A rejeição de Einstein deve ter sido uma rejeição de consciência, uma maneira para "remediar" uma situação pela qual ele certamente não tem culpa, mas sobre a qual ele teve uma responsabilidade certa. E na qual não pôde deixar de aceitar as decisões políticas daqueles que, convincentemente, asseveraram que só assim seria poderia acabar com uma guerra de resultados já dramáticos.
A uma distância de 60 anos do documento, as palavras ressoam ainda com a mesma força da época: "Na trágica situação diante da qual a humanidade se encontra, nós consideramos que os cientistas devem se reunir em uma conferência para avaliar os perigos determinados pelo desenvolvimento das armas de destruição em massa e para discutir uma resolução do espírito do projeto em anexo. Falamos nesta ocasião não como membros desta ou daquela nação, continente ou fé, mas como seres humanos, membros da raça humana, cuja continuação da existência está agora em perigo".
O terror diante do nuclear estava nos mais altos níveis. Desde então, ele não fez outra coisa senão crescer: a corrida armamentista desacelerou, e, antes da recente piora nas relações entre Ocidente e Oriente, os EUA e a Rússia estavam novamente discutindo sobre como diminuir o número de armas nucleares em circulação, evitando que pudessem ser geridas também por países sem controle.
O alerta do manifesto Russell-Einstein, portanto, não perde importância, e as palavras de então, assinadas por aquele visionário que já tinha cruzado os confins do universo com as suas teorias, se repetem com uma importância intacta:
"Dirigimos um apelo como seres humanos para seres humanos: lembrem-se da sua humanidade e esqueçam-se de todo o resto. Se vocês forem capazes de fazer isso, está aberto para vocês o caminho para um novo paraíso; caso contrário, está diante de vocês o risco da morte universal."
Ciência e religião cósmica
Mas, nos dias de Paris e da ameaça do Isis sobre toda a Europa, nas horas em que, entre Estados Unidos e o mundo oriental, volta a aumentar a temperatura, no momento em que a amargura parece amadurecer e se enraizar sobre convicções religiosas, são ainda as palavras de Einstein que fazem refletir.
O que faz refletir é, acima de tudo, o seu equilíbrio e o seu fascínio com a dúvida e o mistério, verdadeira pulsão à pesquisa. De acordo com Einstein, a inovação é uma espécie de elevação do homem, porque o aproxima de algum modo a uma realidade que alguns poderiam chamar de "deus".
Einstein não nega a existência de Deus. Nem a afirma. A sua religião secular parece querer permanecer fielmente em equilíbrio sobre essa dúvida, porque supor a existência de Deus significa, dia após dia, descobrir algo de novo para revelar a Verdade absoluta. O valor está justamente na dúvida, naquela pulsão inata que pode mudar os destinos da humanidade.
"A mais bela sensação é o lado misterioso da vida. É o sentimento profundo que se encontra sempre no berço da arte e da ciência pura."
De acordo com Einstein, as Sagradas Escrituras se reduzem a pouco mais do que uma série de lendas escritas e dadas à luz pelo homem, por mentes simples que pensam sobre o castigo e sobre a lei da pressão como forma geral de regra.
Mas há uma moral, e esta deve ser elevada a religião: "A sua religiosidade consiste na admiração extasiada das leis da natureza; revela-lhe uma mente tão superior que toda a inteligência posta pelos homens nos seus pensamentos, em comparação com ela, não é senão um reflexo absolutamente nulo".
Aquilo que vem do homem é feito para satisfazer as necessidades do homem; quer seja a religião baseada "no terror" ou "na moral", Einstein parece rejeitar, no entanto, qualquer forma sua. Um perfil científica que vê na natureza uma mão divina, em suma, mas que rejeita os formalismos e as superestruturas assinadas pela mão do homem:
"Que alegria profunda em relação ao edifício do mundo e que desejo ardente de conhecer – embora limitado a algum raio fraco do esplendor revelado pela ordem admirável do universo – deviam possuir Kepler e Newton para terem sido capazes, em um solitário trabalho de longos anos, de desvendar o mecanismo celeste! [...] Só aquele que consagrou a sua vida a propósitos semelhantes pode formar uma imagem viva daquilo que animou esses homens e daquilo que lhes deu a força para permanecerem fiéis ao seu objetivo, apesar dos inúmeros insucessos. É a religiosidade cósmica que esbanja forças semelhantes. Não é sem razão que um autor contemporâneo disse que, na nossa época, dedicada em geral ao materialismo, os cientistas são os únicos homens profundamente religiosos."
Uma religião secular, aquele que Einstein parece professar, que não luta contra as religiões tradicionais: as aceita, quase como ciências alternativas ainda em busca do mesmo objetivo. Porque o ardor que leva o homem à busca é algo que se assemelha muito ao divino, e cuja essência está na inteligência.
É por isso que ciência e religião não são coisas antitéticas, mas, ao contrário, devem encontrar um acordo comum. Einstein faz referência especificamente ao conceito de "religião cósmica", rejeita as velhas tentativas das religiões de afundar a ciência, mas estende a mão para um futuro em que, também nesse âmbito, a paz leve a melhor.
Em Einstein, a pesquisa científica é elevada ao máximo cargo, quase como ordem natural das coisas, como forma terrestre de elevação ao divino a que o homem pode e deve aspirar.
Einstein, as armas, Europa
Também devem ser lidas estas palavras escritas claramente em meados do século XX por um Einstein que queria esclarecer o seu modo de ver as coisas, certo de poder oferecer um serviço àqueles que olham desencantados para os acontecimentos, sem captar a sua essência:
"É preciso perceber que os poderosos grupos industriais interessados na fabricação de armas são, em todos os países, contrários à regulação pacífica das controvérsias internacionais, e que os governos não poderão realizar esse importante objetivo sem o apoio enérgico da maioria da população. Nesta época de regimes democráticos, o destino dos povos depende dos próprios povos. Esse fato deve estar presente no espírito de cada um a cada momento."
O que Einstein sugeria era uma organização internacional da ciência que servisse de membrana para o controle das armas e da sua proliferação, freando aqueles mesmos impulsos ao desenvolvimento de armas que a própria ciência estimula com as suas descobertas. Essa última ambição, porém, abdicou ao seu papel ao longo do tempo, deixando exclusivamente ao mercado e à política o controle dos acontecimentos.
Não se tem uma contraprova e é complexo hoje entender se a internacional desejada por Einstein saberia fazer melhor. Mas o princípio permanece firme, e já em Einstein florescia a ideia de uma solução que se chamasse Europa:
"O nosso continente poderá alcançar uma nova forma de prosperidade somente se a luta latente entre as formas tradicionais de Estado vier a cessar. A organização política da Europa deve ser decisivamente orientada à eliminação das incômodas barreiras alfandegárias. Esse objetivo superior não poderia ser alcançado exclusivamente através de convenções entre Estados. A preparação preliminar dos espíritos é, em primeiro lugar, indispensável."
Em última análise, com uma observação que realmente tem os tons de uma aberta confissão religiosa e com palavras que, precisamente nestes dias, têm um peso específico altíssimo:
"Nós devemos nos esforçar para despertar gradualmente entre os homens um sentimento de solidariedade que não se detenha, como aconteceu até hoje, nas fronteiras dos Estados."
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Einstein, 100 anos de paz e religião cósmica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU