02 Outubro 2015
Alexandre de Freitas Barbosa aplica a metodologia de Thomas Piketty e constata que a redução da desigualdade no país se dá apenas entre trabalhadores assalariados
Fotos: João Vitor Santos/IHU |
O professor olha para o trabalho de Piketty de forma crítica, inclusive pondo sua metodologia à prova por outras correntes de pensamento em Economia, e reconhece: “ele já fez uma revolução”. Isso porque lançou o olhar sobre a renda patrimonial. Revolução essa que ainda pode ser medida na postura da Receita Federal do Brasil que, depois do sucesso da obra, resolveu abrir os dados sobre o patrimônio. “Dizia-se que a desigualdade caiu. Mas os dados que se tinha acesso no Brasil eram apenas os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar - Pnad. Ou seja, dados dos rendimentos pelo trabalho. É possível constatar que houve queda na desigualdade do trabalho. Isso é meritório, tem relação com toda uma rede de proteção. Entretanto, há a renda (patrimonial) que ainda causa desigualdade”, explica.
Barbosa destaca que essa metodologia põe em cheque a velha ideia de meritocracia. Nela, com “esforço, educação e dedicação” é possível alcançar o mesmo nível de quem já parte de um acúmulo de renda patrimonial. “E isso põe em cheque o mundo todo”, pontua o professor. “No Brasil, a renda dos mais ricos no Brasil é mais de duas vezes superior à obtida pelo conjunto dos 50% mais pobres da população”, destaca, ao lembrar que essa fatia da população (com rendimentos superiores a 40 salários mínimos) não chega a 1% do total da população.
Pensando em alternativas
Se de fato ainda há uma gigante desigualdade no país, como reverter esse quadro? “No Brasil, existe a concentração de renda em algumas formas de capital. Se houver a taxação dessas formas, poderá forçar para que a concentração vá para outras formas de capital”, diz Barbosa. Por outra via, o que o professor fala é a taxação de renda patrimonial. Para ele, se for caro pagar por essa renda, os investidores serão forçados a canalizar seu dinheiro para outras formas de capital. “É direcionar o capital para a vida prática. Temos muitos setores, essencialmente de infraestrutura, que ainda não foram explorados no país. Assim, poderia se achar uma forma de manter o estoque de capital e ainda promover o desenvolvimento”.
Barbosa: Que sabemos da desigualdade no país? |
Capital no Século XXI
O Ciclo de Estudos O Capital no Século XXI – uma discussão sobre a desigualdade no Brasil tem ainda mais quatro encontros. O próximo é na segunda-feira, dia 05-10. O professor da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp Márcio Pochmann terá como tema de sua palestra “A desigualdade brasileira da renda do trabalho e da apropriação do capital”. A última conferência será no dia 11 de novembro, com o professor da Universidade de Brasília – UNB Marcelo Medeiros. Ele falará sobre “Os ricos e a desigualdade de renda no Brasil”.
Por João Vitor Santos
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A cortina de fumaça sobre a desigualdade no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU