18 Setembro 2015
"No momento em que se admite que as liberdades são fundamentais, a primeira liberdade é a de circulação. Chegarão pessoas, e isso será bom. É preciso preparar políticas de integração, e essas pessoas farão da Europa a primeira potência mundial."
A reportagem é de Béatrice Delvaux, publicada no jornal La Repubblica, 17-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A convicção é de Jacques Attali, economista, professor, escritor. Ele foi o conselheiro especial do presidente François Mitterrand. Primeiro presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento depois da queda do Muro de Berlim, no seu livro Uma Breve História do Futuro, ele "anunciava" o declínio do império norte-americano e a onipotência do império do mercado, e pressagiava que, após a violência do dinheiro, chegaria a das armas.
"O hiperimpério", nascido de um desvio do capitalismo liberal, entrará em colapso causando uma proliferação de conflitos que inflamarão o planeta inteiro em um conflito global, o 'hiperconflito'."
Eis a entrevista.
Estamos às vésperas da fase do hiperconflito?
Não, ainda estamos entre o fim do império norte-americano e o início da segunda etapa. Já deveria estar claro para todos que ninguém vai substituir os Estados Unidos como superpotência.
Parece que estamos olhando para a catástrofe que se prepara, acordados, mas sem agir.
Para as pessoas mais sofisticadas, falta a coragem.
Como aumentar a consciência?
Vi com prazer a resposta daqueles que dizem que devemos acolher os refugiados. É preciso passar para aquilo que eu chamo de altruísmo interessado, entender que a forma de egoísmo mais inteligente é o altruísmo. Porque ser altruísta é do nosso interesse. É do nosso interesse pagar as nossas dívidas e não deixá-las para as gerações futuras. É do nosso interesse acolher os migrantes, assim como é do nosso interesse ajudá-los muito mais nos seus países para que não tenham interesse de vir até nós.
O que poderia desencadear essa guerra?
As oportunidades são muitas, como em 1914. Um conflito entre japoneses e China em uma ilha. Ou um encontro entre tropas da Otan e tropas russas na Letônia ou na Polônia. Ou entre tropas norte-americanas e russas na Síria. Ou o fato de que o IS se dote de armas sofisticadas. E, como são todas possíveis, a probabilidade de que uma se concretize é muito alta.
Qual é a utopia que perdemos de vista?
O fato de que se aceite a universalidade das mercadorias, das trocas, dos deslocamentos de pessoas e capitais, mas não se aceite a universalidade do estado de direito. O mercado se torna cada vez mais global, mas a democracia continua sendo local. Perdemos a utopia do universalismo, a tal ponto que falar de um governo mundial é percebido como um horror conspiracionista, enquanto, na realidade, ou haverá um governo mundial ou haverá o caos: é preciso reconhecer isso. E se na Europa não formos capazes de instaurar um governo de proporções adequadas para o nosso mercado, o mercado vai nos oprimir.
Você está apresentando a Europa como o futuro do mundo, enquanto os eventos recentes mostram-na inativa.
Por enquanto, as crises funcionam como vacinas que nos fazem mais fortes. A crise grega foi a ocasião para instituir, sem que ninguém percebesse, o equivalente de um Tesouro Europeu. A crise dos migrantes pode acabar muito mal com o fechamento de todas as fronteiras, mas, ao mesmo tempo, com as quotas obrigatórias, é uma oportunidade formidável para pensar juntos. É por isso que eu disse que não é preciso apenas um "Frontex", mas também um "Integrex".
O que você quer dizer?
A integração espanhola e italiana na Bélgica foi um sucesso. Da imigração muçulmana, veem-se apenas os problemas e não os sucessos, que, ao contrário, são numerosos. Na França, há cerca de cinco milhões de muçulmanos, 98% dos quais estão integrados e são médicos, advogados. O que está acontecendo com os migrantes deveria implicar a construção de uma Europa mais integrada, mais poderosa, que encontre os meios para acolher. A sua chegada é uma incrível oportunidade, porque transforma a demografia europeia. Nós, ao contrário, temos uma reação de pequenos.
Ao menos Merkel e Juncker são corajosos, não?
Quanto a Merkel, trata-se do egoísmo total, pois ela faz os interesses da Alemanha, que estava em uma situação de suicídio: os migrantes preenchem um vazio Juncker, ao contrário, é um utópico. Eu sempre achei que ele fosse um grande senhor, e agora, finalmente, temos um presidente da Comissão que ousa falar e fazer.
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''Graças aos migrantes, a Europa se tornará a primeira potência'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU