Por: Jonas | 08 Setembro 2015
No sábado, 8 de agosto, a partir das 8h da manhã, o povo indígena otomi de San Francisco Xochicuauta, Lerma, Estado do México (no centro do país) fará um protesto contra a empresa Autovan S.A de C.V, para resistir a um megaprojeto de estrada, que, caso se realize, dividiria metade suas terras ancestrais e seus lugares sagrados, segundo disseram os próprios indígenas da região.
A reportagem é publicada por Aleteia, 07-08-2015. A tradução é do Cepat.
As mobilizações cidadãs se repetem em vários países da América Latina, onde os povos procuram defender a natureza, animados – em alguns casos – pela mensagem do papa Francisco em sua recente encíclica “Laudato Si’”.
Unidos, com Deus, para escutar o grito
De 17 a 19 de julho, aconteceu em Roma o encontro de representantes de comunidades atingidas por atividades mineiras, organizado pelo Pontifício Conselho de Justiça e Paz (PCJP) em colaboração com a rede latino-americana Igrejas e Mineração, com o lema “Unidos a Deus, escutamos um grito”. Participaram representantes de 18 países do mundo (asiáticos, africanos e americanos).
A Igreja católica, há anos, mas especialmente agora, sob a condução do Papa Francisco, vem expressando sua preocupação pelos efeitos que a intervenção de empresas mineiras, em diferentes regiões da América Latina, ocasiona à natureza e aos povos.
Nesse sentido, Luis González, da Mesa Nacional frente à Mineração Metálica em El Salvador explicou para o portal web “Habla El Salvador”, que o apoio da Conferência Episcopal dos Estados Unidos na luta contra a mineração nesse país é importante e, além disso, espera que não se fragilizem os direitos da Comunidade de Cabañas, onde ocorreram processos extrativos.
Da mesma forma, Vidalina Morales, ambientalista salvadorenha, expressou que os projetos mineiros não são uma saída para a pobreza, mas, ao contrário, acarretam diferentes conflitos sociais, comunitários e familiares.
Pobreza e mais pobreza
No Peru, em maio de 2015, a Conferência Episcopal desse país fez um chamado de justiça e paz para zelar pela vida do homem, o cuidado do solo e da água na execução do projeto mineiro “Tía María”, na província de Islay. O comunicado dos bispos do Peru ressalta a preocupação com o bem comum e o cuidado da Criação.
Em julho de 2015, aconteceu na Colômbia o Encontro de Comunidades Atingidas pelas Atividades Mineiras, no qual se tornou conhecida uma mensagem do Papa Francisco na qual recordou que a extração de riquezas do solo “paradoxalmente não produziu riqueza, mas pobreza”.
O Papa Francisco, que acompanha estes temas, em todo o seu pontificado, e que reiterou o mesmo na “Laudato Si’”, pediu – então – ao setor mineiro para “desenvolver uma mudança profunda” no trabalho que faz nos países da América Latina.
Maior presença profética
A presença da Igreja no tema da defesa dos povos originários e da ecologia não é nova. Vários organismos religiosos articulados na Rede Igreja e Mineração, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o departamento de Justiça e Paz da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM) e o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) denunciam que muitos projetos mineiros só procuram lucrar dos recursos da Amazônia e acrescentam que estas empresas “colocam em risco a vida dos povos indígenas”.
A Igreja latino-americana reconheceu que é necessário “uma maior presença profética, mais intensa e integral a serviço da vida em comunidades indígenas, onde se realiza a extração mineira, expansão agropecuária, construção de estradas, hidrelétricas e empresas madeireiras”.
Sem estar contra o desenvolvimento e o progresso, a Igreja defende o direito que os povos indígenas têm de ser consultados e de que lhes seja solicitado o consentimento prévio antes de instalar um empreendimento extrativo, e de que lhes sejam garantidas condições adequadas para seu licenciamento e assim evitar danos sociais e ambientais.
Com a Encíclica do Papa Francisco e o Manifesto recente de Santa Cruz de la Sierra, local no qual o Papa se encontrou com os movimentos sociais da América, a consciência destes direitos e a necessidade do cuidado da casa comum estão crescendo, em uma região que é tão fértil em recurso naturais, como explorada pelo irracionalismo do capital.
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Papa Francisco inspira mobilizações indígenas que proliferam na América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU