29 Junho 2015
Ela é uma das ativistas sociais de mais alto perfil do mundo e uma crítica feroz do capitalismo do século XXI. Ele é um dos assessores mais importantes do papa e professor de economia das mudanças climáticas. Mas, nesta semana, a secular radical vai unir forças com o cardeal católico na última medida do Papa Francisco para deslocar o debate sobre o aquecimento global.
A reportagem é de Rosie Scammell, publicada no jornal The Guardian, 28-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Naomi Klein e o cardeal Peter Turkson irão liderar uma conferência de alto nível sobre o ambiente, reunindo clérigos, cientistas e ativistas para debater ações contra as mudanças climáticas. Klein, que faz campanha por uma reforma do sistema financeiro global para combater as mudanças climáticas, disse ao jornal The Observer que ela ficou surpresa, mas muito alegre ao receber o convite do escritório de Turkson.
"O fato de eles terem me convidado indica que eles não estão recuando da luta. Muitas pessoas já deram um tapinha nas costas do papa, mas disseram que ele está errado em relação à economia. Eu acho que ele está certo em relação à economia", disse ela, referindo-se à recente publicação do Papa Francisco de uma encíclica sobre o ambiente.
O lançamento do documento no início deste mês empurrou o pontífice para o centro do debate global sobre as mudanças climáticas, pois ele repreendera os políticos por criarem um sistema que serve aos países ricos em detrimento dos mais pobres.
Ativistas e líderes religiosos se reuniram em Roma neste domingo, marchando pela Cidade Eterna antes que o Vaticano acolha os militantes para a conferência, que irá se focar na iminente cúpula da ONU sobre as mudanças climáticas.
Os manifestantes escolheram a embaixada francesa como seu ponto de partida – um palácio renascentista famoso pelos seus belos afrescos, mas mais significativamente um símbolo da conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, que será sediada por Paris em dezembro.
Quase 500 anos desde que Galileu foi considerado culpado de heresia, a Santa Sé está liderando o grito de guerra para que o mundo acorde e ouça os cientistas sobre as mudanças climáticas. Líderes inter-religiosos caminharão ao lado de cientistas e ativistas, vindos de organizações como o Greenpeace e a Oxfam Itália, marchando ao Vaticano para celebrar a dura posição do papa sobre as questões ambientais.
A iminente chegada de Klein para dentro dos muros vaticanos gerou alguma perplexidade, mas o envolvimento de pessoas seculares nas discussões da Igreja não é algo sem precedentes.
Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, fez o discurso principal em uma cúpula vaticana em abril sobre as mudanças climáticas e a pobreza. Antecipando-se à encíclica, ele disse que esperava a "voz moral e a liderança moral" do papa para acelerar a ação.
Para a apresentação do próprio documento, o pontífice escolheu um painel de cinco pesos-pesados, incluindo um professor de uma escola de Roma e um cientista de ponta. Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, usou o seu tempo para dar uma lição aos clérigos sobre a ciência climática.
O papa incomodou alguns conservadores por atrair as pessoas de fora do clero para o centro do debate, enquanto os críticos também argumentam que a Igreja Católica não deve se envolver em uma questão que deveria ser deixada aos presidentes e aos decisores políticos.
Mas Klein disse que a posição do papa como uma "voz moral" no mundo – e líder de 1,2 bilhão de católicos – lhe dá a capacidade única de unir os militantes que lutam por um objetivo comum. "A visão holística da encíclica deveria ser um catalisador para reunir as crises gêmeas, econômica e climática, em vez de tratá-las separadamente", disse ela.
Grande parte do discurso do papa se centra na necessidade de dar aos países em desenvolvimento uma maior voz nas negociações sobre mudanças climáticas, uma visão desconfortável entre alguns dos países desenvolvidos. "Há muitas pessoas que estão tendo muitos problemas ao perceber que há uma voz com tamanha autoridade mundial a partir do Sul global. É por isso que estamos recebendo essa visão condescendente, 'deixem a economia para nós'", criticou Klein.
Ela vê a elevação de Francisco como um ativista ambiental como o marco de uma mudança bem-vinda, não apenas na esfera internacional, mas também na da Santa Sé: "Nós estamos vendo mudar a base de poder dentro do Vaticano, com um cardeal ganês [Turkson] e um papa argentino. Eles estão fazendo algo muito corajoso".
Embora a próxima conferência estará centrada na encíclica do papa, os delegados também olharão para os próximos encontros internacionais decisivos deste ano. Antes das conversações de Paris, haverá uma cúpula da ONU, em que os Estados devem se comprometer com metas de desenvolvimento sustentáveis, que, inevitavelmente, afetarão o ambiente.
O papa vai viajar para Nova York no primeiro dia da reunião e irá discursar para a assembleia geral da ONU, reforçando a sua mensagem e fortalecendo os países mais afetados pelas mudanças climáticas.
Para Klein, a visita papal irá marcar uma mudança muito necessária na forma como os negociadores discutem o ambiente. "De certa forma, o discurso da ONU higieniza o fato de que esta é uma crise moral", disse ela. "Ela clama por uma voz moral."
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Papa Francisco recruta Naomi Klein para a batalha contra as mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU