24 Junho 2015
"A Itália é o único país onde nenhum banco faliu", esclarece Stefano Zamagni, economista, diretor científico da Escola de Economia Civil e acadêmico vaticano das Ciências Sociais. "Os resgates com fundos públicos ocorreram na Alemanha, Inglaterra, Irlanda, Estados Unidos, onde esse dinheiro foi tirado dos gastos sociais e do welfare. Portanto, lá, os prejudicados foram os indigentes. O pontífice sabe disso", acrescenta o professor de economia política da Universidade de Bolonha e ex-presidente da Agência para o Terceiro Setor.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 19-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Francisco critica os banqueiros...
Nos Estados Unidos, rebatem que o saneamento dos bancos ocorreu para evitar problemas piores. Caso contrário, o desastre teria sido irrefreável, e as consequências teriam recaído sobre os pobres. O escândalo é a ausência de condições. Ao contrário do caso da Grécia.
Qual é a diferença?
A Grécia tem uma dívida com os outros países europeus e, em troca das ajudas, a União Europeia pede que o governo de Atenas mude o seu modo de agir e se comprometa a restituir o dinheiro recebido. Aos bancos de investimento, não foi pedido nada em troca, nem foram impostas novas regras. Agora que eles estão fazendo novos lucros, não devem devolver nada. Uma grave injustiça.
Essa é a denúncia do papa?
Sim. O Antigo Testamento é um exemplo. Com o perdão jubilar, no Estado hebraico, eram canceladas as dívidas, mas o devedor agraciado devia demonstrar que mudaria a sua prática, enquanto os bancos salvos continuam se comportando como antes. É vergonhoso que, em um certo número de anos, não restituam ao menos uma quarta parte do dinheiro público desembolsado para salvá-los. O papa diz aquilo que está diante dos olhos de todos. São dados de fato, que já são reconhecidos até pelos republicanos norte-americanos. A análise papal é justa.
É também um alerta para a política?
Sim. Hoje se diz: "Os mercados estão preocupados". Mas o que isso significa? Que a política se rendeu ao poder dos mercados. É uma degeneração muito grave, que não existia no passado. Foram os pais fundadores da União Europeia que deram a linha à economia e aos mercados. Se deixarmos o mercado fixe os fins, é claro que o mercado não se interessa pela equidade, pela justiça, pela pobreza. O mercado só se interessa pelo crescimento do PIB. Deve ser distribuída a riqueza que se cria. É o bem comum.
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''A política já se rendeu ao poder dos mercados, essa é a verdadeira degeneração.'' Entrevista com Stefano Zamagni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU