13 Mai 2015
Metas já entregues para Paris não impedem aquecimento acima de 2°C, diz Nicholas Stern. Estudo de coautoria do economista britânico afirma, porém, que revisão periódica das contribuições e esforço concentrado para a descarbonização podem ajudar a estabilizar o clima após 2030.
A reportagem é de Cíntya Feitosa, publicada originalmente no sítio Observatório do Clima, 11-05-2015.
Se dependermos das metas de redução de emissões apresentadas até agora, o objetivo de impedir que a elevação da temperatura média global ultrapasse os 2°C não será alcançado. Os países precisam tornar suas INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) mais ambiciosas ainda antes da Conferência do Clima que será realizada em dezembro deste ano e revisá-las periodicamente depois do acordo de Paris. A análise foi divulgada nesta semana pela London School of Economics and Political Science. Um de seus autores é Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Reino Unido, que publicou o primeiro grande estudo sobre prejuízos econômicos da mudança climática, em 2006.
A projeção do estudo indica que União Europeia, Estados Unidos e China, que têm 2,2 bilhões da população global de 7,2 bilhões, provavelmente emitirão juntos cerca de 21 a 22,3 bilhões de toneladas (gigatoneladas) de CO2 em 2030 – 39% das emissões globais, estimadas entre 57,6 e 59 gigatoneladas de CO2.
O valor ultrapassa e muito as expectativas das Nações Unidas: para uma chance de 50 a 66% de limitar o aquecimento global a 2°C, as emissões globais anuais devem se manter entre 32 e 44 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2030.
“A magnitude da diferença entre as intenções atuais e a meta internacional de limitar o aquecimento global a um máximo de 2°C mostra claramente que um acordo em Paris terá de incluir mecanismos dinâmicos para a avaliação dos progressos e aumento da ambição”, recomendam os autores do estudo. A proposta de revisão periódica das metas, aliás, é uma ideia brasileira que tem sido levada em consideração nas negociações para o acordo de Paris.
Esses valores não consideram a discussão sobre “emissões negativas”, uma solução alternativa pela qual seria possível chegar ao aquecimento máximo de 2 graus retirando ativamente carbono da atmosfera.
Medidas necessárias
Mesmo que o cenário não pareça otimista, os pesquisadores apontam um conjunto de medidas para que a Conferência do Clima de Paris tenha bons resultados. Primeiramente, sugerem trabalho duro nos próximos meses para propostas mais ambiciosas e parcerias entre países para consolidar iniciativas de descarbonização.
Os pesquisadores também aconselham o investimento e a inovação, particularmente em relação ao desenvolvimento das cidades, sistemas de energia e uso da terra, como contribuição para diminuir a lacuna entre o objetivo global e as metas de cada país antes e depois de 2030.
Por fim, os países devem concentrar esforços para consolidar bases domésticas fortes e transparentes para a execução das metas. Esses esforços dependem, também, do compartilhamento de tecnologia e apoio financeiro por parte dos países ricos para a transição para uma economia de baixo carbono.
“As INDCs apresentadas em 2015 devem ser o ponto de partida, em vez de o ponto final, do que vai ser entregue por cada país. O período após a cúpula de Paris será crucial, não apenas para preencher a lacuna entre as intenções e a meta para 2030, mas também para formar as bases para uma maior ação a partir de 2030”, conclui o estudo.
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Aquecimento acima de 2°C - Instituto Humanitas Unisinos - IHU