21 Janeiro 2015
Barcos de patrulha ancorados ao longo do litoral, helicópteros, cães detectores de explosivos para farejar bolsas e mochilas, rede de celular bloqueada, alto-falantes que, antes do encontro dos jovens com o papa, explicam como se comportar ("fiquem parados, curvem-se ao chão..." ) em caso de atentado. Fala-se de 50 mil agentes e militares, mas parecem mais, já que os furtos no metrô despencaram.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 19-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São tempos difíceis, mas a graça desse povo humilde que, desde a noite anterior, se encaminhava envolto na capa de chuva de plástico amarela, debaixo da água ininterrupta da tempestade tropical, com os filhos sobre os ombros, comida nas sacolas, as estátuas do Menino Jesus entre as mãos para celebrar com Francisco a festa do "Santo Niño", faz com que se torne espontâneo e simples aquilo que nunca se tinha visto: "As autoridades nos disseram que havia entre seis e sete milhões de pessoas: é o maior evento da história dos papas", disse o padre Federico Lombardi.
Três milhões na área do parque Rizal, ao menos outros três nas ruas ao redor, uma multidão que tem como única fronteira visível o Oceano Pacífico atrás do palco, pessoas encharcadas que cantam e rezam, de mãos dadas, e são felizes se, ao menos, o filho consegue entrever por um instante, levantado pelo pai, a silhueta de Bergoglio que passa de carro. Entende-se por que Francisco confidenciou ao cardeal de Manila, Luis Antonio Tagle, de 57 anos, de mãe chinesa: "A Ásia é o futuro da Igreja".
A missa mais lotada da história, até ontem, era a que João Paulo II celebrou no dia 15 de janeiro de 1995, no fim da Jornada Mundial da Juventude, também aqui em Manila. Neste domingo, o papa voltou a Roma sobrevoando de novo os céus da China – do avião, ele enviou um novo telegrama ao presidente Xi, como há cinco meses para a Coreia do Sul – e, na missa, ele falou da "especial vocação" do país mais católico do continente, onde estudam – explica Tagle – 20 mil jovens chineses: "Os filipinos são chamados a ser missionários excelentes da fé na Ásia".
A imagem da viagem é Glyzelle, 12 anos, resgatada da fundação da Igreja para as muitas crianças de rua que o papa visitou há alguns dias. A menininha vestia um vestido branco com flores e chorava, enquanto perguntava a Francisco: por que as crianças sofrem? Bergoglio a escuta com os olhos lúcidos, depois a abraça e lhe dá um beijo na testa, como ela se agarra a ele, soluçando sobre a batina.
O papa diz: "Você fez, com as lágrimas, a única pergunta que não tem uma resposta. Só quando também formos capazes de chorar pelas coisas que você disse, seremos capazes de compreender alguma coisa. Há uma compaixão mundana que não serve para nada e, no máximo, consiste em colocar uma mão no bolso e esticar uma moeda. Se Cristo tivesse tido esse tipo de compaixão, teria simplesmente passado, teria curado três ou quatro pessoas e teria voltado para o Pai. Somente quando Cristo chorou e foi capaz de chorar, compreendeu o que acontecia nas nossas vidas".
Em um país onde mais de um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza, o papa repassava, na missa, os temas essenciais da sua viagem: os pobres, as crianças, os "ataques insidiosos" contra a família, os políticos corruptos e "as escandalosas" desigualdades; o homem que destrói a criação e a si mesmo "criando estruturas sociais que tornaram permanentes a pobreza, a ignorância e a corrupção". E "as mentiras do diabo", o fascínio malvado de querer "ser moderno": "Assim, deixamos de permanecer interiormente como crianças".
Restam as palavras de Francisco que elogia Glyzelle: "Há muito poucas mulheres hoje. Às vezes, somos muito machistas e não damos espaço para as mulheres. Elas sabem fazer perguntas que os homens não são capazes de compreender. Convido cada um a se perguntar: aprendi a chorar quando vejo uma criança faminta, drogada, sem casa, abandonada, abusada, explorada pela sociedade? De vez em quando, alguns choram de maneira caprichosa, porque gostariam de ter mais. Aprendamos a chorar. Como ela nos mostrou hoje. Não nos esqueçamos. A grande pergunta, ela a fez chorando. E a resposta que nós damos hoje é: aprendamos a chorar. Jesus chorou no Evangelho. Se vocês não aprenderem como se chora, não poderão ser bons cristãos".
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A missa mais lotada da história: ''Aprendamos a chorar'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU