07 Janeiro 2015
Se – para os cristãos, pelo menos – é certo que, um belo dia, Jesus veio ao mundo, são totalmente incertos o dia e, mais ainda, o ano exato do seu nascimento.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 05-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há dois mil anos, eram muito diferentes os cálculos com que, no mundo – do Extremo Oriente à bacia mediterrânea –, se mediam em anos. Em Roma, contava-se "ab urbe condita" (AUC), a partir da fundação da cidade; e assim se continuou mesmo depois da queda do império.
Mas, em torno de 1279 AUC, Dionísio, o pequeno, um monge de origem cita [antiga população seminômade do atual Irã, n.d.t.], que vivia às margens do Tibre, pensou: "Mas por que continuar medindo o tempo a partir de Roma, já que o centro da história é Jesus?".
Ele fez algumas pesquisas e, a partir de algumas indicações dos Evangelhos e de outras fontes, estabeleceu que o Salvador tinha nascido em 753 AUC. Consequentemente, dividiu as datas da história em "antes" e "depois" de Cristo. E, por exemplo, ele, Dionísio, viva em 525 d.C.
A sua proposta agradou aos papas e, pouco a pouco, tornou-se comum na Europa. A questão do ano do nascimento de Jesus, misturou-se com outro problema distinto. Júlio César, utilizando os conhecimentos astronômicos dos cientistas da época, reformou o calendário, que, por causa dele, chamou-se "juliano". Mas ele cometeu um pequeno erro que, com o passar dos séculos, levou a um defasamento entre a data do calendário e a experiência empírica que se tinha dos solstícios e dos equinócios: de fato, haviam se "perdido" dias.
Assim, o Papa Gregório XIII, em 1582, estabeleceu que o dia seguinte ao 4 de outubro não seria 5, mas... 15: desse modo, recuperavam-se os 10 dias "desaparecidos".
Nascia, assim, o calendário "gregoriano", que logo foi adotado pelas potências católicas europeias e, alguns séculos depois, pelas protestantes. Os países ortodoxos da Europa Oriental e, em particular, a Rússia recusaram a reforma papal e mantiveram o calendário juliano.
No século XX, a diferença entre os dois calendários, que aumenta um dia a cada século e meio, mais ou menos, tinha atingido os 13 dias: assim, a Grande Revolução Bolchevique, que eclodiu na Rússia no dia 25 outubro de 1917, ocorria enquanto no Ocidente esse dia era o 7 de novembro!
A URSS, depois, adotou o calendário gregoriano, rejeitado, ao contrário, na época e depois, pela Igreja Ortodoxa: por esse motivo, no dia 7 de janeiro, os ortodoxos russos celebram o Natal, porque nesse dia, para eles, é o 25 de dezembro! E, em algumas décadas, a diferença entre as duas datas será de 14 dias.
Além de que não se saiba com exatidão o dia do nascimento de Jesus, é incerto até mesmo o ano: os estudiosos, de fato, afirmam hoje que Ele nasceu entre 749 e 746 AUC, isto é, de 4 a 7 "antes" de Cristo.
Em suma, defendem, Dionísio errou, ainda que pouco, os seus cálculos. Mas como se faz, agora, para mudar todas as datas da história e até mesmo o ano de nascimento de cada um de nós? Conscientes de tanta "relatividade", estamos felizes de ter nascido e concordes em esperar um 2015 d.C. de paz.
Felicidades, portanto, a todas e a todos.
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Jesus nasceu "antes" de Cristo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU