Etty Hillesum nos entrega, em tempos de grande desorientação, as coordenadas de uma fé ainda possível. Entrevista especial com Beatrice Iacopini

Etty Hillesum | Foto: Wikimedia Commons

Por: João Vitor Santos | Edição: Patricia Fachin | Tradução: Moisés Sbardelotto | 26 Janeiro 2019

 

Nas páginas que compõem os seus diários, Etty Hillesum “nos ensina a perceber a profunda unidade de tudo, razão pela qual quem se empenha a melhorar a si mesmo, na realidade, muda o mundo”, diz a filósofa italiana Beatrice Iacopini ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Segundo ela, as maldades que a jovem judia presenciou em Westerbork fez com que ela cultivasse uma “riquíssima vida interior”. Lá, diz, ela “carregou-se de primorosa ternura e, pelo menos, de compaixão pelos milhares de rostos da miséria e da dor que encontrava todos os dias, incluindo os dos agressores”.

 

Apesar de a mística de Etty não ter florescido dentro de uma tradição religiosa, Beatrice explica que, “em essência”, o caminho de Etty foi o mesmo percorrido por Teresa de Ávila e João da Cruz, “o da superação da dimensão estreita, mesquinha do próprio eu, que favorece o acesso àquela dimensão de nós em que somos a imagem e semelhança de Deus, e na qual, ao alcançá-la, somos capazes de compreender realmente o sentido profundo da vida, de amá-la verdadeiramente por aquilo que ela é, assim como ela é e de amar o próximo sem reservas”.

 

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Beatrice também faz um convite aos leitores e às leitoras: “Cada um de nós pode tentar fazer aquilo que Etty fez: cultivar e manter a própria ‘posição interior’, porque, sempre como naquela época, alguém deve sobreviver para que ‘mais tarde possa testemunhar que Deus viveu também nessa época’; e cada pessoa de fé deveria se fazer a pergunta que ela se fez: ‘Por que eu não deveria ser essa testemunha?’”.

Beatrice Iacopini (Foto: Reprodução You Tube)

 Beatrice Iacopini é formada em Filosofia e em Teologia. Atualmente leciona no ITCS Filippo Pacini - Pistoia e colabora com a Escola de Teologia da Diocese de Pistoia. Estudiosa do pensamento de Etty Hillesum, Beatrice é autora, juntamente com Sabina Moser, de Uno sguardo nuovo. Il problema del male in Etty Hillesum e Simone Weil [Um olhar novo. O problema do mal em Etty Hillesum e Simone Weil, em tradução livre] (Ed. San Paolo 2009).

 

Confira a entrevista.


IHU – Quais os maiores desafios para compreendermos o percurso de crescimento humano e espiritual de Etty Hillesum?

Beatrice Iacopini – Essa jovem judia holandesa, nascida em 1914 e morta em Auschwitz em 1943, deixou-nos um volumoso diário que ocupa milhares de páginas impressas. Além disso, felizmente, também restaram várias cartas escritas por ela a amigos. A leitura de um material tão vasto pode assustar muitos, até porque, como sempre acontece no gênero diarístico, nas páginas de Etty, encontramos reflexões poderosas, misturadas, porém, com anotações da vida cotidiana ou com trechos que ela copiava de autores particularmente próximas a ela. Assim, não é fácil traçar o fio dourado do extraordinário crescimento humano e espiritual que ocorreu nela em poucos meses, desde que – deprimida, confusa, egocêntrica – começou a se tratar com Julius Spier [1], psicoterapeuta dotado de uma notável profundidade espiritual, até quando tomou a decisão muito corajosa de pedir para ser enviada para o campo de concentração de Westerbork para ajudar os deportados como podia e, acima de tudo, para tentar “desenterrar Deus dos corações devastados dos homens”.

Depois, há uma dificuldade mais substancial: em uma primeira leitura, a posição que Etty tomou nas trágicas circunstâncias em que se encontrava vivendo pode ser incompreensível, até mesmo inaceitável. Os seus escritos são pontilhados por uma espécie de refrão, que a vida é “bela, boa, até mesmo justa”. Ressoa continuamente a determinação de rejeitar o ódio em relação aos agressores e o convite a amar os inimigos, precisamente enquanto a Europa era dilacerada pela guerra e enfureciam-se as perseguições nazistas. A escolha de não se pôr a salvo e, ao contrário, de ir voluntariamente a um campo de concentração também pode parecer uma forma de imperdoável resignação. A esse propósito, considero que é mais fácil compreender tudo isso se inserirmos Hillesum na grande tradição mística, não só cristã.

 

IHU – O que difere a mística de Etty Hillesum, que vive na chamada Modernidade, de outros místicos medievais, como Teresa de Ávila [2], João da Cruz [3], entre outros?

Beatrice Iacopini – Aparentemente, é claro, trata-se de autores muito distantes de Hillesum. Acima de tudo, ao contrário dos místicos citados por você, Etty não floresceu dentro de uma tradição religiosa específica: mesmo sendo de família judaica, não tinha sido educada na religião dos seus antepassados, nem jamais se converteu ao cristianismo ou a outra religião. Portanto, não há nela qualquer base dogmática nem uma linguagem teológica específica. Eu também acredito que é importante salientar que, enquanto esses místicos amadureceram as suas experiências espirituais dentro de ordens religiosas e, portanto, de uma vida monástica, Etty levou uma vida secular, caracterizada, acima de tudo, por uma liberdade de costumes bastante surpreendente para aquele tempo, portanto, muito diferente da de um dominicano como Eckhart [4] ou de uma carmelita como Teresa. Isso a torna particularmente contemporânea e próxima do ser humano de hoje, da qual ela é verdadeiramente irmã. Seu percurso místico – especifiquemos também que ele não tem nada de visionário ou de extático – desenvolve-se todo na dimensão cotidiana, na prosaicidade de ambientes comuns, e a sua ascese, que também está presente (ela também, assim como os grandes mestres do passado, desenvolveu um caminho de purificação de si), não tem nada de medieval.

Em essência, porém, o seu caminho foi o mesmo, ou seja, o da superação da dimensão estreita, mesquinha do próprio eu, que favorece o acesso àquela dimensão de nós em que somos a imagem e semelhança de Deus, e na qual, ao alcançá-la, somos capazes de compreender realmente o sentido profundo da vida, de amá-la verdadeiramente por aquilo que ela é, assim como ela é e de amar o próximo sem reservas.

 

 

 

IHU – No que consiste o mal em Etty Hillesum? Como ela concebe a superação do mal?

Beatrice Iacopini – A esse propósito, é preciso, acima de tudo, ter em mente que Hillesum não é uma filósofa e não escreveu tratados, mas sim páginas de diário: portanto, nunca encontramos um tratamento sistemático do problema do mal, que é abordado, em vez disso, em chave existencial, como cada um de nós faz quando é posto contra a parede pela vida e pelos dramas que ela coloca diante de nós. Desde a primeira juventude, Etty tinha vivido uma profunda desorientação: era afligida por distúrbios psicossomáticos, passava por um opressivo estado de pessimismo, de falta de sentido e de tentações suicidas. Os dois irmãos mais novos, além disso, sofriam de fortes distúrbios psiquiátricos, e ela tinha assistido pessoalmente, várias vezes, cenas chocantes que acabaram em internações forçadas. Portanto, ela conhecera o mal na forma de sofrimento existencial desde a adolescência. Mais tarde, acrescentou-se o encontro com a guerra, o nazismo, as perseguições.

 

Percurso espiritual

 

O percurso espiritual que Etty iniciou graças a Spier que a levou a uma conversão do olhar sobre aquilo que chamamos de mal: quanto mais ela ia rastreando nas suas profundezas o centro de si, mais ela se enraizava no Deus que lá havia encontrado, mais percebia que aquilo que ocorre de fora não é tão importante, se aprendermos a viver “à escuta daquilo que vem de dentro”.

A sua resposta não é filosófica: o mistério do mal, do sofrimento, da opressão do homem sobre o homem permanece insolúvel; mas nos diz que há um modo de contemplar a realidade mais profundo do que o intelectual, que permite aceitar as contradições e inseri-las na “única poderosa totalidade”, em que cada uma delas tem o seu lugar certo. Ao olhar iluminado pela luz do espírito, tudo se revela “um bem assim como é”.

Como se vê, Etty não tenta sequer elaborar alguma teodiceia, ao contrário, denuncia em cada tentativa de fundar uma teodiceia a vontade mistificadora do eu de impor as próprias leis sobre a realidade e encaixá-la em esquemas reconfortantes. Aquela que se escancara inesperadamente diante de Etty, em vez disso, é uma verdadeira via mística, ou seja, uma visão das coisas desprovida das projeções do eu. Etty compreende que, ao se renunciar a interpretar a realidade com categorias nossas, evitando de fazer violência e de criar sistemas consoladores, mas falsos, e ao se cultivar a paciência e a humildade de escutá-la profundamente, então se captam o ritmo e as leis, as profundas conexões que mantêm o todo unido, sem, portanto, eliminar o negativo, que encontra, assim, também ele, o seu lugar no todo.

O sentido, que ela mesma define como “inexplicável”, da beleza de viver certamente não pode se fundar na realidade da crônica – muitas vezes desoladora e angustiante –, mas no fato de ter afinado os sentidos espirituais que permitem perceber a corrente subterrânea que percorre a vida e que só um ouvido treinado e finíssimo pode ouvir atrás do barulho das bombas e dos tanques, atrás do clamor e do caos dos eventos cotidianos.

 

 

IHU – Que conexões podemos estabelecer entre Etty Hillesum e Simone Weil ?

Beatrice Iacopini – De certa forma, é difícil encontrar duas mulheres mais diferentes do que Etty e Simone: a primeira, sensual e extremamente feminina, “bulímica” em relação a tudo que encontrava de belo no seu caminho; a segunda, ascética, quase acorpórea, que praticamente se deixou morrer de fome. Weil, comprometida a tal ponto com o social que foi operária de fábrica e participou da revolução espanhola; Hillesum, capaz de não “fazer”, como ela mesma dizia, mas apenas de “ser”.

No entanto, a experiência espiritual delas – que floresceu, em ambos os casos, sem ter sido preparada de modo algum por qualquer caminho de tipo confessional – foi praticamente idêntica: o contato vital com o eterno permitiu-lhes viver livres dos limites e da mesquinhez dentro dos quais tudo o que é “pessoal” nos força. Ambas consideraram fundamental trabalhar pela progressiva separação do eu, para dar lugar ora à aceitação do vazio, nas palavras de Weil, ora à quietude interior, com uma expressão cara a Hillesum, vazio/quietude que contribuem para a total acolhida e aceitação de tudo o que é. Assim, o mundo e a vida se escancararam em toda a sua beleza aos seus olhos e, neles, aprenderam a ler o sinal da presença de Deus.

 

 

IHU – Etty Hillesum conserva na essência de seu fortalecimento interior uma ideia de liberdade? Como compreende esse conceito de liberdade e de que forma, na sua experiência de escuta e acolhimento, ela revela essa liberdade?

Beatrice Iacopini – Efetivamente, poderíamos ver todo o percurso de Hillesum como uma busca da liberdade, como um caminho de libertação: ela entrou na psicoterapia porque se sentia presa de um “nó emaranhado”, de uma desordem interior que lhe tornava quase intolerável viver. A terapia com Spier imediatamente fez milagres, e a sua vida começou a decorrer mais fluidamente, a desordem progressivamente cedeu espaço a uma quietude interior cada vez maior, graças à qual foi-lhe possível “repousar em si mesma”. Depois, quando começou a pôr em prática os ensinamentos espirituais de Spier, treinando-se para extinguir o “pequeno eu”, aquele eu “tão obtuso, com os seus desejos que se limitam a perseguir as satisfações mesquinhas”, ela sentiu que se escancarava o acesso a regiões de si das quais ela não conhecia a existência.

Assim, descobriu que é possível ser pátria para si mesmo, que dentro de nós existem espaços tão vastos que podem hospedar e deixar decantar, purificando-o, tudo aquilo que ocorre lá fora, tão vasto a ponto de ter lugar até mesmo para Deus. Superar o apego ao próprio eu significou para ela não dar mais ouvidos às próprias “paixões” (diante das quais, como indica o próprio termo, somos “passivos”, portanto, não livres), aos sentimentos mais baixos de inveja, ciúme, rancor, ódio – que também ela, assim como todos, sentia e sobre os quais trabalhou muito – e aos medos que fazem perder a bússola.

Assim, o fato de viver enraizada nas profundezas do eu, onde eu e Deus são a mesma coisa, presenteou-lhe uma experiência de autêntica liberdade, que ela nunca havia experimentado antes; uma liberdade tão grande a ponto de lhe permitir não odiar os nazistas e não temer as suas opressões: “Não estamos nas garras de ninguém quando repousamos nos braços de Deus”, respondia ela aos amigos que lhe imploravam para se proteger, de algum modo. Uma liberdade tão grande a ponto de se internar espontaneamente no campo de Westerbork, para compartilhar o destino do seu povo e a ponto de poder exclamar, dentro das restritas fronteiras daquele campo de concentração, que “estamos em casa em todos os lugares sob este céu, quando trazemos tudo dentro de nós mesmos”.

 

 

IHU – Que Deus é revelado através da experiência de Etty Hillesum?

Beatrice Iacopini – Antes do encontro com Spier, Etty era – como muitos hoje – essencialmente agnóstica: Deus para ela era apenas o Grande Talvez (roubo a esplêndida expressão de Thornton Wilder [6]), apenas a suspeita fugaz de uma harmonia na natureza, algo incerto e indefinido, absolutamente irrelevante.

Aprendendo a frequentar os seus lugares interiores, porém, no fundo de si, escancararam-se para ela “vastos panoramas”, amplos espaços acolhedores aos quais ela se assomou timidamente, para depois tomar posse com decisão daquele Alguém que Etty, no início, custava a chamar de Deus. Sempre me surpreende muito essa espécie de pudor linguístico: o temor de dizer “Deus”. Talvez, ela tivesse medo de que ela confundisse essa surpreendente Presença interior com aquele ser mitológico de barba, que é Deus para muitos, ou com qualquer imagem que o homem possa fazer dele. Talvez ela soubesse que esse Alguém é grande demais para poder ser encerrado em uma palavra. Depois, ela se curvou a usar aquela palavra “Deus”, porque, de algum modo, tinha que se expressar, mas especificando que se tratava apenas de “uma estrutura de serviço”.

 

 

O fato é que, de um modo totalmente misterioso também para ela, a sua vida tornou-se “um ininterrupto escutar dentro de mim mesma, aos outros, a Deus. E, quando eu digo que escuto dentro, na realidade, é Deus quem escuta dentro de mim. A parte mais essencial e profunda de mim que dá ouvidos à parte mais essencial e profunda do outro. Deus a Deus”.

Etty nos conta aqui uma descoberta: ela encontrou aquilo que os místicos chamam de fundo da alma, o lugar onde surge a identidade, a intimidade mais profunda do sujeito, onde Deus habita ou, melhor, onde, de modo misterioso, Deus e a alma são uma coisa só. Ela, que de aventuras teve muitas, dirá, depois, que Deus é “a maior e ininterrupta aventura interior” do ser humano, e que aquelas, para Deus, são as únicas cartas de amor que deveriam ser escritas.

No encontro com Deus, Etty amadureceu uma visão revolucionária, perfeitamente resumida nestas linhas esplêndidas: “Tu não podes nos ajudar, nós, ao contrário, devemos te ajudar, e é fazendo isso que, no fundo, ajudamos a nós mesmos. Tudo o que podemos salvar em tempos como estes e também a única coisa que importa é um pedacinho de ti em nós mesmos, Deus... Há pessoas – não é possível acreditar nisto! – que, mesmo no último momento, põem a salvo aspiradores, garfos e colheres de prata, em vez de se preocuparem contigo, meu Deus. E há pessoas que só pensam em assegurar o próprio corpo, que já se tornou um mero recipiente de mil medos e de mil ressentimentos. Elas dizem: não me terão em suas garras! Esquecem-se que nunca estamos nas garras de ninguém quando estamos nos teus braços”.

 

 

O Deus de Etty

 

Trata-se de uma verdadeira revolução copernicana, que coloca no centro não mais a responsabilidade de Deus, mas sim a do ser humano: “E Deus também não é responsável em relação a nós pelos absurdos que nós mesmos cometemos: os responsáveis somos nós!”. O Deus de Etty é um Deus que confia a própria presença no mundo ao ser humano, porque, sem o ser humano, nada pode fazer; é uma presença a ser cuidada e uma fonte jorrante, mas que deve ser limpada continuamente para que não se obstrua. E, quando se manifesta a tentação de não crer mais, é preciso “recolher Deus”, impedir que ele se afaste e nos abandone, por nossa causa.

É impressionante como nas páginas de Etty já está contida grande parte do debate sobre a compreensão de Deus após Auschwitz: com extraordinária lucidez, ainda no meio do grande massacre, ela não só captou a enormidade de todo aquele mal, mas também previu as interrogações que, depois, surgiriam.

Etty explora, graças à sua experiência espiritual, fronteiras teológicas particularmente atuais: ela nos fala de um Deus que não é o deus onipotente da história – no qual, aliás, hoje, não se está mais disposto a crer –, mas sim um Deus que se confia, um Deus a ser cuidado, a ser hospedado, a ser mantido vivo, que coincide com a nossa verdadeira liberdade e que nos salva de dentro de nós, mudando não as coisas e os eventos, mas o nosso olhar sobre as coisas e sobre os eventos.

Ao grito nietzschiano “Deus está morto”, com Etty poderíamos responder que é bom que ele tenha sido morto, porque ele era apenas um ídolo da nossa imaginação e, com ele, não desaparece o horizonte, de fato, ao contrário, ele é recolocado no lugar certo: não fora, mas dentro de nós, onde na realidade sempre se encontrou – por outro lado, os místicos de todos os tempos disseram isso – e de onde ninguém tem o poder de apagá-lo. Etty nos entrega, em tempos de grande desorientação e, pelo menos nas minhas latitudes, de agnosticismo generalizado, as coordenadas de uma fé ainda possível.

 

IHU – Na sua opinião, quais são os conceitos mais centrais na mística de Etty Hillesum? Por que e como compreendê-los?

Beatrice Iacopini – Vou responder usando alguns termos-chave do léxico de Etty. Comecemos com dois verbos, hineinhorchen (alemão) e verwerken (holandês), que indicam no diário duas atitudes da alma. Hineinhorchen, escutar dentro, significa se habituar a ver o que flui em profundidade, ir além da superfície dos eventos, das pessoas, de si mesmo e saber captar a verdade sem deformá-la com as projeções do eu psicológico (desejos, ciúmes, medos...); é escutar as profundezas de si e do mundo, invertendo a perspectiva comum pela qual nos deixamos guiar pelos eventos externos e não por “aquilo que sobe de dentro”. Escutar dentro requer um constante exercício de silêncio e atenção, retribuído, no entanto, pelo escancaramento de espaços interiores cada vez mais livres e inalienáveis.

O outro verbo (literalmente digerir, assimilar) é uma prática consequente à primeira e significa dar espaço e amorosa hospitalidade a toda pessoa e a todas as coisas, também àquilo que parece negativo e provoca dor. É a habilidade de recolocar também as circunstâncias e as experiências mais negativas no centro de si, impedindo-as de permanecer no nível superficial e de se apossar da pessoa, perturbando a sua emotividade. A dor assim absorvida e resolvida pode se transformar em uma peça daquela “grande bem-aventurança” que é a vida interior e desenvolver energias insuspeitadas.

Treinando-se até o ponto de fazer com que a escuta profunda e a assimilação se tornassem verdadeiros hábitos da alma, Etty aprendeu a sentir e, depois, a permanecer conectada com aquela corrente subterrânea – outra expressão recorrente e central – que, como uma música de fundo, permeia e sustenta a criação, cada criatura humana e a própria história, e na qual se manifesta a presença de Deus. É vivendo conectados com essa corrente que ganhamos o olhar mesmo de Deus sobre o cosmos e captamos, assim, a sua coerência e a sua riqueza de significado; caso contrário, perdemo-nos atrás dos detalhes e perdemos de vista as “grandes linhas”.

 

 

Essa corrente universal, que é a voz e o poder de Deus no universo, jorra em cada ser humano, nas suas fontes interiores que são a própria essência do seu ser, mas, muitas vezes, estão sepultadas por detritos e, para liberar o seu acesso, é preciso um trabalho de escavação e de remoção daquilo que ali depositam o eu e a mente, que, com o seu incessante trabalho, produzem ruminações, “representações convencionais” ou “fossilizadas” da vida e das pessoas, sentimentos apropriativos e divisivos, e, assim, estão na origem de toda insatisfação, infelicidade, pessimismo.

Permanecer conectado à corrente que permeia todas as coisas produz a atitude interior de aceitação confiante das coisas como elas são, o “abandono confiante” (gelatenheid, correspondente holandês ao eckhartiano Gelassenheit), que é uma consequência imediata, senão até a mesma coisa, da fé em Deus. O abandono confiante cria um estado de quietude e torna possível repousar em si mesmo, no próprio espaço interior, mas só é possível no desapego, que é a tarefa que cabe ao ser humano e à qual Etty se dedicou com os seus exercícios ascéticos: todo o resto é simplesmente dado a nós, sem que nós devamos fazer mais nada.

 

 

IHU – Que dimensão o amor e a compaixão universal assumem em Etty Hillesum?

Beatrice Iacopini – Com a exacerbação das leis raciais, Etty dedica muitas reflexões à sua situação e, ao contrário do que muitos lhe sugerem, sente a precisa responsabilidade pessoal de não poder aceitar soluções privilegiadas e, assim, se isentar de um destino comum. Aquilo que ela viu acontecendo com os judeus de toda a Europa, em sua opinião, tinha dimensões tão assustadoras que constituíam uma espécie de “destino de massa” que ela estava decidida a não evitar, “eliminando todos os infantilismos pessoais”: tentar proteger a si mesma parecia-lhe um comportamento fora da história e, além disso, uma covardia – como no caso daqueles judeus que se escondiam – porque “quem quer que queira se salvar deve saber, porém, que, se ele não for, outra pessoa terá que ir em seu lugar”. É evidente que não se trata de um fatalismo resignado, mas sim da convicção que se tem diante de algo muito maior do que uma questão pessoal, algo que o indivíduo não pode mudar de modo algum, senão inserindo-se nisso: “Duvido que eu me sentiria bem se soubesse que me salvaria, enquanto milhares vão morrer. Acho absurdo e ilógico tomar iniciativas [assim]”.

Etty quis compartilhar “o fardo da dor” e da história, mantendo sempre um olhar mais amplo do que as estreitas fronteiras do presente imediato e levando consigo aquela que ela sentia como sua tarefa: “Gostaria de me encontrar em todos aqueles campos que estão espalhados por toda a Europa, gostaria de estar em todas as frentes; não quero, por assim dizer, ‘estar segura’, quero estar lá, quero que haja um pouco de fraternidade entre todos esses chamados ‘inimigos’ onde quer que eu me encontre, quero entender o que acontece; e gostaria que todos aqueles que conseguirei encontrar [...] possam entender esses grandes acontecimentos como eu os entendo”.

Por isso, ela fez com que fosse enviada para Westerbork, o lugar que os judeus tentavam evitar com todas as suas forças. Lá, apesar do inferno, ela viveu uma riquíssima vida interior e de relação: carregou-se de primorosa ternura e, pelo menos, de compaixão pelos milhares de rostos da miséria e da dor que encontrava todos os dias, incluindo os dos agressores.

Bem antes de as deportações se desencadearem, Etty escreveu: “A barbárie nazista desperta em nós uma barbárie equivalente, que operaria com os mesmos métodos se apenas pudéssemos pôr em prática hoje aquilo que gostaríamos. Está em nosso poder rejeitar essa barbárie no nosso íntimo: podemos não cultivar em nós esse ódio, porque, caso contrário, o mundo não dará sequer um passo fora da lama em que se encontra”.

No campo, ela se esforçou como pôde para ajudar, mas, acima de tudo, para “desenterrar Deus dos corações martirizados”, como ela dizia. Ela chegou a escrever, com uma estupefaciente referência ao sacrifício eucarístico: “Parti o meu corpo como se fosse pão”.

 

 

IHU – Tzvetan Todorov[7] diz que Etty Hillesum rompe com uma tradição de pensamento ocidental, que enfatiza o sujeito, “que representa os outros como os instrumentos eventuais das investigações realizadas pelo eu”. A senhora concorda? E a partir do próprio texto dela, poderia nos demonstrar como propõe esse rompimento de “eu autocentrado” e exerce esse autoconhecimento capaz de acolher e escutar o outro a partir de si mesma?

Beatrice Iacopini – É uma observação bastante pertinente, e eu acho que esse aspecto é uma das muitas perspectivas de leitura de Hillesum. A história da filosofia ocidental foi, principalmente, a descoberta e a exaltação progressiva do eu e da sua força, enquanto, no pensamento indiano e oriental, em geral, sempre teve muito mais espaço a desconstrução do eu. No entanto, gostaria de salientar que, na nossa história, também é rastreável uma corrente indubitavelmente minoritária, que muitas vezes permaneceu subterrânea, que vai na direção oposta: poderíamos fazê-la partir no neoplatonismo e depois segui-la nos seus entrelaçamentos com uma certa filosofia cristã. É aquela que floresceu especialmente na mística renana-flamenga e nos autores que depois se inspiraram nela e aos quais, na minha opinião, Hillesum, de um modo mais ou menos consciente, se vincula.

Alguns intérpretes da pós-modernidade, primeiramente R. Panikkar[8], interrogando-se sobre o futuro das religiões, defenderam que o nosso século “ou será místico ou não será”: eu acho que Etty é uma das respostas mais convincentes nesse sentido.

 

IHU – Uma das cenas mais impactantes de Etty Hillesum é a descrição de quando ela joga do trem que a leva à morte um bilhete que diz “deixamos o campo [de concentração] cantando”. Como a senhora lê esse momento? E que outras cenas na história dessa mística a senhora destacaria?

Beatrice Iacopini – Certamente, o bilhete a que você alude é um testemunho altíssimo: ter a força e o desejo ainda de verter sobre o papel palavras como essas, de dentro de um vagão lotado de pessoas que vão morrer, já é, por si só, um sinal do profundo amor pela vida e pelos outros que Etty tinha amadurecido. Naquele bilhete, que alguns camponeses piedosos recolheram no campo adjacente à ferrovia e enviaram à destinatária, a amiga Christine, Etty escreveu que tinha aberto a Bíblia ao acaso: um dos últimos gestos que conhecemos dessa jovem mulher, portanto, é um gesto de entrega a Deus, através da sua Palavra. Não só isso, o versículo que ela copiou contém um significativo jogo de palavras: “O Senhor é o meu refúgio”, em que a palavra que significa “refúgio”, no holandês antigo da Bíblia, é a mesma que, em holandês moderno, significa “partida”! Etty quer dar a entender aos seus amigos que a sua “partida” está em Deus, como todas as coisas que lhe acontecem, como testemunho do “abandono confiante” de que eu falava acima.

 

 

No diário e nas outras cartas, há cenas que permanecem impressas, não tanto porque são eventos de grande porte, mas pelo seu significado espiritual: vem-me à mente, por exemplo, aquela manhã em que – ela conta isso no dia 27 de fevereiro de 1942 – ela acompanhou Spier à Gestapo. Lá, um jovem gendarme gritou contra ela não sei o quê, e ela, em vez de se assustar ou se indignar, conta ter sentido uma sincera compaixão por aquele jovem de ar atormentado e oprimido. Ou quando fala das flores, particularmente do jasmim atrás da casa, que ela tanto amava e que continua amando e, sobretudo, diria, olhando: são o símbolo da beleza da vida, da compaixão, da presença de Deus no mundo, que sempre existem, mas que é preciso saber percebê-las; e ela sabe que é importante que alguém, ainda, no meio da degradação e dos desastres da guerra e do ódio, tenha olhos para elas, porque esse olhar salva e transmite intactas às gerações futuras beleza, amor, substancialmente, Deus.

Depois, tem esse gesto tão recorrente no diário, ajoelhar-se: Spier se ajoelhava para rezar, e, assim, ela também quis tentar, mas, no início, ela não gostava desse gesto, não o sentia como dela. Um dia, no entanto, de repente, encontrou-se jogada no chão por algo maior e, a partir de então, começou a se definir como “a moça que não sabia se ajoelhar e aprendeu a fazê-lo”. Esse movimento do corpo, que para ela era de recolhimento mais do que de submissão, era o ato de quem está como que vencido pela beleza e, ao mesmo tempo, sabe conservar em si o seu segredo, e tornou-se o gesto sintetizador de toda a sua fé. Um gesto que, depois, se fez até mesmo interior, a tal ponto que, mais tarde, ela escreveu: “Nos momentos mais inesperados, alguém se ajoelha de repente em um cantinho do meu ser. Às vezes, enquanto estou caminhando pela rua ou estou bem no meio de uma conversa. E esse alguém que se ajoelha lá sou eu”.

 

 

IHU – Recentemente, a senhora editou uma nova publicação acerca dos escritos de Etty Hillesum, Il gelsomino e la pozzanghera. Testi dal Diario e dalle Lettere [O jasmim e a poça. Textos do Diário e das Cartas, em tradução livre] (Ed. Le Lettere, 172 páginas). Por que republicar os diários agora? O que essa volta ao texto de Etty Hillesum lhe revelou?

Beatrice Iacopini – Como eu dizia, os escritos de Hillesum preenchem mais de mil páginas, e nem todos estão dispostos a fazer o esforço necessário para lê-los na sua inteireza. Por outro lado, é importante demais que essa figura central do século XX seja conhecida pelo maior número de pessoas possível. A minha antologia nasce com a intenção de fornecer uma escolha de trechos ordenados por temas, de modo que esteja à disposição dos leitores e das leitoras uma espécie de mapa que possa orientá-los pelas etapas fundamentais do seu percurso espiritual. Preparar a tradução dos textos, por outro lado, permitiu-me entrar ainda mais no mundo de Etty e fazer algumas descobertas iluminadoras: por exemplo, a presença em algumas de suas páginas do termo eckhartiano Gelassenheit (na forma holandesa gelatenheid) que ajuda a demonstrar como a experiência espiritual de Hillesum se insere na tradição da grande mística cristã.

 

IHU – Quais os maiores desafios para, em nosso tempo e inspirados em Etty Hillesum, salvaguardarmos o jasmim, símbolo de beleza e vida, das poças, do ódio, da guerra e da intolerância?

Beatrice Iacopini – Aqui, quero evidenciar principalmente a realização em si da unidade que se cumpriu em Etty: a moça saiu do caos e do desespero quando encontrou o centro de si e, então, todas as contradições, as divisões foram sanadas, porque tudo ganhava luz e vida da poderosa autoridade central que reinava nela. Então, com ela, poderíamos aprender a não distinguir e opor – como fizemos durante séculos e tendemos a fazer sempre – pares de opostos, como compromisso consigo mesmo/compromisso com os outros, vida ativa/vida contemplativa, trabalhar na interioridade/compromisso social. Usando as suas próprias palavras, trabalhar sobre si mesmo não é individualismo mórbido, mas sim a única solução para o mal. Eu acho que Hillesum nos ensina a perceber a profunda unidade de tudo, razão pela qual quem se empenha a melhorar a si mesmo, na realidade, muda o mundo, e essa lição, com mais razão, deveria ser assumida pelas religiões que, mais do que nunca, têm uma grande responsabilidade, a de ensinar a superar cercas e divisões, abandonar todo espírito de proselitismo para lançar com uma só voz uma mensagem às pessoas de boa vontade, mensagem que poderíamos sintetizar assim: trabalhar sobre si mesmo para abandonar toda perspectiva egocêntrica e, assim, deixar emergir Deus, ou seja, o amor, no mundo.

 

IHU – Deseja acrescentar algo?

Beatrice Iacopini – Gostaria de concluir com uma reflexão que também é um convite. A barbárie nazista foi terrível, mas novas barbáries estão continuamente à espreita no nosso planeta (e, não nos esqueçamos, dentro de nós). Diante de violências, opressões, depredações do homem contra o homem, assim como diante das próprias tentações de ceder à intolerância, à raiva, à violência, cada um de nós pode tentar fazer aquilo que Etty fez: cultivar e manter a própria “posição interior”, porque, sempre como naquela época, alguém deve sobreviver para que “mais tarde possa testemunhar que Deus viveu também nessa época”; e cada pessoa de fé deveria se fazer a pergunta que ela se fez: “Por que eu não deveria ser essa testemunha?”.

“Eu gostaria tanto de sobreviver para transmitir a esta nova era toda a humanidade que conservo em mim, apesar dos fatos de que sou testemunha todos os dias. Além disso, o único modo que temos para preparar o tempo novo é prepará-lo desde agora em nós mesmos”: também essas palavras, tão altas, podem e devem inspirar cada leitor e leitora do diário, contra todo desencorajamento e contra toda tentação de abdicar das nossas responsabilidades.

 

Notas:

[1] Julius Spier (1887-1942): psicólogo e quirologista judeu alemão. Foi o primeiro gerente de banco do Beer, Sondheimer & Co, mas em 1925 muda sua vida e funda a Iris Edition. Segue um treinamento em canto clássico e vai para Zurique conhecer Carl Gustav Jung. Entra em análise e treina com ele por dois anos. Jung pediu-lhe que fizesse da "psicoquirologia" o seu trabalho, tendo em conta o seu dom de ler nas linhas das mãos as aptidões e o caráter do povo. Abriu em 1930 um escritório em Berlim, onde se especializou em estabelecer diagnósticos médicos a partir da morfologia e linhas da mão, e desenvolver a partir deles uma abordagem terapêutica inspirada no ensino junguiano. Depois de se divorciar de sua primeira esposa (com quem teve dois filhos, Ruth e Wolfgang), pelas perseguições nazistas, ele emigra para Amsterdã, onde sua irmã já reside. É ali que vai conhecer Etty Hillesum. (Nota da IHU On-Line)

[2] Teresa de Ávila (1515-1582): freira carmelita espanhola nascida em Ávila, Castela, famosa reformadora da ordem das Carmelitas. Canonizada por Gregório XV (1622), é festejada na Espanha em 27 de agosto, e no resto do mundo em 15 de outubro. Foi a primeira mulher a receber o título de doutora da igreja, por decreto de Paulo VI (1970). Entre seus livros citam-se Libro de su vida (1601), Libro de las fundaciones (1610), Camino de la perfección (1583) e Castillo interior ou Libro de las siete moradas (1588). Escreveu também poemas, dos quais restam 31 deles, e enorme correspondência, com 458 cartas autenticadas. Sobre Teresa, confira Teresa – A Santa Apaixonada (Rio de Janeiro: Objetiva, 2005), de autoria de Rosa Amanda Strausz; Obras completas (São Paulo: Loyola, 1995) e Santa Teresa de Jesus – “Livro da vida” (4ª ed., São Paulo: Ed. Paulus, 1983). A edição 460 da revista IHU On-Line, sob o título A mística nupcial. Teresa de Ávila e Thomas Merton, dois centenários, analisa a legado de Merton. (Nota da IHU On-Line)

[3] João de Yepes ou São João da Cruz (1542-1591): ingressou na Ordem dos Carmelitas aos 21 anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Em setembro de 1567, encontrou-se com Santa Teresa de Jesus, que lhe falou sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres. Aceitou o desafio e trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, iniciou a Reforma. No dia 25 de janeiro de 1675, foi beatificado por Clemente X. Canonizado em 27 de dezembro de 1726 e declarado Doutor da Igreja em 1926 por Pio XI. Em 1952, foi proclamado Patrono dos Poetas Espanhóis. Sua festa é comemorada no dia 14 de dezembro. Sobre São João da Cruz, confira As obras completas de São João da Cruz (Petrópolis: Vozes, 2002). (Nota da IHU On-Line)

[4] Eckhart de Hochheim, O.P. (1260-1328): mais conhecido como Mestre Eckhart, em reconhecimento aos títulos acadêmicos obtidos durante sua estadia na Universidade de Paris, foi um frade dominicano, reconhecido por sua obra como teólogo e filósofo e por seu misticismo. Ele é considerado como um dos grandes símbolos do espírito intelectual da idade média. (Nota da IHU On-Line)

[5] Simone Weil (1909-1943): filósofa cristã francesa. Centrou seus pensamentos sobre um aspecto que preocupa a sociedade até os dias de hoje: o tormento da injustiça. Vítima da tuberculose, recusou-se a se alimentar, para compartilhar o sofrimento de seus irmãos franceses que haviam permanecido na França e viviam os dissabores da Segunda Guerra Mundial. Sobre Weil, confira as edições 84, de 17-11-2003, Simone Weil Palavra Viva; 168, de 12-12-2005, Hannah Arendt, Simone Weil e Edith Stein. Três mulheres que marcaram o século XX; 313, de 3-11-2009, Filosofia, mística e espiritualidade. Simone Weil, cem anos. (Nota da IHU On-Line)

[6] Thornton Niven Wilder (1897-1975): foi um escritor estadunidense. (Nota da IHU On-Line)

[7] Tzvetan Todorov (1939): filósofo e historiador búlgaro, crítico da linguagem. Confira a entrevista concedida por ele à IHU On-Line, intitulada Os inimigos da democracia e o perigo das exigências hipertrofiadas, publicada na edição número 407, de 05-11-2012. (Nota da IHU On-Line)

[8] Raimon Panikkar: teólogo indiano, autor de, entre outros, The Unknown Christ Of Hinduism: Towards An Ecumenical Christophany. Maryknoll, Nova Iorque: Orbis Books, 1981. (Nota da IHU On-Line)

 

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