29 Abril 2008
O zoneamento ambiental da silvicultura do Rio Grande do sul, apresentado há algumas semanas, chocou, de certa forma, o movimento ambientalista gaúcho. O resultado visualizado no documento mostra uma forte pressão das papeleiras sobre o governo do estado, o qual já estava ligado às empresas desde a época do processo eleitoral. Os prejuízos que este novo zoneamento ambiental da silvicultura pode trazer ao meio ambiente rio-grandense são inúmeros, inclusive o risco de acabar com o pampa gaúcho.
“Da forma como esse zoneamento ambiental foi estruturado podem ser plantados grandes maciços florestais e isso o que impacta no ambiente natural e na paisagem rio-grandense”, manifesta-se a ambientalista Kathia Vasconcellos, que é membro do Núcleo Amigos da Terra – NAT. Em entrevista concedida à IHU On-Line, realizada por e-mail, Kathia, falou sobre os riscos que este novo zoneamento pode trazer ao meio ambiente gaúcho e sobre a forma como o documento foi conduzido.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Que tipos de ameaças ao nosso meio ambiente esse novo zoneamento ambiental pode trazer?
Kathia Vasconcellos – O zoneamento ambiental da silvicultura aprovado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) pode trazer inúmeros prejuízos por não definir o tamanho das áreas que podem ser plantadas, as distâncias entre as áreas destinadas à cultura de eucalipto e pínus e por ter eliminado a matriz de vulnerabilidade de cada unidade de paisagem. Da forma como esse zoneamento ambiental foi estruturado, podem ser plantados grandes maciços florestais, o que impacta no ambiente natural e na paisagem rio-grandense.
IHU On-Line – Como a senhora avalia a atuação das grandes mídias nesse caso do novo zoneamento ambiental?
Kathia Vasconcellos – As grandes mídias tiveram papel importante na aprovação do zoneamento ambiental da silvicultura, uma vez que, de forma geral, não aprofundou os impactos negativos das plantações florestais. O comportamento da grande mídia foi parcial, mostrando somente o lado de interesse de empresas e do governo do estado fazendo com que o cidadão comum não tenha base para ter opinião crítica sobre essa problemática.
IHU On-Line – Qual é a sua avaliação sobre as diretrizes de segurança deste zoneamento ambiental?
Kathia Vasconcellos – Este zoneamento ambiental da silvicultura não apresenta nenhuma evolução em termos de proteção ambiental, uma vez que o item mais importante, que é a área a ser ocupada, foi retirada da proposta que foi aprovada. Os outros itens que constam no zoneamento ambiental da silvicultura, de uma forma ou de outra, precisariam ser seguidos como, por exemplo, o tipo de proteção destinado à reserva da biosfera da Mata Atlântica.
IHU On-Line – O bioma do pampa gaúcho está em risco?
Kathia Vasconcellos – O bioma pampa gaúcho está em risco, sim, pela sua ocupação descontrolada, pela falta de regras de como deve ser a ocupação do seu solo, em especial as atividades agropastoris. Em minha opinião, os eucaliptos são um problema, mas não o único, nem o maior.
IHU On-Line – Quais as principais diferenças entre os três zoneamentos ambientais?
Kathia Vasconcellos – Imagino que estejas se referindo ao zoneamento original, o aprovado pelo Consema e o protocolado no Consema pelos técnicos da Fundação Zoobotânica. Neste caso, a grande diferença é a inexistência de definição do limite para ocupação das unidades de paisagem pela silvicultura, bem como a exclusão da matriz de vulnerabilidade. A versão apresentada pela Fundação Zoobotânica e não debatida é uma proposta aperfeiçoada da primeira versão do zoneamento ambiental da silvicultura.
IHU On-Line – Como a senhora analisa a atuação dos ambientalistas gaúchos nesse caso?
Kathia Vasconcellos – Muitos dos meus colegas trabalharam e continuam a trabalhar muito a questão da silvicultura. Fazem isso de forma incansável, com muita ética e dedicação. Não é fácil trabalhar "contra tudo e todos". Eles precisam de muita força e resignação para não desistir. Só os determinados resistem a tudo isso e por muito tempo.
IHU On-Line – Como o povo gaúcho deve agir diante desse problema?
Kathia Vasconcellos – O povo deve agir como um verdadeiro cidadão, ou seja, deve se informar; manifestar junto aos meios de comunicação – como os espaços destinados às cartas dos leitores dos jornais, por exemplo –, deve escrever para os políticos e para os formadores de opinião, enfim, creio que o povo gaúcho deve participar de algum movimento social. São essas coisas básicas que transformam uma pessoa num verdadeiro cidadão.
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RS. Um silêncio de angústia atravessa o deserto verde. Entrevista especial com Kathia Vasconcellos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU