O Diagnóstico Socioterritorial de Canoas foi recentemente concluído e apresentado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Esta elaboração, fundamental ao plano municipal da política de assistência social, resultou de um trabalho coletivo, que reuniu a equipe de Vigilância Socioassistencial do município, o grupo de pesquisadores do curso de Serviço Social da Unisinos e a equipe do ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Este trabalho foi iniciado em 2014 e desenvolvido em três etapas. A primeira etapa deu-se com a sistematização dos dados da realidade social do município pelas equipes responsáveis. A segunda etapa, identificada como Mapa Falado, se constituiu pela apresentação e debate dos dados com a população, serviços e redes socioassistenciais nos quatro quadrantes do município. Cada região mapeou os pontos de proteção e desproteção social e, na sequência, indicou perspectivas para as necessárias superações. A terceira etapa foi novamente de sistematização de todo o processo, revelado no relatório que apresenta o diagnóstico em três versões: completo, sintético e popular.
Quadrantes O Diagnóstico Socioterritorial apresenta dados gerais do município e tem como destaque as realidades dos territórios, que para Canoas estão distribuídos em quatro quadrantes. Desafio e compromisso assumido pela coordenadora da Vigilância Socioassistencial, AS Marlene Fiorotti de Canoas, que empreendeu na viabilização do diagnóstico com efetiva participação dos trabalhadores dos serviços e da população. O quadrante Nordeste engloba os bairros: Brigadeira, Estância Velha, Guajuviras, Igara, Marechal Rondon, Olaria e São José. O quadrante Noroeste é composto pelos bairros: Industrial, Mathias Velho, São Luiz, Centro e Harmonia. Já o quadrante Sudoeste inclui os bairros: Fátima, Rio Branco e Mato Grande. Por fim, o quadrante Sudeste abrange os bairros: Nossa Senhora das Graças e Niterói. As quatro divisões estão apresentadas no mapa abaixo:
Mapa Falado O instrumento para a coleta e análise de dados foi o Mapa Falado. “O diferencial desse trabalho foi o Mapa Falado, contribuindo para uma pesquisa participante e qualitativa”, apontou Rosângela Silva, professora e pesquisadora, que contribuiu na construção do Diagnóstico. O Mapa Falado, segundo a professora, é um método que contribui para o cotidiano do trabalho, para pensar as políticas. “É um desenho representativo do território. Uma ferramenta que permite refletir sobre a realidade”, afirmou a professora.
Foram realizadas onze oficinas para a construção do Mapa Falado. Duas delas aconteceram com os trabalhadores do SUAS – Serviço Único de Assistência Social. Uma foi com a participação de representantes de conselhos. Mas a grande maioria das oficinas, oito delas, aconteceu com a participação dos usuários dos serviços de Assistência Social e população em geral.
Proteção e Desproteção Social Através do Mapa Falado foram apontados 1.327 pontos: 810 foram indicados como pontos de proteção social, enquanto 517 foram apontados como desproteção social. A partir disso foram identificadas as prioridades do município. “Saúde, segurança, venda e consumo foram as prioridades definidas pelos participantes dos quadrantes”, pontuou Rafaela Gossler, aluna do curso de Serviço Social que colaborou com o Diagnóstico. As três prioridades foram exaltadas em todos os quadrantes, tornando-se assim prioridades para a ação do município. 70% dos participantes da construção do mapa falado apontaram o tráfico de drogas como principal questão a ser enfrentada. “Houve aumento do número de entorpecentes de 2008 a 2012. O tráfico de drogas foi posto como o principal problema a ser enfrentado em relação à segurança”, contou a professora Rosângela.
Abaixo, o Mapa com os pontos de proteção e desproteção pontuados pelos participantes e sistematizados por Roberto Nascimento Jr da equipe de Vigilância Socioassistencial:
Sobre o tráfico de drogas, também foi apontada a relação desse problema com o índice de homicídios. “O tráfico está relacionado com a concentração de homicídios, muitas vezes ocasionado pela disputa das drogas”, enfatizou Rosângela. Indicadores sobre a juventude foram pontuados, como os jovens de 15 a 24 anos que não estudam nem trabalham, e por isso estão mais vulneráveis às situações que envolvem as drogas.
A concentração de homicídios, segundo o Diagnóstico, está na região do bairro Mathias Velho e Centro, enquanto o maior número de jovens de 1 a 24 anos em situação de vulnerabilidade são nas microrregiões Fátima, Niterói, Centro/Mathias Velho. “A política social não dá conta da proteção social como um todo. A dependência química também é um problema de saúde”, acrescenta Rosângela, chamando atenção para a importância de as políticas públicas do município andarem em conjunto para resolução dos problemas.
Prioridades dos quadrantes O Quadrante Noroeste apontou como prioridade específica os alagamentos e as vagas nas escolas de educação infantil. Já no Quadrante Nordeste foi apontado como principal a cultura. “A proposta seria trabalhar a cultura a partir da vivência da população, favorecendo a autonomia e apontar a cultura como alternativa de saber”, sugeriu a acadêmica Rafaela.
O Quadrante Sudoeste apontou como prioridade o lixo. Os participantes desse quadrante apresentaram preocupação com a coleta e descarte dos resíduos. Uma sugestão, segundo o diagnóstico, foi a implementação de um Ecoponto na região. Já a preocupação específica do Quadrante Sudeste foi o CRAS – Centro de Referência de Assistência Social, que não possui uma sede própria.
Diagnóstico Socioterritorial O Diagnóstico Socioterritorial foi uma construção elaborada pelo Observatório da realidade e das políticas públicas – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em parceria com o Curso de Serviço Social da Unisinos, junto com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social - Diretoria de Vigilância Socioassistencial e Serviços do município de Canoas. Também foi apoiador do trabalho o Observatório Unilasalle Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. A assessoria da assistente social e professora Dirce Koga foi muito importante, assim como do Conselho Municipal de Assistência Social, dos usuários e trabalhadores da cidade de Canoas.
Para ter acesso completo ao Diagnóstico, acesse aqui. Também foram feitas duas outras versões reduzidas. Uma para os trabalhadores da Prefeitura de Canoas e para a Rede de Serviços socioassistenciais, e outra ainda para distribuir aos usuários dos CRAS e dos demais equipamentos das políticas sociais nas comunidades.
O principal objetivo do Diagnóstico é apontar caminhos para a atuação da política de assistência social. “Essas situações são demandas das comunidades e existe o grande desafio de articulação com as outras secretarias para atender as demandas. A área da assistência social vai ser a política do futuro por ter capacidade de dialogar com as outras políticas”, apontou Renato Teixeira, técnico e pesquisador que contribuiu na formulação do Diagnóstico.
A entrega e debate do Diagnóstico para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social foi realizada no dia 26 de junho. Na reunião esteve presente a Secretária do Desenvolvimento Social, Maria Celeste Silva, que considerou o trabalho apresentado comprometido com os dois saberes indispensáveis às políticas públicas: “Casar os dois saberes, faculdade e comunidade, para incidir nas políticas públicas do município, é o mais rico deste trabalho”, atentou a secretária.
Por Carolina Lima e Marilene Maia