'Pokémon Go' é divertimento banal que nos move, diz Pondé

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08 Agosto 2016

"Sei que deveria odiar o 'Pokémon Go', como membro da inteligência que sou. Mas não o odeio. Não porque não o ache mais uma evidência de como nos deixamos levar pelo "mal do capitalismo" e sua indústria do lazer e do divertimento banal. Mas a necessidade de divertimento é a mesma desde que que nos descobrimos Sapiens", escreve Luiz Felipe Pondé, filósofo, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 04-08-2016.

Eis o artigo.

Desde, no mínimo, o alto paleolítico (cerca de 70 mil anos atrás), tínhamos por hábito ficar sentados ao redor do fogo, à noite, após mais um dia de labuta, e rirmos uns dos outros, contarmos histórias uns para os outros, brincando, muitas vezes ingerindo substâncias que nos dessem experiências de ampliação de consciência, enfim, passando o tempo.

Somos uma espécie pré-histórica perdida no mundo contemporâneo, carregando nas costas e na alma nossa herança de sobreviventes a própria história.

Continuamos a apreciar coisas que nos façam rir, coisas lúdicas, fantasias, experiências que ampliem nosso cotidiano, mesmo que seja de mentirinha. Preferimos imagens a letras, na maioria esmagadora dos casos. O avanço da técnica é, e sempre será, o avanço da história do fogo em nossas vidas. E assim chegamos, do alto paleolítico ao 'Pokémon Go'.

Sei que deveria odiar o 'Pokémon Go', como membro da inteligência que sou. Mas não o odeio. Não porque não o ache mais uma evidência de como nos deixamos levar pelo "mal do capitalismo" e sua indústria do lazer e do divertimento banal. Mas a necessidade de divertimento é a mesma desde que que nos descobrimos Sapiens. Se existisse celular no alto paleolítico, estaríamos caçando Pokémons. O amor, a banalidade que nos caracteriza, leva muitos de nós ao desespero.

Aí chegamos a algo que talvez indique um certo avanço em nossa condição delirante de contemporâneos. Enquanto antes caçávamos de verdade, hoje corremos atrás de figurinhas na tela do celular. De longe, os inteligentes olham com desprezo esse miserável Sapiens em busca de divertimento a qualquer custo.

Mas essa moda passará. Apesar de todas as tentativas levadas a cabo –seja pelo "malvado mercado", seja pelos anjinhos do bem– de fazer de nós, bobos, uma espécie que ajudou a extinguir cerca de dez "parentes" competidores ao longo de milênios, resistirá a essa época de ressentidos, mimados e retardados.