20 Julho 2016
O arcebispo Georg Gänswein criticou o processo do imposto para a Igreja alemã, chamando de "um problema sério" a forma de lidar com as pessoas que optam por sair do controverso sistema.
A reportagem é do sítio Catholic News Agency, 18-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma longa entrevista publicada na segunda-feira no jornal Schwäbische Zeitung, o prefeito da Casa Pontifícia e secretário tanto do Papa Francisco quanto do Papa Emérito Bento XVI também falou abertamente sobre a propensão papal a observações "irreverentes" e ao tratamento midiático deles.
Números divulgados na sexta-feira mostram que o catolicismo na Alemanha continua em declínio, com cerca de 190.000 católicos que deixaram a Igreja em 2015.
Tendo em vista a situação do seu país natal, Gänswein, que é filho de um ferreiro da região da Floresta Negra, criticou a forma como o sistema do imposto eclesial no país lida com os membros da Igreja.
Ecoando preocupações expressadas repetidamente pelo Papa Bento XVI, o arcebispo Gänswein foi particularmente crítico em relação ao modo como o sistema vincula o pagamento do imposto ao pertencimento da Igreja.
A Igreja Católica na Alemanha recebeu uma coleta recorde de 6 bilhões de euros em 2015 – cerca de 6,64 bilhões de dólares americanos – apesar da redução do número de membros, em grande parte graças à força da economia alemã, que se traduziu em mais renda para os contribuintes católicos.
Quando os alemães se registram como católicos, protestantes ou judeus em seus formulários de imposto, o governo automaticamente recolhe uma parte do imposto de renda deles, que equivale a 8% ou 9% do seu imposto de renda total, ou 3-4% do seu salário.
O "imposto para a Igreja" é dado às comunidades religiosas, em vez daquelas comunidades que coletam o dízimo. A Igreja usa os seus fundos para ajudar a gerir suas paróquias, escolas, hospitais e projetos de bem-estar.
O tema é um dos vários debates que estão em curso na Alemanha e que tem estado há anos. Um aspecto particularmente controverso é como os católicos são tratados em relação a quem decide não pagar mais o imposto – por qualquer razão que seja. "Eles são efetivamente excomungados", sugeriu o entrevistador ao arcebispo Gänswein, e o prelado alemão concordou, dizendo:
"Sim, esse é um problema sério. Como a Igreja Católica na Alemanha reage a alguém que sai? Com a expulsão automática da comunidade, em outras palavras, a excomunhão! Isso é excessivo, bastante incompreensível. Você pode questionar o dogma, ninguém se preocupa com isso, ninguém é expulso. O não pagamento do imposto para a Igreja é uma ofensa maior contra a fé do que as violações dos princípios da fé?"
O prefeito da Casa Pontifícia alertou que a impressão que o sistema atual dá é esta: "Enquanto a fé está na linha, isso é bastante aceitável. No entanto, quando o dinheiro entra na equação, as coisas ficam sérias".
O entrevistador, Hendrik Groth, também perguntou se o arcebispo Gänswein ainda defende os comentários que ele fez publicamente logo após a eleição do Papa Francisco, de que, teologicamente, não seria possível encaixar uma folha de papel entre o novo papa e o seu antecessor.
"Eu tenho me feito a mesma questão. E, ao julgar por tudo o que eu ouvi e percebi, eu ainda percebo positivamente que esse é o caso. Considerando-se as linhas de base das suas convicções teológicas, definitivamente há uma continuidade."
Dadas as diferenças externas entre os dois papas, o arcebispo Gänswein disse: "Obviamente, eu também estou ciente de que, ocasionalmente, possam surgir dúvidas sobre isso, dadas as diferenças de representação e de expressão. Mas, quando um papa quer mudar um aspecto da doutrina, ele tem que fazer isso de forma clara, de modo a torná-lo vinculante."
"Princípios magisteriais importantes não podem ser mudados por meias frases ou por notas de rodapé um pouco ambíguas", disse o arcebispo alemão, aludindo à polêmica sobre a exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia. Ele também alertou: "Declarações que possam ser interpretadas de formas diferentes são arriscadas".
Reconhecendo as diferenças culturais e pessoais entre o Papa Francisco e o seu antecessor, Dom Gänswein refletiu que "é preciso simplesmente aceitar o fato de que o seu [de Francisco] modo de falar às vezes pode ser um pouco impreciso, até irreverente. Cada papa tem o seu próprio estilo pessoal".
O arcebispo disse estar certo de que o Papa Francisco não vai mudar a sua forma de falar, mesmo que, às vezes, isso "leve a interpretações bizarras".
No entanto, o arcebispo Gänswein também refletiu sobre o papel que a mídia desempenha na percepção de que o papa não é mais "tão sólido quanto uma rocha, não é mais uma âncora final".
"Incertezas, ocasionalmente, até mesmo confusões e caos, certamente aumentaram", disse ele, acrescentando que o "efeito Francisco" que alguns bispos alemães previram depois da eleição, esperando que isso levaria a igrejas lotadas e a um impulso para a vida católica na nação, "parece não ter acontecido".
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Dom Gänswein critica imposto eclesial alemão e vê continuidade entre Bento XVI e Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU