14 Julho 2016
O atual modelo de conservação da Amazônia, que não leva em conta os impactos das atividades humanas nas espécies existentes tem transformado a floresta em emissora de gases de efeito estufa. A conclusão é do pesquisador do Instituto do Homem e do Meio Ambiente (Imazon), Carlos Souza Jr. Que também participou da elaboração do artigo publicado na revista Nature sobre o tema no mês passado.
Foram pesquisadas 371 florestas de 36 microbacias hidrográficas do Pará, nas regiões de Paragominas e Santarém e participaram 18 instituições científicas de vários lugares do mundo. A conclusão é que a fragmentação das florestas, a exploração madeireira, a caça e o fogo estão empobrecendo as florestas e nem mesmo o Código Florestal, se não adotar uma nova perspectiva, poderá salvá-la.
Segundo Carlos “a biodiversidade representa vida nas florestas – essencial para sua própria manutenção”. Quando ela se perde a floresta perde também a capacidade de regeneração e sua matéria orgânica. “Como consequência, as florestas pobres em biodiversidade se tornam emissoras de gases de efeito estufa, o que contribui para o aquecimento global do planeta, além da perda da função climática”, afirma.
Degradação florestal é considerada menos agressiva do que o desmatamento podendo ser causada por cortes seletivos de árvores ou queimadas. Mesmo áreas que sofreram interferências que não são detectadas pelos satélites de monitoramento podem ter perdido até metade de sua biodiversidade, segundo o estudo.
A entrevista foi publicada por Amazônia.org, 12-07-2016.
Eis a entrevista.
Por que a escolha do Pará para começar a pesquisa? Ele se aplica em outras florestas tropicais?
Devido ao histórico de forte degradação florestal associada a exploração madeireira e a incêndios florestais. Isso também levou a vários estudos anteriores sobre o tema, ao levantamento de dados de campo e ao acúmulo de conhecimento. Os impactos na biodiversidade medidos no Pará podem acontecer em outras regiões de florestas tropicais do planeta.
Vi que a pesquisa considera que muitas das ações humanas são nocivas e são citados os desmatamentos, queimadas, etc. E outras ações, como extrativismo, produção agropecuária… também têm impactos na biodiversidade de maneira tão drástica?
Essas outras atividades afetam também a biodiversidade quando não praticadas seguindo o código florestal. Por exemplo, nas áreas que não mantém reserva legal e áreas de preservação permanente, espera-se uma redução da biodiversidade.
Qual a expectativa com a divulgação da pesquisa? Ela foi encaminhada para os órgãos públicos ambientais para que sejam repensadas as formas de fazer política ambiental? Houve retorno?
Esperamos que tomadores de decisão do poder público pautem a questão da degradação florestal em suas agendas. Programas, como por exemplo, Municípios Verdes do estado do Pará ainda não definiram metas para combater a degradação florestal. Ainda não fizemos uma apresentação formal para os órgãos ambientais, mas temos como meta ampliar a comunicação com o Ministério de Meio Ambiente e com órgãos ambientais estaduais.
Como a perda de biodiversidade impacta a floresta e consequentemente o resto do mundo?
A biodiversidade representa vida nas florestas – essencial para sua própria manutenção. Florestas que perdem biodiversidade também perdem a sua capacidade de regeneração e entrarão num processo progressivo de perda de sua biomassa original. Como consequência, as florestas pobres em biodiversidade se tornam emissoras de gases de efeito estufa, o que contribui para o aquecimento global do planeta, além da perda da função climática.
Você acha que a pesquisa influenciará áreas produtivas na Amazônia? Já que muito se fala na importância da integração lavoura-pecuária-floresta, isso também não seria uma espécie de ameaça? Em outras palavras: como conciliar a conservação e a preservação na Amazônia?
Nesse caso, temos que entender o nível de biodiversidade das florestas dessas áreas de integração. Se a biodiversidade for baixa, haverá impacto. Para conciliar, será necessário evitar a degradação florestas causada pela exploração predatória de madeira, e proteger essas florestas de incêndios.
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“Florestas pobres em biodiversidade se tornam emissoras de gases de efeito estufa”, afirma pesquisador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU