Por: André | 12 Julho 2016
De fora e sem se sentirem envolvidos, mas preocupados, os bispos argentinos acompanharam a controvérsia suscitada em torno do programa Scholas Occurrentes que, por ordem de Francisco, teve que devolver a doação de 16,5 milhões de pesos recebida do Governo. “É uma fundação pontifícia que sempre teve autonomia, sem vinculação direta com as dioceses onde atua”, precisou uma fonte episcopal.
A reportagem é de Mariano De Vedia e publicada por La Nación, 10-07-2016. A tradução é de André Langer.
Reservadamente, muitos bispos manifestam suas preocupações de ver até que ponto se expõe o Papa ao abrir vias de comunicação com atores que depois aparecem como seus porta-vozes informais. Por esse motivo, todos ficaram contentes com a entrevista que Francisco concedeu a Joaquín Morales Solá – publicada no dia 03 de julho no La Nación – na qual deixou claro que “a Sala de Imprensa do Vaticano é o único porta-voz do Papa”.
A Arquidiocese de La Plata, no entanto, nunca recebeu uma comunicação oficial da Scholas para se envolver na organização do Jogo pela Paz que aconteceria neste domingo, 10 de julho, no Estádio Cidade de La Plata e depois foi adiado. A Arquidiocese tomou conhecimento do jogo pela mídia. “Também não nos avisaram do adiamento”, explicou ao La Nación uma fonte próxima ao arcebispo de La Plata, dom Héctor Aguer.
Várias organizações colaboram nas atividades da Scholas. Segundo revelou o programa Periodismo para Todos, de Jorge Lanata, a produtora Visión Deportiva, que pertence a Lisandro Borges, associou-se à empresa Sport Más, de Roberto Sarti, na realização do jogo. Dali teria surgido a ideia de oferecer audiências com Francisco aos patrocinadores.
“A ideia nunca foi aprovada, mas vazou e chegou ao conhecimento do Papa, o que provocou um escândalo”, disse ao La Nación uma fonte eclesiástica, que desligou dessa decisão os diretores da Scholas, José María del Corral e Enrique Palmeyro.
“Ninguém pode pensar que Francisco estava a par de tudo isso. Nunca autorizaria algo semelhante”, estimou uma fonte episcopal. Na Igreja, também defendem que o programa de Lanata desnudou mais falta de esmero do que atos criminosos.
Há alguns meses, houve um concurso de desenhos sobre os valores que Francisco inspira, organizado pela Scholas e o Grupo Clarín, cujo prêmio principal, segundo destacavam as bases do concurso, era uma viagem a Roma para conhecer o Papa Francisco.
“Todos conhecem a austeridade de Jorge Bergoglio. No ano passado, proibiu lançar em Tucumán uma rifa com sua imagem para arrecadar fundos para o Congresso Eucarístico”, recordou um arcebispo de diálogo frequente com Francisco.
Vários bispos consultados pelo La Nación marcaram diferenças entre o desenvolvimento da Scholas e as atividades que Del Corral e Palmeyro desenvolveram na Escola de Moradores, quando trabalhavam em Buenos Aires com o cardeal Bergoglio.
“O trabalho da Escola de Moradores foi muito importante. Reuniam crianças de diferentes escolas e realidades sociais para refletir sobre temas da atualidade, desde o bullyng e as drogas até o problema da água e a responsabilidade cívica. Hoje, a exposição da Scholas é maior e pretende abarcar mais”, estimou um bispo.
Para o Pe. Guillermo Marcó – o único que permitiu sua identificação – é fundamental conhecer o financiamento e a transparência. “Quando a Igreja cria um programa assim, tem que pensar em como financiar o trabalho dos profissionais que intervêm. Isso acontece com qualquer ONG reconhecida”.
Mas também convidou a Scholas para aprofundar a transparência. “Você tem que explicar muito bem onde gasta o dinheiro. Às vezes, pede-se ajuda e não se sabe para que. As auditorias podem ser insuficientes: dizem quanto foi gasto e o que entrou. Mas não em que foi gasto”.
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Desconforto dos bispos argentinos com o caso Scholas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU