Por: André | 22 Junho 2016
Importante e cheia de significados, mas ao mesmo tempo singular. A viagem que o Papa Francisco fará à Armênia (entre os dias 24 e 26 de junho), onde visitará a capital, Erevan, Guiumri, a segunda maior cidade armênia e a que tem a maior comunidade católica, e, finalmente, Khor Virap, mosteiro armênio-apostólico, berço do cristianismo armênio, que se encontra a poucos quilômetros da fronteira com a Turquia.
A reportagem é de Luis Badilla e publicada por Vatican Insider, 20-06-2016. A tradução é de André Langer.
Esta será a 14ª peregrinação internacional do Papa Francisco: cerca de 50 horas no sétimo país asiático que visitará, depois da Jordânia, Palestina, Israel, Coreia do Sul, Filipinas e Sri Lanka. Trata-se da primeira etapa de uma viagem ao Cáucaso que terá uma segunda etapa na Geórgia e no Azerbaijão, de 30 de setembro a 02 de outubro. E não é um detalhe sem importância.
O Papa, de fato, considera que sua presença e missão pastorais têm sentido apenas se conseguem levar sua proximidade e sua preocupação às Igrejas e aos povos que são protagonistas da história, do presente e do passado, de toda a região, que está em uma encruzilhada entre a Ásia e a Europa. É o que indica, entre outras coisas, o comunicado oficial da Sala de Imprensa vaticana, que anunciou oficialmente as duas etapas ao mesmo tempo, embora haja entre ambas um “intervalo” de dois meses.
O texto diz: “Acolhendo os convites de Sua Santidade Karekin II, Supremo Patriarca e Catholicos de todos os armênios, das Autoridades civis e da Igreja católica, Sua Santidade Francisco se dirigirá à Armênia de 24 a 26 de junho de 2016. Ao mesmo tempo, acolhendo os convites de Sua Santidade e Beatitude Ilia II, Catholicos Patriarca de toda a Geórgia, e das Autoridades civis e religiosas da Geórgia e do Azerbaijão, o Santo Padre completará a sua viagem apostólica ao Cáucaso, visitando estes dois países entre os dias 30 de setembro e 02 de outubro de 2016”.
A expressão “completará” indica que a peregrinação foi concebida e organizada incluindo em uma só dimensão o magistério itinerante no Cáucaso.
Nestas viagens, o Papa Francisco visitará países que, em conjunto, têm cerca de 17 milhões de habitantes. Os católicos representam 3,6% dos crentes e, praticamente, vivem exclusivamente na Armênia e na Geórgia. Estes três países são as principais entidades estatais do Cáucaso, além dos territórios caucasianos da Federação Russa. A situação na região é muito complexa do ponto de vista geopolítico e sua história teve muitas dificuldades, com momentos de violência atroz.
Francisco visitará novamente uma região do mundo que faz parte dessa periferia em que muitos equilíbrios políticos, delicados e precários, se entrelaçam com interesses econômicos de grande importância, e não somente para a região, mas também para a Europa centro-oriental e o Oriente Médio.
Trata-se de uma zona periférica, uma ponte entre a Europa e a Ásia, mas que não deve ser considerada marginal, supérflua ou sem influência. Como nos países africanos que visitou em novembro de 2015, como em Lesbos ou em Lampedusa, são “áreas de encruzilhadas de rotas”, pequenas ou grandes zonas nas quais se articulam interesses econômicos, geopolíticos e culturais, além de situações de crise que, apesar de não gozarem de uma adequada cobertura midiática, têm repercussões importantes tanto no Ocidente como no Oriente.
Neste contexto, adquirem particular relevância alguns eventos do programa mediante os quais Francisco deseja expressar clara e eloquentemente sua missão pastoral, indo além das palavras. Entre estes momentos é preciso destacar os encontros com os bispos da Igreja armênio-apostólica e, em particular, com o Catholicos Karekin II, que será o anfitrião do Papa no Palácio de Echmiadzin, a única Celebração Eucarística em Guiumri, na Praça Vartanants, e a Visita e Oração Ecumênica pela Paz no Memorial do genocídio armênio (Tzitzernakaberd).
Fora do Memorial, o Papa Francisco deixará uma coroa de flores. Participarão deste momento especial grupos de crianças e jovens e alguns descendentes das 400 crianças que foram hóspedes durante vários meses, desde 1919, das Vilas Pontifícias de Castel Gandolfo na época de Bento XV e do Papa Pio XI. Na Câmara da Llama Perenne acontecerá uma breve cerimônia religiosa com cantos e leituras. Depois, será a vez da Oração do Catholicos em língua armênia, seguida da do Santo Padre em italiano. Em seguida, haverá outros cantos e a oração do Pai Nosso, que precederão a Bênção conjunta.
Também haverá outra Oração Ecumênica semelhante, mas pela paz, em Erevan, na Praça da República, onde pronunciarão seus discursos, respectivamente, o Catholicos e Francisco. Finalmente, a poucos quilômetros da fronteira turca, diante do Monte Ararate, o Pontífice e Karekin II visitarão juntos o Mosteiro Khor Virap e descerão para visitar a Sala do Poço de São Gregório o Iluminador, na qual Francisco acenderá uma vela, para depois dirigir-se em procissão à pequena capela. Neste lugar, o Catholicos entregará ao Santo Padre um candelabro. O Santo Padre, por sua vez, dará um presente ao Mosteiro. Em seguida, farão uma oração pela paz em armênio e em italiano. Finalmente, do terraço do “belvedere”, o Santo Padre e o Catholicos irão soltar pombas brancas.
O Cáucaso, em nível midiático, tem muita visibilidade de tempos em tempos devido ao conflito na região chamada de Alto Karabakh (Nagorno-Karabakh), entre a Armênia e o Azerbaijão. Mas também há outras situações de tensão, como a Abecácia e a Ossétia, além de outras situações menores, mas muito insidiosas. Depois da longa e relativa calmaria que dura desde 1994, na região pela qual passam oleodutos e gasodutos, em abril deste ano voltou a surgir a questão Nagorno-Karabakh, e, após alguns confrontos (que cobraram a vida de pelo menos 12 pessoas) os presidentes de ambos os países, Serj Sargsyan e Ilham Aliyev, respectivamente, assinaram em Viena, sob a égide da ONU, uma trégua, em 16 de maio passado. E a trégua, portanto, segue em pé.
Este conflito teve início em 1923, quando o enclave povoado principalmente por armênios cristãos foi anexado ao Azerbaijão muçulmano. A guerra durou até 1994 e foi definida como o primeiro conflito étnico-religioso no regime soviético, que presumia, pelo contrário, ter derrotado os nacionalismos. Houve mais de 30 mil mortos. Foram expulsos da Armênia milhares de azeris e do Azerbaijão milhares de armênios.
Desde 1994 estão sendo realizadas negociações, promovidas pelo Grupo de Minsk (criado pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, OSCE, liderado pela França, Rússia e os Estados Unidos), para monitorar o cessar-fogo. Formalmente, o enclave segue sendo azeri, mas de fato é independente, com fortes vínculos com a Armênia.
A Armênia teve o apoio, nesta luta política, da grande população espalhada por todo o mundo após o genocídio de 1915 e também pela Rússia. O Azerbaijão, por sua vez, conta com o apoio principalmente da Turquia.
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O Papa no Cáucaso: no centro, a oração ecumênica pela paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU