10 Junho 2016
A encíclica Laudato Si’ é um marco importante no magistério católico. Inserida no contexto do ensino social da Igreja, faz história ao repensar a questão ecológica desde questões eminentes e urgentes - mudanças climáticas, suas causas e consequências para a vida como um todo. Com suas características peculiares e seu profetismo sem precedentes convida o ser humano de modo geral repensar suas estruturas, instituições e modelos.
Francisco não reinventa a roda. Ele segue na esteira dos outros pontífices. É possível perceber certa evolução na formulação da questão e das respostas oferecidas. Contemplam-se os diversos aspectos da ecologia, entendida como criacional, ambiental e humana, até adentrar uma perspectiva integral. Nela tudo está integrado e interligado. Esse é o horizonte chave para as novas reflexões.
O inédito da Laudato Si’ não está propriamente na questão abordada, mas na forma e na opção realizada de seu enfrentamento. Desde uma perspectiva integral, redescobre-se uma dignidade própria para a questão, sobretudo no que diz respeito à fé, em seus aspectos públicos, sociais, políticos, etc. Ela não está convidada a permanecer na periferia, mas assume uma centralidade na reflexão da fé proposta pelo magistério católico.
Na ousadia de Francisco, em “dizer” assuntos importantes, da ordem do dia, temáticas não convencionais aos anseios doutrinais de muitos(as) católicos(as) encontra-se um profetismo e um brado importante: a vida de fé desconectada da experiência humana radical, e desde a perspectiva da encíclica, da interconexão com todos os seres, não surte seu efeito.
Tal proposição não está restrita aos recônditos católicos, mas amplia-se para todas as pessoas, que estão dispostas a repensar um existir nessa interconexão, exigindo assim uma mudança de perspectiva no despertar para a condição de que “tudo está interligado” e compartilha de igual dignidade. Não reside numa dependência de apropriação, mas numa “dependência” relacional na reciprocidade.
Nesse horizonte, o “dogma” ecológico torna-se um “dogma” aberto e complexo. Não fechado em si mesmo, mas aberto na provocação de novos estudos e saberes. Nele encontra-se o núcleo para caminhos futuros no compromisso de refletir sobre a dignidade de cada ser. Todos são garantidos em sua própria alteridade: cada ser possui valor em si, mas compartilha de um valor que atinge a todos (na medida em que se relacionam).
O exercício de “dizer” e de pensar a dignidade dos seres nem sempre encontra consonância na referência a todos os seres. Dentre eles, paulatinamente emerge os animais não humanos como uma questão específica e relevante, sobretudo na sua relação com os humanos. Essa relação não é salutar, em muitos dos casos, mas opressora e denigri o valor próprio desses seres. Tornam-se apenas objetos e coisas para o usufruto. Um silêncio sobressai, na Laudato Si’, deixando assim a questão em aberto.
Gilmar Zampieri, filosofo e teólogo, no Cadernos Teologia Pública, edição 110, intitulada “A encíclica Laudato Si’ e os animais” discute essa questão realizando uma leitura crítica da Laudato Si’, mostrando o alcance da ecologia integral e os seus limites quando se pensa uma questão específica como é o caso dos animais e seus direitos.
O texto está organizado da seguinte forma:
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Gilmar Zampieri. Mestre em Teologia pela PUCRS (2002), com a dissertação “O Mistério do Mal: Entre a teodiceia e a teologia”. Mestre em Filosofia pela PUCRS (1999) com a dissertação “A dialética do sensível e do inteligível na concepção do amor em Platão”. Graduado em Filosofia (1988) pela Universidade Católica de Pelotas – UCPEL. Graduação em Teologia (1988) pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF. Professor de Ética e Direitos Humanos no Centro Universitário La Salle - UNILASALLE e Teologia Fundamental na Escola de Teologia e Espiritualidade Franciscana- ESTEF.
Por Jéferson Ferreira Rodrigues
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Laudato Si’ e os Animais: uma questão em aberto? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU