30 Mai 2016
Famílias e mulheres serão a cura daquela doença do diaconato que não é mortal, embora seja masculina.
A opinião é do teólogo leigo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua.
O artigo foi publicado no seu blog Come Se Non, 28-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Como eu já tentei esclarecer em diversos posts deste blog, dedicados à compreensão da "mens" do pontificado do Papa Francisco, parece-me que as recentes "aberturas papais" sobre a exigência de um aprofundamento sobre o tema do "diaconato feminino" trazem à tona uma "diferença de abordagem ao magistério" que poderia escapar da consideração comum e sobre a qual eu gostaria de chamar a atenção.
Em particular, gostaria de subsumir esse "caso" em uma casuística mais ampla, para a qual o magistério dos últimos 25 anos, progressivamente, assumiu uma atitude cada vez mais defensiva, encastelada e desconfiada em relação a toda possível novidade no exercício da autoridade eclesial.
Assim, através de um duplo comportamento – que poderia parecer quase contraditório –, ou seja, mediante uma "inflação" e, ao mesmo tempo, uma "autonegação" do magistério, o exercício da autoridade tendeu simplesmente a confirmar a si mesmo, com estilo apologético compreensão do século XIX, reduzindo progressivamente o impacto das novidades do Vaticano II.
Isso aconteceu sobre os temas da moral sexual, da relevância da consciência, do ministério da unção dos enfermos, do sacerdócio feminino e... do diaconato.
Como se imunizar do diaconato
Analisemos rapidamente os desenvolvimentos dos últimos 20 anos:
a) Em 1998, o Papa João Paulo II tomou uma decisão assumida pela Congregação para a Doutrina da Fé – cujo prefeito era J. Ratzinger –, mediante a qual ele corrigiu o n. 1591 do Catecismo da Igreja Católica, relendo-o restritivamente e, sobretudo, criando uma "categoria ex novo", que permitia uma drástica separação dentro da ordem sagrada entre presbiterado e episcopado, por um lado, e diaconato, por outro. O preço pago por essa "operação defensiva" foi a rachadura da unidade do ministério ordenado, para defender episcopado e presbiterado da novidade diaconal.
b) Em 2009, recebendo uma indicação de João Paulo II, o Papa Bento XVI, continuando a mesma trajetória que tinha sugerido como prefeito 11 anos antes, ele também modificou o Código de Direito Canônico, nos cânones 1.008-1.009, integrando o texto em analogia com o Catecismo e reduzindo drasticamente a compreensão do "diaconato" na Igreja latina, excluindo dela a representação nas ações em nome de Cristo cabeça e oferecendo uma leitura redutora das competências em relação à liturgia, à palavra e à caridade.
A figura do diácono que emerge dessa leitura é profundamente redimensionada e separada, diríamos, por princípio, do exercício efetivo da autoridade eclesial. Mas essa operação, de fato, visa a um regresso à condição de "gestão da autoridade" típica da Igreja pré-conciliar, na qual o exercício da autoridade eclesial não era alterado por "novas competências" por parte de sujeitos que, embora pertencendo ao "clero", podem hoje estar estavelmente uxorados [casados] e, amanhã, elas mesmas "uxores"!
Um repensamento de fundo
Ora, o debate que foi aberto nas últimas semanas, em torno da possibilidade de estudar uma admissão das mulheres ao grau do diaconato, deveria provocar uma reflexão ao menos sobre três níveis da questão, determinando uma reação a essa "dobra nostálgica" assumida pelo magistério eclesial nos últimos 20 anos:
a) a compreensão sistemática do ministério diaconal
A solução catequética e canônica preparada nos últimos 20 anos poderia ostentar a pretensão indiscutível típica de uma "teologia de autoridade". Se o Catecismo e o Código dizem uma coisa, quem poderá dizer algo diferente? Mas Catecismo e Código não estão no topo da autoridade. A razão e a fé ainda têm algo a dizer a esse propósito.
Por exemplo, elas podem observar que um "ministério da palavra" – reconhecido ao diácono – dificilmente pode ser mantido ao abrigo de uma "ação in persona Christi (capitis)". O mesmo também vale para a liturgia e para a caridade. Quem preside o culto e quem anima a caridade exerce também um papel de autoridade e um magistério... justamente ao ser radicalmente servo.
Ser "Cristo-Cabeça" e "Cristo servo" não pode deixar de soar, também e necessariamente, como sinônimos. Ter tentado não distinguir, mas separar definitivamente a conformação a Cristo cabeça da conformação a Cristo servo é um "lapso dogmático" muito pesado e ao qual deveremos remediar.
Catecismo e Código estão, aqui, desprovidos de uma base sistemática à altura da tradição. A diferença clássica entre "sacerdotium" e "ministerium" suporta muitas traduções doutrinais, disciplinares e canônicas diversas, das quais a que está em vigor hoje está seguramente entre as menos felizes.
b) ordem e matrimônio em simbiose
Um segundo ponto importante, que deriva das novas aquisições conciliares, consiste em ter "embaralhado as cartas" no modo de pensar a relação entre ordem e matrimônio. Tínhamos uma representação da autoridade referida aos célibes e um imaginário da obediência referida às famílias.
Hoje, reconhecemos abertamente uma "autoridade familiar", mas ainda custamos a pensar as "autoridades eclesial" no contexto de comunhão de uma vida familiar. As famílias dos diáconos uxorados são um caso clássico de "nova realidade", complexa e rica. Obviamente, contanto que ainda se possa pensar que um "diácono uxorado" ainda tem a ver com o exercício da autoridade.
A reconstrução clerical que, desde 1998, modificou, antes, o Catecismo da Igreja Católica e, depois, o Código de Direito Canônico vai exatamente na direção oposta. Parece justamente querer excluir que essas "novidades" possam ser interpretadas como "de autoridade".
c) genus diaconale et genus foeminile.
O que dissemos é enriquecido ainda mais pela hipótese – submetida como eventualidade a ser estudada – de um acesso ao diaconato reconhecido também às batizadas. Esse terceiro nível da questão, que simbolicamente parece ser bastante relevante, no entanto, pressupõe um adequado trabalho sobre os dois primeiros níveis, que acompanhe e prepare o terceiro.
Quem realmente se interessaria na promoção da mulher ao reconhecimento oficial de "sacristã de segunda categoria"? Uma discussão séria sobre o "diaconato feminino" deveria, acima de tudo, remover os obstáculos a uma compreensão sistemática e a uma leitura também "não celibatária" do diaconato tout-court.
Deplorável confusão ou maravilhosa complicação?
É útil recordar que o motu proprio de 2009, que modificou em sentido restritivo a normativa do Código de Direito Canônico, é motivado pela "necessidade de evitar a confusão". É significativo que o "esclarecimento" foi concebido e "assegurado" por um rígido desvio ao passado. A confusão parece poder ser evitada apenas "voltando atrás".
O Papa Francisco parece se mover segundo outro aviso. Ele não se assusta nem com a discussão, nem com a "complicação". É a realidade que se apresenta com uma "complicação" que, nas suas próprias palavras, parece não ser preocupante ou "evitável", mas "maravilhosa"!
Um exercício da autoridade na Igreja, que não esteja contaminado nem pela experiência matrimonial (do diaconato permanente uxorado já possível) nem pela diferença sexual (de diaconisas possíveis no futuro) não merece, justamente, ser concebido apenas com a condição de ser desautorizado. O título do motu proprio que realizava em 2009 esse revés objetivo se intitulava Omnium in mentem. Já na época, mas ainda mais hoje, podemos reconhecer no título do documento aquela típica superabundância de retórica eclesiástica, que atribui temerariamente a todos a "intenção" e o "temor" de pouquíssimos. E que confunde a autorreferencialidade eclesial com a fidelidade à tradição.
Em uma Igreja em que o exercício da "verdadeira autoridade" é mantido apenas no pequeno e curto circuito da experiência de "homens célibes", nenhuma "amoris laetitia" pode ser levada verdadeiramente a sério. A reforma do Catecismo da Igreja Católica e do Código de Direito Canônico dos últimos 20 anos é a verdadeira causa da indiferença com que diversos ambientes clericais esnobam a Amoris laetitia.
Essa indiferença deve ser superada, porque é o sinal de um grave medo eclesial e de uma paralisia no exercício da autoridade. Reconhecer a autoridade das famílias e das mulheres é a única via para permanecer fiel à tradição, renunciando a toda hipótese de transformar a Igreja em um museu de ingresso limitado.
Um discernimento novamente possível
No documento da Comissão Teológica Internacional de 2002, encerrava-se a longa e profunda discussão dedicada ao "diaconato" com uma avaliação da ordenação das mulheres ao diaconato que soava assim: "Caberá ao ministério de discernimento que o Senhor estabeleceu na Sua Igreja se pronunciar com autoridade sobre a questão". Os procedimentos que precederam e se seguiram a essa afirmação tenderam, em vez disso, a "excluir todo discernimento", superando-o mediante um redimensionamento "original" da compreensão do diaconato, quase expurgando-o da própria "ordem sagrada".
Eu acredito que não será por acaso que o Papa Francisco – que acaba de reintroduzir no sacramento do matrimônio uma "lógica de discernimento" para enfrentar as questões da vida familiar – poderá recorrer amanhã à mesma lógica para enriquecer a experiência ministerial da Igreja Católica. O discernimento, porém, não será simplesmente uma "estratégia de inclusão", mas também uma mediação preciosa e paciente para valorizar a "diferença" de um ministério ordenado não só "atribuído a uma mulher", mas que "pode ser caracterizado por homens e mulheres casados" e que enriquece a experiência comum do ministério episcopal e presbiteral.
Precisamos de discernimento, em outras palavras, para pensar sistematicamente o "terceiro grau" do ministério, para torná-lo compatível com o matrimônio e para referi-lo a um sujeito feminino. Depois de um magistério que preferiu superar todo discernimento possível exercendo a autoridade mesmo contra toda evidência – encastelando-se catequética e canonicamente na única evidência suportável, ou seja, a autorreferencial – uma época de exercício da autoridade no discernimento pode permitir que a Igreja supere aquela rigidez que, muitas vezes, nasce do medo e do preconceito.
Famílias e mulheres serão a cura daquela doença do diaconato que não é mortal, embora seja masculina.
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Quem tem medo dos diáconos? "Caso sério" no exercício da autoridade e "sintoma" de paralisia no magistério eclesial. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU