Por: André | 25 Mai 2016
“Estou absolutamente convencido de que Maria Madalena estava apaixonada por Jesus”. O escritor e jornalista Pedro Miguel Lamet atreveu-se a romantizar a vida, e o amor, de um dos personagens menos conhecidos e, ao mesmo tempo, mais menosprezados, da história da Igreja: Maria de Madalena. Em Não sei como amar-te (Mensajero), que foi apresentado na segunda-feira – com a presença de um notável público – na Pontifícia Universidade Comillas, o jesuíta apresenta, através de 23 cartas, o que poderia ter acontecido, aconteceu, e não aconteceu, entre Jesus e esta mulher, “uma vítima, uma postergada”.
Fonte: http://bit.ly/1Wi0dh8 |
A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 24-05-2016. A tradução é de André Langer.
Um livro “profundamente belo”, como o definiu María Ángeles López, redatora-chefe da Revista 21. “Uma novela costurada com poesia”, apontou a jornalista, que agradeceu ao autor o fato de que “coloque esta mulher como protagonista e que tente ler o Evangelho com um olhar feminino”. Hoje, assim como antanho, a mulher “é postergada” em “uma instituição tão misógina e patriarcal como a Igreja”.
“Este é o século da justiça reparadora com as mulheres”, assinalou López, que denunciou como “a Igreja faz tantos esforços para enterrar as mulheres e a revolução do amor do Evangelho de Jesus”, que são necessárias as “mudanças, embora pequenas, que se pressentem desde a chegada de Francisco”.
A educadora Carmen Guaita, por sua vez, qualificou a novela de Lamet como “um livro deslumbrante”, que narra “23 cartas de amor profundo, um amor que evolui, cresce e que chega a surpreender a todos, inclusive a protagonista”. “Maria se apaixona por um homem, antes do Calvário e da Ressurreição. Apaixona-se por um homem que come, transpira e se cansa. É um amor anterior à fé”.
Para Guaita, “Maria Madalena foi uma apóstola, uma mulher muito inteligente e com um coração muito bom. Profunda, reflexiva e carnal, uma mulher que utiliza os cinco sentidos”. Uma mulher retratada “de um modo praticamente perfeito” por Lamet.
Já a teóloga María José Arana reivindicou a figura de Madalena, e agradeceu a Pedro Miguel Lamet sua tentativa de “se aproximar da vida real de tantas mulheres que sofrem, assim como ressaltar seus valores”. Porque a história que se esconde atrás de Não sei como amar-te é a de mulheres que sofrem, que levam consigo, como uma lousa, o “pecado” de Eva.
Arana destacou como Lamet une “fidelidade ao Evangelho com força e doçura literária”. “Extrai chispas do Evangelho – disse – e com o olhar fixo na mensagem. Maria Madalena é a apóstola dos apóstolos”.
Após uma série de leituras de algumas cartas, compassadas pela música e a voz de uma soprano, Lamet agradeceu a todos por sua presença na apresentação, especialmente às três mulheres que o acompanhavam na mesa, e apontou a importância de Maria Madalena na vida de Jesus e do cristianismo. “Ela esteve com ele ao pé da cruz, e é a primeira testemunha da Ressurreição. Ela recebe um dom especial que os apóstolos não receberam”.
Fonte: http://bit.ly/20AfnfY |
Um dom que, no entanto, a Igreja não soube, ou não quis, explorar. “Ela foi uma espécie de ‘batata quente’ entre os diversos setores. Eu somente quis fazê-la escrever cartas de amor para espairecer. São cartas de amor trágico, porque a vida de Jesus foi trágica”.
O autor persegue um duplo objetivo ao escrever esta novela: em primeiro lugar, “superar o tabu de identificar mulher e pecado na Igreja; em segundo lugar, “dizer que há apenas um amor”, rompendo a dicotomia entre amor divino e amor humano. E denunciando com força os abusos e a violência contra a mulher. Ontem, hoje e sempre.
Lamet não omitiu a recentemente recuperada questão do diaconato feminino. Na sua opinião, embora seja uma boa notícia o fato de que o Papa sacuda a árvore, “não se trata disso: trata-se de dar à mulher carta de cidadania na Igreja, com postos de corresponsabilidade e de autoridade”. Algo que, apesar das oposições, o jesuíta acredita que acabará chegando. “O que Francisco está fazendo é muito importante, porque qualquer longa e importante caminhada começa com um passo. E ele está sendo dado”, concluiu.
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“É necessário dar à mulher carta de cidadania na Igreja”, defende Pedro Miguel Lamet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU