16 Mai 2016
"Tenho confiança no Papa Francisco. Infelizmente, o tema do diaconato feminino não é novo, e eu não consigo me deixar levar por entusiasmos fáceis", afirma Marinella Perroni, presidente da Coordenação das Teólogas Italianas e professora de Novo Testamento do Pontifício Ateneu Santo Anselmo.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 13-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Você já marcou a data do anúncio do papa no calendário?
Eu tenho uma certa dose de ceticismo incorporado. Em suma, vamos ver quem fará parte dessa comissão e com que finalidade...
Você diz que a comissão já nasce morta?
Eu não disse isso, nem sequer pensei nisso. Tenho confiança no Papa Francisco. Infelizmente, esse tema não é novo, e eu não consigo me deixar levar por entusiasmos fáceis. Lembro, para desempoeirar a memória, que há apenas três anos, no Sínodo sobre a Palavra de Deus, houve problemas enorme, porque se falou de conferir o ministério do leitorado às mulheres, o que, em tantas partes do mundo, já se faz. A ideia de institucionalizar esse ministério fez os bispos entrarem em pane. Para muitos, parecia ser a brecha para o primeiro nível da cadeia ministerial.
Aqui, fala-se de diaconato, o que significa não apenas confiar às diaconisas a leitura do Evangelho, mas diversas outras funções...
A mentalidade corrente em certos ambientes é rígida. No entanto, Paulo diz aos Romanos: "Recomendo a vocês nossa irmã Febe, diaconisa da igreja de Cencreia. Recebam-na no Senhor (...). Deem a ela toda a ajuda que precisar". Paulo sabia usar as palavras. Na tradução feita pela Conferência Episcopal Italiana em 1974, é usada a palavra diaconisa, e não mais diácono, italianizando o termo. O pior ocorreu na tradução de 2008. A frase se tornou: "Recomendo a vocês Febe, nossa irmã da igreja de Cencreia. Recebam-na no Senhor (...). Ajudem-na naquelas coisas em que ela precisar de vocês". Em suma, dissolveram o substantivo "diácono" e transformaram-no em serviço, como se Febe fosse algum tipo de empregada doméstica. Naturalmente, não quero exagerar, mas, se a intenção é fugir do discurso do presbiterado ou não enfrentá-lo com coragem e clarividência, com a calma necessária e uma inteligência sistêmica, então, desta vez, também faremos pouca estrada.
O problema é o machismo rasteiro...
É claro que a irrupção das mulheres no cenário público pede para que se repense também o papel que elas têm na Igreja. Desde os tempos do Concílio, tudo ficou bloqueado. Ou, melhor, o Concílio também se cristalizou parcialmente, enquanto deveria ter sido um percurso vivo, de implementação harmônica e sistêmica.
Em nível acadêmico, como os estudos estão avançando?
Posso dizer que o estudo sobre os ministérios no Novo Testamento parou nos anos 1970. A própria bibliografia está parada. Até porque o que ficou claro a partir dos estudos não serve para ninguém.
Algo lentamente está se movendo...
Vamos ver como a comissão vai trabalhar. Em todo o caso, não será apenas uma questão de como ela será composta, de quantas mulheres teólogas haverá ou não, e se haverá. No mínimo, trata-se de uma real disponibilidade para a reflexão, de se ter uma mentalidade aberta. Certamente, eu preferiria que houvesse teólogas de nível internacional, capazes de falar ao mundo e se serem portadoras de uma visão global. A Coordenação das Teólogas Italianas fez, há poucos meses, um seminário próprio sobre o diaconato das mulheres, estudando o papel na Igreja antiga. Esperamos apenas que os cardeais que forem inseridos na comissão conheçam o assunto.
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"Eu confio em Francisco, mas não comemoro. Os bispos entraram em pane por muito menos." Entrevista com Marinella Perroni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU