13 Mai 2016
Se você vive em uma cidade, é provável que o ar que respira não esteja dentro dos padrões considerados saudáveis. Um relatório divulgado ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 80% da população urbana mundial está exposta a poluentes em quantidade superior aos limites recomendados. A situação é particularmente grave em países pobres do Oriente Médio e Sudeste Asiático. Já em nações desenvolvidas, a qualidade do ar vem melhorando gradativamente nos últimos anos, mas não o bastante para reverter a média global, que piorou 8% entre 2008 e 2013. No Brasil, das 45 cidades estudadas, 40 têm poluentes no ar em níveis maiores que os recomendados.
A reportagem é de Sérgio Matsuura e César Baima, publicada por O Globo, 13-05-2016.
— A poluição urbana do ar continua aumentando em ritmo alarmante, provocando estragos na saúde humana — disse Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública da OMS. — Ao mesmo tempo, a consciência está aumentando e mais cidades monitoram a qualidade do ar. Quando ela melhora, doenças respiratórias e cardiovasculares diminuem.
O estudo da OMS avaliou a qualidade do ar em mais de três mil cidades de 103 países, levando em conta dois parâmetros: as concentrações do material particulado com diâmetro menor que dez micrômetros (PM 10) e menor que 2,5 micrômetros (PM 2,5) por metro cúbico. Deles, o PM 2,5 é o mais perigoso, por chegar mais fundo no sistema respiratório, associado diretamente à maior incidência de problemas cardiovasculares. Apesar disso, a grande maioria das cidades em países pobres e em desenvolvimento, inclusive o Brasil, monitora apenas o PM 10, o que obrigou os autores do relatório a estimarem a proporção de PM 2,5 nessa medição. No caso do PM 10, o nível máximo recomendado pela OMS é de 20 microgramas por metro cúbico de ar na média anual.
De acordo com a OMS, Zabol, no Irã, é a cidade mais poluída do mundo, com o equivalente a 217 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico de ar na média anual, seguida por Gwalior e Allahabad, ambas na Índia, com 176 e 170 microgramas, respectivamente (o nível máximo recomendado pela organização é de 10 microgramas por metro cúbico na média anual). A ex-colônia britânica, aliás, é o país em pior situação em termos de poluição urbana, com 13 cidades entre as 30 mais poluídas do mundo por este parâmetro, incluindo a capital Nova Délhi, na 14ª posição. A China, que constantemente aparece no noticiário por causa da poluição atmosférica, tem cinco cidades entre as 30 mais poluídas.
Em geral, os níveis de poluição são menores em países ricos, principalmente na Europa, na América do Norte e no Pacífico Ocidental. O Brasil está em posição intermediária. A cidade com maiores níveis de poluição atmosférica é Santa Gertrudes, a cerca de 170 quilômetros da capital paulista, com 44 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico. Segundo a prefeitura de Santa Gertrudes, a principal fonte de poluição no município vem da indústria de cerâmica, precisamente no transporte de material. Em comunicado, o governo da cidade afirma que adotou medidas recentes, como a proibição do tráfego de veículos de carga com carroceria descoberta, e trabalha com as empresas para a implantação de novos sistemas de filtragem.
Os níveis de poluição também são elevados em Cubatão, na Baixada Santista, com 31 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico de ar; e Rio Claro, no interior paulista, com 26. A Região Metropolitana de São Paulo é a sexta mais poluída do país, com 19 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico. Rio de Janeiro, com 16 microgramas, e Curitiba, com 11, são outras duas capitais brasileiras que superam os limites recomendados da OMS.
— Esse tipo de poluição é extremamente grave, com consequências tanto para o sistema respiratório como cardiovascular — explica Marcos Abdo Arbex, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP. — Essas partículas, com menos de 2,5 micrômetros, são tão pequenas que atingem as regiões mais profundas do sistema respiratório, podendo provocar danos aos alvéolos. Partículas ainda menores ultrapassam a barreira do sistema respiratório para o circulatório, provocando inflamações sistêmicas.
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Com a piora da qualidade do ar, aumentam os riscos de acidente vascular cerebral, doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias crônicas e agudas. Idosos, crianças e portadores de doenças crônicas são as maiores vítimas. E os indivíduos mais ameaçados são os que vivem em países pobres. Segundo o relatório, 98% das cidades de países de renda baixa e média, com mais de cem mil habitantes, não atendem às recomendações da OMS.
— A poluição do ar é uma grande causa de doenças e mortes — diz Flávia Bustreo, diretora assistente para Saúde da Família da OMS. — Quando o ar sujo cobre nossas cidades, as populações de jovens, idosos e pobres, são as mais impactadas.
A OMS destaca que a maioria das fontes de poluição fogem do controle dos indivíduos, exigindo ações do poder público em todos níveis. Reduzir emissões industriais; elevar o uso de fontes renováveis de energia; e priorizar sistemas rápidos de transporte e deslocamentos a pé ou de bicicleta estão entre as estratégias disponíveis.
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OMS: 80% da população urbana mundial vive sob níveis nocivos de poluição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU