02 Mai 2016
O que a Igreja deve anunciar, senão a misericórdia de Deus? E como, senão com os gestos e o estilo de Jesus, que não veio para julgar e condenar ninguém? Não é o bem de que uma pessoa é portadora que conta mais do que o seu pecado e que deve ser ajudado a crescer?
A opinião é do teólogo leigo italiano Christian Albini, coordenador do Centro de Espiritualidade da diocese de Crema, na Itália, e sócio-fundador da Associação Viandanti.
O artigo foi publicado no seu blog Sperare per Tutti, 29-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Um verdadeiro "manifesto" da oposição à exortação Amoris laetitia e ao Papa Francisco foi feito pela recente entrevista com o filósofo Robert Spaemann, que considera intransponível toda proibição disciplinar sobre os sacramentos, por ser correspondente a uma violação da relação com Deus.
De acordo com Spaemann,
a Igreja, de sua parte, é obrigada a pregar a conversão e não tem o poder de superar os limites existentes mediante a administração dos sacramentos, violentando, assim, a misericórdia de Deus. Isso seria presunçoso. Portanto, os clérigos que se atêm à ordem existente não condenam ninguém, mas levam em consideração e anunciam esse limite em direção à santidade de Deus.
Nessa visão, a fé cristã, mais do que um encontro com Deus, parece ser uma ordem a ser preservada, e os sacramentos, um sistema de prêmios e de punição. A pessoa desaparece e é identificada com um ato individual, e a Igreja é dissociada da misericórdia de Deus, como se ela tivesse que seguir um princípio diferente.
Mas o que a Igreja deve anunciar, senão a misericórdia de Deus? E como, senão com os gestos e o estilo de Jesus, que não veio para julgar e condenar ninguém? Não é o bem de que uma pessoa é portadora que conta mais do que o seu pecado e que deve ser ajudado a crescer?
No encontro de Jesus com a mulher pecadora (cfr. Lc 7, 36-50), o importante, para ele, era que essa mulher fosse capaz de amar muito. Ele não lhe impõe sanções antes de acolhê-la, pregando-a naquilo que ela tinha feito no seu passado. Porque é isso que o discurso de Spaemann encerra: uma cristalização dos pecados (ou, melhor, dos pecados sexuais, porque, no fim, é disso que se trata) que bloqueia uma pessoa no seu passado e reivindica uma espécie de rebobinamento do tempo, um retorno à antes da violação da ordem.
Além disso, essa ordem é remetida a uma forma sem consideração pelo coração do ser humano (do qual, de fato, ele nunca fala) e que, para Jesus, ao contrário, era o fator decisivo (cfr Mt 6, 19-24; Mt 15, 10-20). A uma condição que, formalmente, se enquadra na ordem cristã, pode corresponder um coração cheio de trevas, enquanto a uma condição que parece ser "irregular" segundo parâmetros normativos, pode corresponder um coração que busca o bem.
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Uma Igreja sem misericórdia? Uma resposta a Robert Spaemann. Artigo de Christian Albini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU