08 Abril 2016
A visita que o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeo realizarão na ilha de Lesbos no próximo dia 15 de abril assume ampla valia não só humanitária. No passado a ilha tem sido, de fato, centro das estratégias geopolíticas do Mediterrâneo e da plurissecular contraposição entre Cristandade latina e oriental. Uma escolha por nada casual, que marcará um novo passo para uma reconciliação mais ampla.
A notícia é de Simone M. Varisco, publicada por Caffè Storia, em 06-04-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
A visita-relâmpago do Pontífice a Mitilene, principal cidade da ilha grega de Lesbos, parece agora certa, embora até hoje ainda falte uma confirmação oficial da Santa Sé. A escolha do lugar, como é evidente, está ligada principalmente ao fenômeno migratório, que não cessa de mostrar cada dia a gravidade dos seus dramas também nas costas da ilha grega e que constitui, com a sua população de 90 mil habitantes, a Lampedusa do Mediterrâneo oriental. Lesbos tem, no entanto, uma história densa de acontecimentos, em condições de enriquecer de significados o próximo encontro.
A ilha figura de fato entre os territórios que no início do século XIII começaram a fazer parte do Império latino originado do desvio da Quarta Cruzada. Proclamada pelo Papa Inocêncio III em 1198, poucos meses após a sua eleição ao sólio pontifício, esta enésima cruzada teria devido ser direcionada contra os muçulmanos na Terra Santa, mas, num cúmulo de interesses econômicos e políticos, acabou no célebre saque de Constantinopla da parte dos cruzados. Da união dos territórios subtraídos ao Império bizantino brotou o efêmero Império latino, cuja história não teria durado sequer uns sessenta anos. Fruto da mesma cruzada foi também o Patriarcado latino de Constantinopla, na frente do atualmente numeroso clero católico europeu – em ampla escala veneziano – presente na área, que substituiu o pré-existente Patriarcado Ecumênico ortodoxo, que sobreviveu somente nos territórios sob o controle bizantino.
O evento constitui um novo passo no distanciamento entre a Cristandade oriental e a ocidental. Não é, portanto, temerário pensar que a próxima visita conjunta de Francisco e Bartolomeo a Lesbos representará, ao invés, o exato oposto, mostrando-se, além do programa ainda desconhecido, como um passo ulterior do ecumenismo cristão, em condições de fornecer respostas à crise mundial e a uma humanidade golpeada por novos interesses e novos saques.
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Francisco e Bartolomeo em Lesbos: não só migrantes, também nova reconciliação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU