01 Fevereiro 2016
"Eu tenho as mãos atadas", diz Giorgio Tonini, o grande mediador da lei sobre as uniões civis na Itália.
A reportagem é de Sebastiano Messina, publicada no jornal La Repubblica, 28-01-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
No sentido de que já não há mais margem para negociações, senador?
Não, no sentido literal: eu tenho o cotovelo direito e o pulso esquerdo engessados. Eu caí em casa, não posso fazer praticamente nada. Mas vou ir a Roma para votar na lei.
Você escreveu o manifesto de fundação do Partido Democrático, mas tem às suas costas uma história católica. Se o papa e Renzi dizem duas coisas diferentes, a quem você dá razão?
Depende de qual é o terreno em que nos movemos. Para a política, decide-se no Parlamento e no partido. Para a vida espiritual, conta a comunhão eclesial. Mas seria errado se Matteo Renzi quisesse se fazer de Deus, ou se aqueles que representam Deus sobre a Terra quisessem se fazer de César. Dito isso, eu não acho que o papa seja contra as uniões civis. Ele disse que o casamento cristão representa o sonho de Deus para a humanidade.
Mas os gays não são admitidos ao matrimônio cristão...
Certamente. Mas, ao mesmo tempo, o papa sabe muito bem que, se tentarmos realizar um sonho de modo mecânico e autoritário, os sonhos podem se tornar pesadelos. Eu não vejo as outras famílias como um ataque à família "sonho de Deus". Ao contrário. Essa busca de uma estabilidade afetiva, seja hétero quanto homossexual, é a prova da força do matrimônio.
E a stepchild adoption?
É a extensão do princípio da solidariedade de casal. Faz com que o parceiro assuma a responsabilidade genitorial do outro.
Por causa dessas posições, o jornal Il Foglio o definiu como "uma sanguessuga sobre o corpo chagado de Cristo".
Eu não gosto de lê-las, mas essas coisas não me arranham muito mais. Eu respondo só à minha consciência.
Hoje, discute-se sobre uniões civis. Mas você é a favor ou contra o casamento gay?
Estamos indo na direção certa, seguindo o caminho mais sábio. Confesso que fiquei impressionado com a sentença da Suprema Corte norte-americana. Um hino ao matrimônio, quase lírico. Para chegar à conclusão de que, justamente por causa disso, nenhum ser humano pode ser privado dele, por razão alguma, mesmo que pela sua orientação sexual. Hoje, eu acho que fazemos bem em distinguir entre uniões civis e matrimônio. Mas respeito aqueles que pensam de forma diferente.
Você é uma testemunha viva da família numerosa: sete filhos. Vocês também falaram disso em casa?
As minhas filhas mais jovens se inclinam pelas uniões civis de modo militante. Eu tento moderá-las um pouco, mas elas têm uma abordagem muito forte e determinada.
Assim, você estará treinado para a mediação, que antigamente era considerada como um vício de Doroteu, senão até como um fruto envenenado do cinismo de Andreotti.
Para alguns, conservar o poder é mais importante do que as soluções que você dá para os problemas Mas eu me considero um neto de Moro. E ele nos ensinou que a mediação alta é o contrário do compromisso por baixo. A mediação tem duas alternativas: o compromisso ou a guerra. Eu não gosto nem de um nem da outra.
Portanto, você é um mediador por vocação.
O Partido Democrático nasceu para superar as barreiras entre pessoas laicas e católicos, com base no princípio de que se unir para buscar uma solução com honestidade e seriedade dá resultados melhores do que as contraposições frontais. Para mim, a mediação é um valor. O próprio cristianismo é mediação: Cristo é Deus que se fez homem, a mediação por excelência.
Se um dos seus sete filhos lhe dissesse: "Pai, eu sou gay", o que você lhe diria?
Veja, o mais difícil para um pai é aprender a entender que cada filho encontra o seu caminho sozinho, que descobre os seus instintos sozinho. Você o ajuda, fica perto dele, mas, depois, cada um constrói a própria vida. Devemos respeitar tudo isso. E entender que o que forma a pessoa é a liberdade.
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"Eu, católico e senador favorável às adoções gays." Entrevista com Giorgio Tonini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU