Por: Jonas | 29 Janeiro 2016
Em breve, seu turbante, seu rosto de estudioso, sua barba, a expressão séria e serena serão normais nas aulas e corredores da que é por excelência a Universidade do Papa. O aiatolá Mahmoud Taghizadeh Davarí será o primeiro professor convidado da Pontifícia Universidade Lateranense e se ocupará em desenvolver um projeto de pesquisa para comparar a teologia social xiita e a católica.
Fonte: https://goo.gl/cd1itq |
A reportagem é de Paolo Affatato, publicada por Vatican Insider, 27-01-2016. A tradução é do Cepat.
O professor Davarí é diretor do Instituto de Estudos Xiitas em Qom, cidade sagrada ao sul de Teerã, e parece que sua chegada é iminente. Sua permanência em Roma se apresenta bastante longa: uns dois anos, ou seja, tempo mínimo necessário para uma pesquisa acadêmica.
Sua presença no corpo docente e nas relações com os estudantes do ateneu pontifício será, sem dúvida, um enriquecimento cultural: é especialista em estudos islâmicos e sociólogo. Davarí tem uma longa experiência como docente e como estudioso da teologia islâmica social em geral, com uma atenção especial aos aspectos culturais e sociais das comunidades xiitas.
Iraniano de nascimento, fala com perfeição o árabe e, graças a seus estudos especializados na Inglaterra, o inglês. Ensinou na Universidade de Teerã, nas faculdades de Ciências sociais e Direito, mas também de Filosofia e comunicação, devido à relação entre os estudos sociais e os estudos sobre os meios de comunicação.
Publicou dezenas de ensaios e textos, além de diferentes artigos em influentes revistas acadêmicas, participou de importantes congressos e conferências internacionais. Seu interesse pelo estudo comparado do mundo cristão começou em 2003, quando participou de um volume coletivo, publicado em Londres, intitulado “Católicos e xiitas em diálogo”.
Davarí é uma personalidade de relevo inclusive do ponto de vista institucional (de 2011 a 2015 foi membro permanente do Comitê de cultura e civilização do Islã, no Conselho Supremo da Revolução Cultural) e midiático, uma vez que é um intelectual que concede entrevistas, além de ter dirigido algumas revistas científicas.
Um professor visitante xiita pelos corredores da Lateranense é um dos últimos frutos do acordo assinado em abril do ano passado pelo reitor Enrico Dal Covolo e Seyed Abolhassan Navvab, chanceler da Universidade das Religiões e Denominações (UED) de Qom.
O primeiro ato deste acordo foi um evento acadêmico conjunto, que se realizou em princípios do Jubileu da Misericórdia em Roma: professores da Lateranense e professores da Universidade de Qom se reuniram para compartilhar suas reflexões sobre a teologia da misericórdia no cristianismo e no islã.
O acordo estabelece, além disso, um intercâmbio entre professores e estudantes das duas universidades. Segundo Dal Covolo, o acordo representa “um passo fundamental no caminho do diálogo inter-religioso em nível acadêmico”. E justamente sob o signo desta mudança cultural, o ateneu pontifício abriu suas portas aos representantes do islã xiita, durante um ano jubilar que deve se distinguir por uma “recíproca colaboração”.
A cooperação em nível acadêmico faz parte do marco positivo e do “diálogo construtivo” entre a Santa Sé e o Irã, explicou o Núncio apostólico no Irã, Leo Boccardi, que se encarregou de facilitar as relações entre o ateneu católico e o ateneu xiita.
A confrontação científica com o pensamento, a filosofia e a teologia islâmicos é considerada “um enriquecimento comum para favorecer um conhecimento recíproco, tanto em nível de docentes e alunos, como nas publicações”, apontou Boccardi.
O interesse pela cultura e a tradição cristã já são notáveis neste âmbito: as bibliotecas dos centros de pesquisa e das universidades xiitas estão cheias de textos de teologia católica, traduzidos ao farsi, começando pelas grandes obras como as de São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.
Graças a uma equipe de pesquisadores da Universidade das Religiões e Denominações de Qom, pôde-se realizar um projeto muito significativo: a tradução ao farsi de todo o Catecismo da Igreja Católica.
O projeto, em colaboração com a nunciatura de Teerã e com a assessoria do salesiano Franco Pirisi (que trabalha no Irã há mais de 40 anos), conta com uma introdução do cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.
Entre os mais de 2.000 estudantes do moderno campus de Qom, há vários que desejam e se empenham para estudar a fé, a cultura e a teologia católicas. E agora, para todos eles, abrem-se as portas de Roma e do Vaticano.
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Irã. Um aiatolá na Universidade do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU