Por: Jonas | 28 Janeiro 2016
O fujimorismo, que entre 1990 e 2000 encabeçou um regime autoritário marcado pela corrupção e violações aos direitos humanos, ameaça retornar ao poder. Já havia passado perto em 2011, quando Keiko Fujimori (foto) ficou em segundo lugar e perdeu no segundo turno para o atual presidente Ollanta Humala. Agora, próximo das eleições de abril, a filha do prisioneiro ex-ditador Alberto Fujimori lidera todas as pesquisas, com um apoio que está entre 30 e 35%. Está sólida no primeiro lugar, mas não é o suficiente para ganhar a presidência e precisaria enfrentar um segundo turno.
A reportagem é de Carlos Noriega, publicada por Página/12, 25-01-2016. A tradução é do Cepat.
Segundo três pesquisas recentes, há uma dura briga pelo segundo lugar, que permite o outro passo para o segundo turno. Pedro Pablo Kuzcynski, economista e gestor de interesses empresariais, tem de 13 a 14% (das intenções de voto). Para César Acuña, um milionário caudilho provinciano, que com um populismo de direita e muito dinheiro metido na campanha está surpreendendo nestas eleições, as pesquisas apontam de 10 a 15% (dos votos). Em seguida, vem o ex-presidente Alan García (1985-1990 e 2006-2011), paralisado entre 6 e 8%. Perto de García, e subindo de forma surpreendente nas últimas semanas, está o jovem economista Julio Guzmán, que se tornou o novo rosto da direita econômica, que no último mês subiu de 2 para 5%, o que o colocou nos meios de comunicação e na disputa. O ex-presidente Alejandro Toledo, acabrunhado por acusações de enriquecimento ilícito durante seu governo (2001-2006), não parece ter futuro com seus 3%. O situacionista Daniel Urresti tem apenas 2% e sem muitas perspectivas de subir. Até aí todos concordam em defender a continuidade do modelo neoliberal. A exceção ao discurso neoliberal dominante nesta campanha vem da jovem congressista Verónika Mendoza, do esquerdista Frente Ampla, que tem 2%, mas com potencial para subir, segundo os analistas. Depois, vem o pelotão dos outros. São 19 candidatos.
O que explica o alto apoio a Keiko Fujimori, depois que a ditadura de seu pai, de quem é herdeira política, terminou em meio a graves escândalos de corrupção e violações aos direitos humanos?, perguntou o jornal Página/12 a dois analistas.
“O governo de Alberto Fujimori terminou há mais de 15 anos e muitos daqueles que têm entre 18 e 34 anos não sabem o que foi esse governo. Em segundo lugar, não se pode esquecer que Fujimori foi o presidente que fez o maior uso do clientelismo e, por isso, um setor tem uma boa recordação de sua gestão. Em terceiro lugar, porque Keiko, diferente do restante que se ocupou com outras coisas, está fazendo campanha há cinco anos. Keiko tem apoio por causa do pai e por ela mesma, construiu uma imagem de maior diálogo em relação ao fujimorismo, que para um importante setor é bastante aceitável”, responde o analista político Fernando Tuesta, catedrático da Universidade Católica.
“O fujimorismo é o neopopulismo, ou seja, um populismo de direita, o mais forte da América Latina. O apoio a Keiko tem muito a ver com esse populismo e o clientelismo que houve no governo de Fujimori. Seu apoio está fundamentalmente nos setores rurais e urbanos mais baixos. Keiko se distanciou do fujimorismo mais duro, está mudando a imagem mais autoritária de seu partido, não acredito que seja uma mudança real, mas como estratégia eleitoral está lhe dando resultados”, destaca o especialista em comunicação política e diretor da consultora Vox Populi, Luis Benavente.
Sobre a disputa pelo segundo lugar, Tuesta disse que “o melhor posicionado é Acuña, que veio crescendo e tem apoio nos setores provincianos e populares. Ele está utilizando bem sua história de pessoa humilde que teve êxito em um contexto de adversidade, é a imagem de um peruano emergente e isso o favorece”.
Benavente coloca Kuczynski como o outro favorito para passar ao segundo turno. O problema do economista é que sua candidatura não consegue se conectar com os setores populares e que seu apoio se concentra fundamentalmente nos níveis médios e altos, o que, caso não mude, limita o seu crescimento.
Sobre o ex-presidente Alan García, os dois analistas concordam que o escândalo dos “narcoindultos” (os indultos dados por García em seu segundo governo para mais de 3.000 sentenciados pelo narcotráfico) o golpeou de forma muito dura. “Isso foi fatal para ele”, disse Tuesta. O ex-presidente tem uma rejeição que chega a 70%. Para Tuesta, García “está muito desgastado” e dificilmente conseguirá subir.
Tuesta e Benavente concordam que Julio Guzmán, favorecido por se posicionar como “a novidade” em eleições nas quais o eleitor procura algo novo, tem margem para continuar crescendo e poder brigar por um lugar no segundo turno.
Na opinião de Benavente, a esquerdista Verónika Mendoza tem possibilidades de crescer e se meter na briga. “Ela – destaca – é uma candidata muito atrativa, mas não tem uma boa estratégia de campanha. Seu discurso é muito racional, isso é bom, mas no Peru não funciona para conseguir votos. Esse discurso de tom acadêmico não está conectado com os setores populares. Caso mude sua estratégia, pode explorar e se colocar na briga. No país, há uma demanda por mudança e uma opção de esquerda bem trabalhada deveria estar na disputa para passar ao segundo turno”.
Ainda há um alto nível de indecisos e adesões pouco sólidas aos candidatos. Somando ambos, destaca o diretor de Vox Populi, chega-se a 60%. Isso deixa o jogo ainda muito aberto.
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Peru. O fujimorismo ameaça voltar ao poder - Instituto Humanitas Unisinos - IHU