22 Janeiro 2016
As cerca de sete mil ilhas e o mar quente do Caribe guardam milhares de espécies endêmicas, além de serem o lugar de trânsito de aves migratórias, toda uma fauna cuja conservação exige ações multilaterais na era do aquecimento global.
A reportagem é de Ivet González, publicada por IPS, 20-01-2016.
Para essa meta trabalha o Corredor Biológico no Caribe (CBC), um projeto governamental entre Cuba, Haiti e República Dominicana, criado em 2007 com a cooperação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da União Europeia, a fim de realizar ações práticas em beneficio de toda a área.
“Porto Rico deverá fazer parte do corredor este ano”, informou à IPS o biólogo cubano Freddy Rodríguez, que participa da iniciativa. A ilha, Estado livre associado dos Estados Unidos, apresentou, ao final de 2015, uma carta oficial pedindo a adesão ao projeto de conservação sustentável.
“É questão de tempo a entrada de novos sócios, o que é incentivado desde o início. Sempre participam alguns países como observadores”, explicou o especialista do CBC, cuja Secretaria Executiva tem sede na fronteira dominicana com o Haiti. Nesse último caso, afirmou, estão Bahamas, Dominica, Jamaica e Martinica, que expressaram seu interesse de unirem-se ao Corredor.
A região caribenha já está predisposta às elevadas temperaturas, segundo fontes científicas, porque os movimentos do vento e das correntes marítimas fazem da região uma espécie de panela que mantém o calor durante todo o ano. E a situação será pior devido aos prognósticos de temperaturas mais altas devido à mudança climática, fenômeno causado pela atividade humana e que provoca grandes desajustes como eventos extremos.
A inigualável biodiversidade caribenha está cada vez mais em risco por esse problema global, que trouxe mudanças na época de floração, nos padrões migratórios e até na distribuição das espécies. No entanto, o Corredor atesta ao mesmo tempo os esforços crescentes das pequenas e pobres ilhas do Caribe para conservar seu patrimônio natural único, como o longo caminho que falta para recorrer na integração regional com vistas à conservação.
O CBC, em seus 1.600 quilômetros lineares, passa pela Reserva de Biosfera Jaragua-Bahoruco-Enriquillo e a cordilheira Central, na República Dominicana, pelas áreas protegidas do maciço de Selle, o lago Azuei, Fore et Pins, La Visite e o maciço Norte Central, no Haiti, e pelo grupo orográfico de Serra Maestra, Baracoa, Nipe e Sagua, em Cuba.
Graças a estudos realizados, os investigadores vinculados ao Corredor já registram os danos causados na natureza por eventos extremos como o furacão Sandy, que passou pelo leste cubano em 2012, e a severa seca de 2015, que afetou a região caribenha. Rodríguez contou que foram realizadas mais de 60 ações de capacitação, tanto com comunidades como com funcionários dos três países, das quais participaram convidados de outras nações caribenhas.
Contam também com um site que recopila resultados de pesquisas, boletins, uma base de dados e mapas do Corredor. “Outras pessoas e instituições dizem que a principal contribuição do CBC foi criar uma plataforma de colaboração em matéria ambiental, que não existia no Caribe insular, e criou a possibilidade de os ministros de ambiente se reunirem todos os anos para revisar os avanços e assuntos pendentes”, acrescentou o especialista, assegurando que “tentamos crescer na colaboração Sul-Sul”.
O Caribe insular é uma região multicultural e mestiça, que fala espanhol, inglês, línguas crioulas, holandês, francês e crioulo haitiano. É composto por 13 Estados livres e 19 dependências territoriais dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Holanda. Essas diferenças, junto com o pesado fardo do subdesenvolvimento, interferem no cuidado do reservatório natural da área, uma das oito zonas com maiores valores de biodiversidade identificadas no continente americano, entre outras razões, por serem altamente endêmicas.
Para cada cem quilômetros quadrados, especialistas registram 23,5 plantas que só podem ser encontradas nas Antilhas, um arco de ilhas que vai do sul da Flórida, nos Estados Unidos, até o norte da Venezuela, já na América do Sul. O território, que no total soma 234.124 quilômetros quadrados, é a casa de numerosos répteis, aves e anfíbios únicos, bem como de uma fauna e flora diminuta.
Vista do Mar do Caribe, na República Dominicana, perto da fronteira com o Haiti na ilha La Espanhola, que é compartilhada pelos dois países. As cerca de sete mil ilhas caribenhas guardam milhares de espécies endêmicas, cuja preservação se complica pela mudança climática.
O plano de desenvolvimento de 2016 a 2020 também pretende continuar as pesquisas sobre a mudança climática e expandir para os ecossistemas marinhos. Os quatro milhões de quilômetros quadrados de oceano nas Antilhas são qualificados como o centro da diversidade marinha do Atlântico, segundo o Fundo de Alianças para Ecossistemas Críticos.
As águas do Caribe contêm mais de 25 gêneros de coral, 117 esponjas, 633 moluscos, 1.400 peixes, 76 tubarões, 45 camarões, 30 cetáceos e 23 espécies de aves marinhas. Outros reservatórios de vida estão nos milhares de quilômetros de arrecifes, mangues e até 33 mil quilômetros quadrados de leitos de pastos marinhos.
“Como dominicano, não tinha tanta experiência nem havia escutado sobre o ambiente do Caribe”, contou à IPS o estudante de administração Manuel Antonio Feliz, que participou de cursos do CBC. “As capacitações abriram meus olhos sobre as riquezas naturais de nossas ilhas”, afirmou.
“Falamos mais do urso branco e da perda de seu habitat no polo norte, do que da rã ou do solenodente (um dos mamíferos mais raros do mundo, endêmico das Antilhas). Os caribenhos desconhecem os valores que temos nas mãos”, pontuou o pesquisador cubano Nicasio Viña em uma conferência para um grupo de comunicadores na capital dominicana da qual a IPS participou.
Viña, diretor da Secretaria Executiva do CBC, explicou que iniciativas como o corredor exigem pelo menos 30 anos de trabalho para se solidificar. E exortou a se “pensar em sistema de conservação, devido à extraordinária importância e responsabilidade que os seres humanos têm sobre a biodiversidade caribenha, pelo que fizemos e pela mudança climática”.
O Corredor já conta com três centros de propagação vegetal em cada um dos países membros, onde são obtidas mudas de espécies autóctones para reflorestar, entre outras, as áreas beneficiadas com os chamados projetos-pilotos. Estes acompanham comunidades dominicanas, haitianas e cubanas para encontrar um sustento econômico amigável com o ambiente, além de restaurar o entorno degradado.
Até o momento trabalham nos assentamentos cubanos de Sigua (Santiago de Cuba) e da Reserva Ecológica Baitiquirí (Guantânamo), nas comunidades de Pedro Santana, Paraje Los Rinconcitos e Guayabo, todas na província dominicana de Elías Piña, e nos povoados haitianos de Dosmond e La Gonave.
A biodiversidade do Caribe insular
• Tem 703 espécies ameaçadas, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
• Serve como área de invernada e criadouro para espécies migratórias do Atlântico Norte, como a grande baleia jubarte, que se reproduz no norte do Caribe.
• Vários pontos de seus territórios são a parada de milhões de aves migratórias, em suas viagens entre as Américas do Norte e do Sul.
• A população caribenha depende da riqueza das frágeis áreas naturais para uma variedade de benefícios, como prevenção do risco de desastres, disponibilidade de água doce e arrecadação com turismo.
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Biodiversidade e mudança climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU