21 Janeiro 2016
“Não denuncio a perversão moral dos mais ricos e seus colaboradores. Denuncio a perversão do sistema. E denuncio, portanto, todos que desejam que este sistema funcione melhor. Porque isso é o mesmo que desejar que se aumente a desigualdade, o sofrimento e a devastação” escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 19-01-2016. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
Eis o artigo.
Em 18 de janeiro, 2016, tornou-se conhecido em todo o mundo o relatório da Oxfam, que leva o titulo: “Uma economia a serviço de 1%”. Isto significa que a economia mundial está sendo gerida de maneira que se tornou o sistema econômico, político e jurídico mais violento e desonesto que a história já conheceu.
Nunca houve no mundo tantos tiranos, nem ditadores, dotados com um poder semelhante e de cuja conduta seguiram-se consequências tão mundialmente destrutivas e causadoras de tanta devastação, tanta humilhação, tanta desigualdade, tanto sofrimento e tanta morte. Nós não estamos falando sobre os campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial. O que temos diante de todos, e aos olhos de todos, são as nações e continentes de extermínio, dos quais as 62 pessoas mais ricas do mundo (e seus mais próximos colaboradores) sabem que poderão seguir concentrando riqueza com base de que mais de 3 bilhões de seres humanos se vêem a cada ano mais limitados em suas possibilidades de seguir vivendo.
Com um agravante estremecedor. Não se trata somente de reduzir a população mundial pela metade. O que estamos vendo é que um genocídio, que ninguém poderia imaginar, está sendo levado adiante, aceitando inclusive que o planeta terra está irremediavelmente dilacerado e sem remédio para sempre.
Não denuncio a perversão moral dos mais ricos e seus colaboradores. Denuncio a perversão do sistema. E denuncio, portanto, todos que desejam que este sistema funcione melhor. Porque isso é o mesmo que desejar que se aumente a desigualdade, o sofrimento e a devastação.
Por outro lado – e isto é o mais importante que quero destacar aqui –, eu me pergunto se neste desastre as religiões têm responsabilidade. É claro que a têm. Por causa da responsabilidade que temos neste espantoso desastre, por sermos pessoas que nos consideramos cristãos. Por nosso silêncio ante as autoridades civis e autoridades religiosas. Porque, com frequência, “legitimamos” ao sistema colaborando com ele. Porque utilizamos a religião, com seus rituais e cerimônias para tranquilizar as nossas consciências. E se a tudo isto acrescentarmos a consciência de submissão e subordinação, que implica a experiência religiosa, entende-se que as hierarquias dominantes, em cada religião, veem-se legitimadas a viver na contradição de muitos líderes que, em muitos casos, vivem exatamente ao contrário do que representam e praticam.
A consequência, que se segue do que foi dito, torna-se cada dia mais preocupante. As religiões têm derivado de sistemas de poder que, na situação atual, se quiserem se manter tal como sobrevivem agora, não têm mais remédio a não ser viverem integradas na contradição canalha do sistema dominante. E isto continuará sendo assim, por mais que as religiões preguem o contrário ou publiquem documentos de protesto ou denúncia. Enquanto os crentes não entrarem em contradição com este sistema devastador, inevitavelmente nos faremos cúmplices de suas consequências de destruição e morte.
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“A religião e uma economia a serviço de 1%” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU