13 Janeiro 2016
"É um livro muito bonito que nos 'misericordia'." Um livro a ser "levado no bolso", a ser "lido em cinco minutos, quando o trem está atrasado...". Assim diz Roberto Benigni na apresentação do livro O nome de Deus é Misericórdia. Uma conversa com Andrea Tornielli de Sua Santidade Francisco.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada no sítio Vatican Insider, 12-01-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O comediante toscano disse estar emocionado por estar presente "no menor Estado do mundo com o maior homem do mundo". "Não se pode falar moderadamente do papa. Ele é um revolucionário, é maravilhoso. Eu fiz de tudo para vê-lo", disse ele sobre Francisco, que durante a última homilia de 2014 citou Roberto Benigni, na época, envolvido com a série Os 10 mandamentos na televisão, chamando-o como "um grande artista italiano".
A fala de Benigni é vulcânica e divertida. "Só ao Papa Francisco podia vir à mente apresentar um livro com um cardeal vêneto, um prisioneiro chinês e um comediante toscano...", disse ele, referindo-se às pessoas que, antes dele, intervieram, no Instituto Patrístico Augustinianum: o cardeal Pietro Parolin e o preso chinês Zhang Agostinho Jianqing. A apresentação foi moderada pelo padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.
"Quando eu era pequeno, eu queria ser sacerdote", conta Benigni. "Quando me perguntavam na escola: 'O que você quer ser quando crescer?', eu respondia: 'Papa'. Todos começavam a rir, então eu entendi que devia ser comediante...", acrescentou, entre as risadas da plateia.
Sempre com a sua verve inimitável, o ator e diretor toscano também contou sobre o telefonema recebida do Vaticano para a sua fala na apresentação de hoje: "Quando eu ouvi 'Sua Santidade', eu nem quis saber aquilo que se seguia e logo disse que sim. Estou disposto a ser guarda suíço, motorista para Francisco...".
"Quem está em busca de revelações talvez vai ficar um pouco decepcionado ao folhear estas páginas", alerta o cardeal Parolin, porque este "não é um livro em que Francisco conta curiosidades inéditas ou anedotas particulares sobre si mesmo. Também não se trata de uma entrevista abrangente, sobre questões de atualidade que dizem respeito à vida da Igreja e do mundo, como geralmente acontece nas coletivas de imprensa no avião, durante os voos de retorno dos países visitados".
Em vez disso, é um livro "com o qual o papa nos abre o seu coração. Ele quer nos deixar entrar, quase tomando-nos pela mão, no grande e confortante mistério da misericórdia de Deus. Um mistério tão distante dos nossos cálculos humanos, mas tão necessário e esperado por nós, peregrinos perdidos nestes tempos de desafios e de provas".
Continua Parolin: "'A misericórdia é verdadeira', diz o papa respondendo a uma pergunta do entrevistador sobre a relação entre misericórdia e doutrina. A misericórdia, acrescenta Francisco, é 'a carteira de identidade do nosso Deus': uma expressão exemplificativa, uma imagem que nos ajuda a compreender o porte real dessa verdade cristã. A carteira de identidade, de fato, nos define, descreve as noções básicas e objetivas que se deve saber sobre cada um de nós".
O cardeal assegura: "O livro que hoje apresentando pode ser lido facilmente: ele introduz tanto o crente quanto o não crente no mistério da misericórdia de Deus". Além disso, representa fielmente "o seu principal autor, isto é, o Papa Francisco: de fato, é um livro que abre portas, que quer manter abertas as portas e indicar possibilidades que ele desejar, ao menos, fazer piscar, senão brilhar, o dom gratuito da infinita misericórdia de Deus, sem a qual 'o mundo não existiria', como disse uma velhinha – uma 'abuela' – ao então Dom Bergoglio, há pouco tempo como bispo auxiliar de Buenos Aires: episódio que o Santo Padre contou no seu primeiro ngelus, no domingo, 17 de março de 2013, que repetiu recentemente em uma homilia de Santa Marta e que, no livro, ele descreve com o acréscimo de mais alguns detalhes".
O papa "não tem, nessas páginas, o propósito de 'definir', delimitar, colocar demarcações ou enfrentar a casuística entrando nos aspectos particulares individuais sobre as escolhas da vida das pessoas. O objetivo dessas páginas, ao menos foi assim que eu as entendi, não é o de entrar nos casos individuais, mas sim de ampliar o olhar, de acender no coração de todos o desejo do encontro com o amor infinito do Senhor, o desejo de experimentar nas nossas vidas esse dom divino, tão distante das nossas lógicas humanas e, assim, necessário para nos sustentar, nos encorajar, nos levantar, nos tornar capazes de recomeçar sempre".
E justamente porque "ele deixa abertas as portas e tenta deixar entrever a misericórdia de Deus, é um livro que em algumas páginas comove. Comove porque o Papa Francisco, lembrando, assumindo e calando na sua experiência as passagens evangélicas, as citações dos Padres da Igreja, algumas palavras dos seus antecessores, apresenta o rosto do Deus de misericórdia, o Pai que toca os corações e que busca incansavelmente nos alcançar para nos dar o Seu amor e o Seu perdão. Ele busca cada fenda, explica o papa, cada fissura até mesmo mínima do nosso coração para nos alcançar com a Sua graça".
Eis uma pergunta crucial a que Francisco responde no livro – ressalta o secretário de Estado –: por que hoje a humanidade precisa tanto de misericórdia? "Porque é uma humanidade ferida, uma humanidade que porta feridas profundas. Ela não sabe como curá-las ou acredita que realmente não é possível curá-las. E não existem apenas as doenças sociais e as pessoas feridas pela pobreza, pela exclusão social, pelas muitas escravidões do terceiro milênio. O relativismo também fere muito as pessoas: tudo parece igual, tudo parece o mesmo".
Para Parolin, "nós perdemos o sentido do pecado, mas também perdemos a confiança na possibilidade de encontrar uma luz, um apoio que nos permita sair do desespero, do nosso erro, das gaiolas que às vezes nós construímos. A nossa empresa, que hoje gostamos de definir como 'líquida', parece ter perdido não só o sentido do que é mau, mas também a fé na existência de Alguém que pode nos salvar, nos regenerar, nos acolher sempre, nos levantar quando caímos".
O cardeal conta "a reação dos alunos de uma escola do norte da Itália diante da proposta do professor de religião que tinha pedido para escrever um tema livre baseado na parábola do 'Filho Pródigo'. O final escolhido pela grande maioria dos jovens foi este: o pai recebe o 'Filho Pródigo', pune-o severamente e faz com que ele viva com os seus servos. Assim, ele aprende a desperdiçar todas as riquezas da família... Uma reação, no fim das contas, muito humana – observa ele –, típica daqueles que, experimentando muito pouco a misericórdia de Deus, custam a compreendê-la. Não podemos esconder: nós, todos nós, no fundo, seremos levados a pensar do mesmo modo".
Em vez disso, o papa "comenta esse episódio com poucas palavras eficazes: 'Mas esta – diz – é uma reação humana. A reação do filho mais velho é humana. Mas a misericórdia de Deus é divina'. A misericórdia de Deus é irrupção nas nossas vidas de outro critério, de um critério novo: muito longe dos nossos cálculos, dos nossos raciocínios humanos sobre a justiça, da nossa 'ética da balança'. No entanto, na verdade – e isso emerge em cada página do livro que apresentamos hoje –, é justamente disso que nós precisamos e todos aqueles com quem nos encontramos pelas ruas, nos locais de trabalho, na vida de todos os dias".
Francisco também "olha favoravelmente que, 'mesmo na justiça terrena, nas normas judiciárias', está abrindo caminho 'uma consciência nova (...) Pensemos em como cresceu a consciência mundial na rejeição da pena de morte. Pensemos em como está se tentando fazer a reinserção social dos presos, para que aqueles que erraram, depois de pagarem a sua dívida com a Justiça, possam encontrar mais facilmente um trabalho e não permanecer às margens da sociedade'. O papa desejou que o Ano Santo Extraordinário da Misericórdia fosse dirigido de modo especial para aqueles que vivem essa experiência".
E, depois de Parolin, é precisamente o momento de ouvir como as palavras do Papa Bergoglio foram acolhidas por aqueles que passam a vida atrás das grades na cela de uma prisão. "Eu tenho 30 anos e venho da China, mais precisamente de Zhe Jiang. Pode parecer estranho que um chinês porte também o nome de Agostinho, mas mais tarde vocês vão entender o porquê."
Ele se apresenta, então, como Zhang Agostinho Jianqing. "A minha família, de tradição budista, é uma família de pessoas boas que, na sua vida, sempre se comportaram bem e trabalharam tanto na China quanto na Itália. Em 1997, aos 12 anos, eu cheguei na Itália com o meu pai. A minha mãe já estava na Itália há dois anos. Passaram-se 18 anos desde aquele 1997, a maioria dos quais passados na prisão. Eu ainda estou na prisão."
Eis o que aconteceu: "Depois de chegar à Itália, eu estudei por alguns anos, mas eu me entediava na escola. Por isso, muitas vezes eu faltava às aulas, fugia da escola sem o conhecimento dos meus pais. Ano após ano, eu me tornava cada vez mais mau. Comecei a brigar com os meus pais porque eles não me davam dinheiro para eu poder me divertir. Aos 16 anos, eu inventei a história de que ia trabalhar longe da nossa casa, para poder ficar fora de noite. Muitas vezes, eu passava a noite na discoteca, só me interessava em me divertir e em me sentir poderoso. Assim, em pouco tempo, formei um caráter violento e superficial, só me interessava pela música, pelo dinheiro e pelas mulheres".
Nesse ponto, "eu cometi um grave erro. E, assim, aos 19 anos, entrei na prisão pela segunda vez com uma condenação de 20 anos".
Atrás das grades da prisão de Belluno, "dentro de mim, surgia o desejo de mudar para melhor, para nunca mais fazer sofrer a minha querida mãe. Nascia em mim o desejo de que esse sofrimento pudesse se transformar em felicidade".
O motivo do nome Zhang Agostinho? "Agostinho porque, pensando em Santo Agostinho, na sua história, eu me comovi particularmente com a sua mãe, Santa Mônica, por todas as lágrimas que ela derramou pelo seu filho, esperando reencontrar o filho perdido. É um pouco como a minha situação, pensando na minha mãe e no rio de lágrimas que ela derramou por mim, esperando que eu pudesse reencontrar o sentido da vida."
Em 2007, "fui transferido para a prisão de Pádua. A primeira pessoa que eu encontrei foi um compatriota meu, Je Wu, depois Andrea. Um preso chinês como eu, que tinha começado a trabalhar na prisão de Pádua e que esteve ao meu lado e me ajudou. Depois de poucos meses desde a chegada, eu também comecei a trabalhar com a cooperativa social Giotto, primeiro montando embalagens de joias, depois malas. Hoje, ainda na prisão, eu trabalho no setor da digitalização e dos pendrives para assinatura digital".
Agostinho observava "que esse meu amigo estava cada vez mais contente, até decidir se tornar cristão e se batizar. Ver acontecer essas coisas, trabalhar com essas pessoas fez com que surgisse em mim a pergunta e o desejo de eu também ser feliz como eles".
De fato, "ao ver esses meus amigos voltando contentes da missa, eu decidi ir ver o que estava acontecendo e se havia algo útil para mim".
Assim, ouvindo o Evangelho, "dentro de mim, emergia uma alegria que eu nunca tinha sentido antes. Eu não via a hora de que fosse domingo. Mas esse desejo era de todos os dias, por isso decidi participar com alguns amigos presos e da cooperativa em um momento semanal de encontro para poder compartilhar e amar da melhor forma possível a minha vida. Esse caminho fez nascer em mim o desejo de me tornar cristão".
E, no dia 11 de abril de 2015, "eu fui batizado, crismado e fiz a primeira comunhão: tudo na cadeia. Mesmo que eu pudesse ter obtido a permissão do juiz para celebrar fora da cadeia, eu optei por fazer isso lá e com os amigos onde Jesus veio me encontrar e onde eu encontrei Jesus".
Por fim, um agradecimento especial a Francisco "pela atenção especial que ele tem por nós, prisioneiros. Eu nunca pensei em ser convidado para participar da apresentação de um livro do papa, nem de ter a possibilidade de apertar a sua mão, como aconteceu ontem"; Portanto, "estou aqui com a minha história para testemunhar como a Misericórdia de Deus mudou a minha vida".
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''Esse livro é como ter o 'papa de bolso''', afirma Roberto Benigni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU