11 Janeiro 2016
O incentivo à produção de alimentos saudáveis, sem o uso de venenos e agroquímicos, integrou as principais ações desenvolvidas por meio do Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (Ates), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no ano de 2015 no município de Tupanciretã, na região Central do Rio Grande do Sul.
A reportagem é de Catiana de Medeiros, publicada por Movimento Sem Terra (MST), 08-01-2016.
Entre os motivos para o fortalecimento desta atuação no último ano, realizada pelos técnicos da Cooperativa de Trabalho em Prestação de Serviços Técnicos (Coptec), está a busca de um novo modelo de produção e a localização dos assentamentos: “a região é uma das que mais investe no monocultivo de soja à base de agrotóxicos”, lamenta Roberto da Silva, um dos coordenadores do núcleo operacional da Coptec no município.
Segundo informações do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, o RS ocupa a quarta posição entre os estados que mais usam veneno no Brasil. A estimativa de consumo destas substâncias, por habitante, é de 8,3 litros ao ano.
Já em abrangência nacional, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são consumidos cerca de 7,5 litros por pessoa anualmente – 0,8 a menos que no RS. Este dado coloca o Brasil no topo da lista dos países que mais consomem agrotóxicos no mundo.
Contrariando esta realidade local, estadual e nacional, que tem causado cada vez mais doenças nos seres humanos e prejudicado o meio ambiente e os bens naturais, há cerca de seis anos um grupo de agricultores ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) optou por adotar uma alternativa mais sustentável: a produção de alimentos orgânicos.
Hoje, além de servir para o autossustento das famílias e a comercialização em feiras e direto ao consumidor, os produtos saudáveis chegam nas instituições de ensino através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Somente em Tupanciretã, os assentados abastecem 20 escolas municipais e seis estaduais, envolvendo, ao todo, 23 projetos e mais de 10,5 mil quilos de alimentos.
Entre elas, está a Escola Estadual de Ensino Fundamental Tupanciretã. A instituição tem em torno de 200 alunos e há cerca de seis anos adquire, entre outros produtos, orgânicos por meio do Pnae.
Conforme o diretor Rogério Carnelosso, os alimentos são preparados para o lanche escolar, que é oferecido de segunda a sexta-feira, entre os intervalos das aulas, em dois horários: 10h15 e 15h10.
“Apesar dos procedimentos burocráticos para adquirir os alimentos, o Pnae é um bom programa, pois nos possibilita alimentar em horário escolar os nossos alunos. Muitos, às vezes, nem têm o que comer quando retornam às suas casas. Eles gostam, principalmente quando são produtos saudáveis”, disse o diretor.
Assistência e incentivos
Segundo o coordenador Silva, o grupo de produtores é composto atualmente por 14 famílias, oriundas de quatro assentamentos, que comercializam alface, repolho, tempero verde, folhas de couve, mandioca descascada, batata-doce, moranga cabotiá, alho, cenoura, beterraba, laranja, bergamota e feijão, no Pnae.
Para fortalecer o grupo e auxiliar na produção, a Coptec realiza reuniões, cursos e oficinas a cada 15 dias, além de visitas individuais nas propriedades. A cooperativa também dá assistência na elaboração de projetos de venda e na organização dos produtos para entrega, controle e prestação de contas.
Este incentivo na produção de orgânicos envole ainda outros objetivos fundamentais, que vão desde a geração de renda para os assentados até uma alimentação mais saudável para produtores e consumidores.
“Nosso intuito é diversificar a produção e auxiliar os agricultores na transição para a produção orgânica”, explicou Silva.
“O povo gosta de um alimento sadio”
Inserido na prática do trabalho coletivo, o agricultor Jolcimar Guilardi, 48 anos, do Assentamento Santa Rosa de Tupanciretã, trabalha há mais de 15 anos com a produção orgânica. Para ele, mesmo estando em uma região onde há intenso uso de agrotóxicos, produzir alimentos saudáveis gera muitos benefícios.
“Nós vivemos num município que é conhecido como a capital da soja, por ser o maior produtor deste grão no estado, e, consequentemente, como um dos que mais usa agrotóxicos.
Estamos cercados por esta realidade, que também nos traz prejuízos, mas firmes para combatê-la em nossos meios e continuar a produção de alimentos saudáveis, obtendo renda e vivendo com dignidade”, destacou.
Além de entregar para escolas e vender em feiras e mercados, o assentado revelou que há projeções de a produção orgânica de assentamentos de Tupanciretã se expandir para o município de Santa Maria, também na região Central.
“Existe este desejo e já temos experiências. O povo gosta de um alimento sadio, muitas vezes não tem o que chega. Além termos mais vida e saúde, ainda conseguimos proporcionar isso à sociedade, o que é muito gratificante”, finalizou Guilardi.
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RS: Na capital da soja, assentados driblam uso de agrotóxicos e investem na produção orgânica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU