Por: Jonas | 18 Dezembro 2015
Dois velhos inimigos se unem. Uma união que se parece mais com um casamento por conveniência ou por necessidade do que por amor e convicção. Aquele que foi duas vezes presidente, Alan García (1985-1990 e 2006-2011), líder da APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana), velho partido social-democrata que há tempo fez um giro à direita, e a ex-candidata presidencial Lourdes Flores, cabeça do conservador Partido Popular Cristão (PPC), que o enfrentou diretamente em dois processos eleitorais, agora vão de mãos dadas nas próximas eleições presidenciais, de abril de 2016. García como candidato presidencial e Flores como sua vice-presidente.
A reportagem é de Carlos Noriega, publicada por Página/12, 17-12-2015. A tradução é do Cepat.
A história dos protagonistas deste controvertido casamento político foi tormentosa, marcada por ataques e acusações mútuas. Em 1991, Lourdes Flores, então deputada, iniciou nas grandes ligas políticas acusando com paixão Alan García, no Congresso, por corrupção, durante o seu primeiro governo, e exigindo sua investigação. Tempos depois, nos anos 2001 e 2006, ambos se enfrentaram pela presidência. Nos dois momentos, Alan García derrotou Lourdes Flores e a deixou próxima de uma aposentadoria política. Nas duas eleições, a direitista Flores era considerada certa para passar ao segundo turno, mas, nas duas vezes, García a deixou com as mãos vazias, deslocando-a do segundo turno, no último momento, por uma estreita diferença de votos. Nas eleições de 2006, Lourdes Flores acusou García de ter fraudado, roubando-lhe votos na recontagem das mesas de votação. Em 2001, García perdeu no segundo turno para Alejandro Toledo e, em 2006, tornou-se presidente derrotando Ollanta Humala. Após essas duas derrotas, Lourdes Flores ganhou a fama de “especialista em derrotas eleitorais” e, frustrada, anunciou que não voltaria a ser candidata presidencial. Agora, tenta ressuscitar eleitoralmente, mas desta vez se conformando com a vice-presidência, à sombra do velho inimigo que frustrou suas aspirações presidenciais.
“Representa a direita das grandes empresas”, “é a candidata dos ricos”, dizia Alan García a respeito de sua atual aliada, Lourdes Flores, durante a campanha eleitoral de 2006. Agora, para não restar dúvidas – se alguém ainda poderia tê-las – sobre sua guinada à direita, consolidada em seu segundo governo, Alan García conta com Lourdes Flores como sua vice-presidente, que é a representante do conservadorismo mais rançoso. Nos últimos anos, a defesa do neoliberalismo econômico foi aproximando-os.
A aliança entre Alan García e Lourdes Flores foi anunciada quando a candidatura de García estagnou, aparecendo relegada a um distante quarto lugar, com somente 8%. García espera que o recrutamento de Lourdes Flores lhe dê o impulso que sua candidatura precisa para se manter com vida. A principal base eleitoral do conservador PPC está nos setores médios e altos de Lima, cidade que concentra a terceira parte do eleitorado e onde García não costuma ir bem. Por sua parte, Lourdes Flores e o PPC são conscientes de sua atual fraqueza eleitoral, em nível nacional, e do risco de ser varridos e desaparecer se seguem sozinhos nas eleições. A necessidade de sobreviver parece chave para forjar esta aliança. Está para se observar se esta aliança soma ou subtrai, se este matrimônio por interesse é coroado de modo feliz nas urnas ou se seus protagonistas acabam se autodestruindo. Alan García tem sérios problemas para fazer sua candidatura embalar. As acusações de corrupção, como os chamados “narcoindultos”, ocorridos em seu governo, colocam-no em xeque. Esta semana, o Poder Judiciário condenou Miguel Facundo Chinguel, colaborador próximo de García, a treze anos e oito meses de prisão pelos indultos conferidos no governo do ex-presidente, com o pagamento prévio de subornos, como apareceu na sentença, a mais de cinco mil presos, três mil deles sentenciados por narcotráfico. Facundo Chinguel operou, por ordem de García, os expedientes dos “narcoindultos” e o ex-presidente os assinou.
A quatro meses das eleições, Keiko Fujimori, a filha do encarcerado ex-ditador Alberto Fujimori, lidera as pesquisas com 33%. Em segundo lugar está o economista Pedro Pablo Kuzcynski, ministro no governo de Alejandro Toledo e ligado aos interesses das grandes empresas, com 16%; em terceiro, o milionário César Acuña, caudilho provinciano que se tornou a surpresa destas eleições, com 13% e em ascensão. Atrás de Alan García, vem o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), com 5%; Verónika Mendoza, da esquerdista Frente Ampla, e o governista Daniel Urresti, ex-ministro do Interior, processado judicialmente pelo assassinato de um jornalista, estão com 2% cada um. Todos eles, exceto Mendoza, concordam em defender a continuidade do modelo neoliberal.
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Política peruana. Casamento por conveniência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU