18 Dezembro 2015
"Não podemos permitir que - em nome de uma falsa eficiência administrativa - as Escolas Públicas sejam 'invadidas' pela cultura do sistema capitalista neoliberal", escreve Fr. Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Eis o artigo.
Pessoalmente (sobretudo como professor aposentado de Filosofia da UFG) e em nome da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, uno-me a todos os Movimentos Populares, Sindicatos, Associações dos Trabalhadores da Educação e outras Entidades da sociedade civil, para manifestar publicamente a minha irrestrita solidariedade e total apoio aos Jovens Estudantes do Movimento “Secundaristas em Luta”, na defesa da Educação Pública de qualidade para todos/as em Goiás (a exemplo do que aconteceu em São Paulo).
Das mais de dez Escolas Estaduais (em Goiânia e no Estado de Goiás) que já foram ocupadas pelo Movimento “Secundaristas em Luta”, terça-feira passada (dia 15) visitei duas. Vendo com que garra os jovens estudantes secundaristas lutam, vendo com que amor prestam os mais diversos serviços na limpeza e na cozinha, vendo com que responsabilidade organizam as reuniões e vendo com que maturidade dão suas valiosas contribuições na discussão da Educação Publica, fiquei profundamente edificado. Isso é motivo de muita esperança. Parabéns, jovens estudantes secundaristas! Continuem unidos na luta! A causa de vocês é justa! Vocês já são vitoriosos! Deus está do lado de vocês!
Em primeiro lugar, reafirmo tudo o que escrevi nos artigos “Não à ‘terceirização’ e ‘militarização’ da Educação Pública” (8 de julho) e “Chega de enganação do Povo” (15 de julho). Leiam os artigos na internet.
Nestes últimos tempos o Governo de Goiás, para suavizar ou minimizar o peso da palavra “terceirização” (privatização disfarçada, mesmo que parcial), usa o eufemismo “parceria com a iniciativa privada”, que são palavras aparentemente mais agradáveis. Graças a Deus, o povo não é bobo e sabe que a realidade é a mesma!
Em segundo lugar, pessoalmente e em nome da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, repudio veementemente:
1. A concepção de projeto político-pedagógico do Governo de Goiás, que - a meu ver - é propositalmente equivocado. Um autêntico projeto político-pedagógico - que liberta, humaniza e educa (não “adestra”) - é necessariamente um projeto unificado e coordenado por uma equipe de educadores/as (educadores/as administrativos e educadores/as docentes). Todos/as que trabalham nas Escolas Públicas devem ser educadores/as. É dever do Estado criar as condições objetivas para que possam sê-lo.
Não podemos permitir que - em nome de uma falsa eficiência administrativa - as Escolas Públicas sejam “invadidas” pela cultura do sistema capitalista neoliberal. O Papa Francisco, grande crítico desse sistema, em seu Discurso aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, na Bolívia (em julho deste ano) diz que a cultura do sistema capitalista neoliberal se fundamenta numa “economia de exclusão e desigualdade”, numa “economia idólatra”, numa economia que “mata”, que “exclui” e que “destrói a Mãe Terra”, e nos pede para dizer “NÃO” a essa economia.
“Alguns de vocês - continua Francisco - disseram: esse sistema não se aguenta mais. Temos que mudá-lo, temos que voltar a colocar a dignidade humana no centro, e que, sobre esse alicerce, se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos”.
2. A maneira - autoritária, ditatorial e fascista - como o Governo de Goiás pretende implantar as chamadas OSs nas Escolas Públicas. Cito um exemplo ilustrativo: os professores das Faculdades de Educação, Estadual e Federal, são contra a implantação das OSs nas Escolas Públicas, mas o parecer desses professores/as, para o Governo de Goiás, não tem nenhuma importância. O que deve prevalecer é a vontade do Governador. Em Goiás, parece que a ditadura civil-militar ainda não acabou.
3. A desvalorização dos Trabalhadores/as da Educação Estadual e do concurso público, que - como tudo indica - caso as OSs sejam implantadas nas Escolas Públicas, acabará aos poucos.
Jovens estudantes do Movimento “Secundaristas em Luta”, continuem firmes na defesa da Educação Pública de qualidade para todos/as. Contem com a nossa solidariedade e o nosso apoio.
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Em solidariedade e apoio ao Movimento “Secundaristas em Luta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU