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15 Dezembro 2015

Enquanto Deus é blasfemado para matar e para odiar, enquanto as falhas da instabilidade mundial lançam advertências sinistras, neste mundo – agora – é preciso justamente pedir e dar misericórdia, para que o sangue que corre não seja sempre o penúltimo e para que a dimensão de cada tragédia não seja a miniatura da posterior.

A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere di Bologna, 13-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

"Sulle spalle di tuo padre sembravi un re" [Sobre as costas do teu pai tu parecias um rei] – assim dizia uma canção de Lucio Dalla – e a cena se repete ao ver as meninas e os meninos na garupa para ver um pedacinho do rito tão simples e solene em que o novo arcebispo, vigário de Cristo-esposo, acolheu a cidade de Bolonha como sua esposa; com o qual a cidade e a Igreja acolheram o padre Matteo Zuppi como filho, irmão e pai; com o qual a cátedra de São Petrônio deu ao arcebispo a autoridade de entender e amar.

O padre Matteo demonstrou saber fazer isso ao visitar na estação a mais emblemática das cicatrizes dessa cidade violentada que, justamente enquanto, agora, a sombra escura da violência cega volta a se adensar, sabe que é um alvo; e está se deixando levar por uma procissão de abraços, saudações, fotos que encheram as ruas do centro com uma presença festiva. Tudo isso marcou – destacou o arcebispo na homilia – um início.

O início do Ano Santo que não lembraremos pelas recordações frágeis e triunfantes, mas porque disse a todos que – em um tempo fervente de sanguinárias pulsões e delírios xenófobos – é preciso pedir e dar misericórdia.

Enquanto Deus é blasfemado para matar e para odiar, enquanto as falhas da instabilidade mundial lançam advertências sinistras, neste mundo – agora – é preciso justamente pedir e dar misericórdia, para que o sangue que corre não seja sempre o penúltimo e para que a dimensão de cada tragédia não seja a miniatura da posterior, também para uma Europa que os imbecis acreditavam que devia ser julgada pela sua burocracia e não, justamente, pela sua paz.

Mas o início do episcopado de Dom Zuppi é mais: é o início de um início, que obriga a olhar para a frente. O padre Matteo (ele nasceu em 1955, no dia 11 de outubro, e "participou" do Vaticano II entre a terceira e a quinta série do Ensino Fundamental), se Deus quiser, será arcebispo até 2030. Ordenará padres e diáconos as crianças (e as meninas?) que hoje estão nos carrinhos. Ele celebrará os funerais dos septuagenários que têm a sua importância em uma cidade que talvez nunca ultrapassou o regime senatorial. [...]

Em suma, será pai de uma cidade indócil aos ritmos compulsivos da superficialidade obrigatória. E o será com uma prioridade que emergiu claramente do seu discurso e da sua liturgia: a prioridade dos marginais, dos pobres, dos feridos pela vida que têm um valor de conversão para a Igreja (nesse domingo, milagrosamente desapareceu uma advertência abusiva que era costume dizer para desaconselhar a se aproximar do sacramento do altar) e tem um valor civil que foi captado por aqueles que, nessa segunda-feira à tarde, ouvirá a Leitura Dossetti sobre "A expectativa das pessoas pobres", de Graziano Delrio, introduzida justamente pelo arcebispo.

Com a simplicidade alta e solene tanto quanto ele, ele mostrou que só uma cidade que se ponha à altura do mais pequeno poderá ser viva. E diz à Igreja que a sua estatura não deriva da confiança dos poderosos nem tão poderosos, mas de buscar o Cristo invisível e irreconhecível de Mateus 25.

O Evangelho de Mateus no sentido do evangelista, mas também no sentido do Evangelho do padre Matteo, ou seja, aquele que é útil para uma cidade que, quando estava faminta de Igreja, foi chamada de saciada, para uma Igreja que, quando estava à espera de esperança, foi esbofeteada como se fosse uma peregrina em uma cidade desesperada, e que, nesse domingo, foi chamada de bela e amável com um fazer doce, "pastoral", diriam os poucos teólogos que sabem o que isso quer dizer.