Por: Cesar Sanson | 09 Dezembro 2015
"Está declarada a guerra aberta entre a presidente da República e o seu vice, que se suportaram durante longos cinco anos, mas agora batalham em público pelo espólio do poder central". O comentário é de Ricardo Kotscho, jornalista, em artigo em seu blog, 08-12-2015.
O jornalista pergunta: "Quem terá forças para governar o nosso Brasil dividido e atônito diante da monumental crise econômica que só deve se agravar daqui para a frente? A população não confia mais em nenhum dos dois e seus respectivos partidos, tampouco na oposição, como mostram todas as últimas pesquisas".
Eis o artigo.
Dilma Rousseff sobre Michel Temer, em entrevista na manhã de segunda-feira:
"Confio e sempre confiei. Prefiro ter a posição que sempre tive: ele sempre foi extremamente correto comigo e tem sido assim. Não tem por que desconfiar dele um milimetro".
Michel Temer para Dilma Rousseff, em carta que lhe enviou poucas horas depois:
"Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas é a minha convicção".
A carta-desabafo de Temer, um pote até aqui de mágoas, como na canção "Gota D´Água", do velho Chico, escrita para ser "pessoal e confidencial", acabou vazando, como era de se esperar, e está em todos os jornais e portais nesta terça-feira, agravando ainda mais a crise política, se é que isso é possível. Nem sabia que ainda tem gente escrevendo cartas, coisa tão antiga.
Só faltou a palavra rompimento para selar o fim deste casamento de interesses arranjado pelas famílias PT e PMDB, mas ela está presente nos 11 parágrafos em que o vice enumera seu penar com todos os ingredientes de um tango argentino ou uma novela mexicana. Está tudo lá: desprezo, desconfiança, humilhação, ingratidão, desfeitas, retaliação, conspiração.
Agora não dá mais nem para disfarçar. Está declarada a guerra aberta entre a presidente da República e o seu vice, que se suportaram durante longos cinco anos, mas agora batalham em público pelo espólio do poder central. A luta surda do casal, mantida este tempo todo nos bastidores, agora vem para a frente do palco da ópera bufa encenada em Brasília que, com certeza, não terá final feliz.
Nesta disputa, não tem empate: ao final do julgamento do processo do impeachment, um dos dois será declarado vencedor. Ou fica Dilma ou entra Temer. O que me pergunto, como cidadão preocupado com o futuro dos meus cinco netos, é como será o "day after" desta guerra sem quartel (ainda bem!).
Quem terá forças para governar o nosso Brasil dividido e atônito diante da monumental crise econômica que só deve se agravar daqui para a frente? A população não confia mais em nenhum dos dois e seus respectivos partidos, tampouco na oposição, como mostram todas as últimas pesquisas.
O episódio da carta, apenas a gota d´água desta agonia que não acaba, poderá até servir para Michel Temer reunificar as tropas do PMDB e, Dilma Rousseff, as do PT e seus aliados no movimento social, mas não o País, que a tudo assiste aflito e desesperançado, órfão de lideranças e de perspectivas.
Vida que segue.
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Dilma X Temer: a carta foi só a gota d´água - Instituto Humanitas Unisinos - IHU