04 Dezembro 2015
A Conferência sobre Mudança Climática COP21, que Paris sedia, entre 30 de novembro e 11 de dezembro, declina de dar a palavra aos povos indígenas ameaçados mais diretamente pela catástrofe ecológica. Esta omissão ocorre apesar das provas evidentes de que os povos indígenas e tribais são os melhores conservacionistas e guardiões dos entornos naturais que habitam.
A reportagem foi publicada por Amazônia, 02-12-2015.
A COP21 foca na política energética das nações industrializadas, mais do que na destruição de entornos naturais, como a Amazônia. Apesar dos amplos esforços dos povos indígenas do Brasil e de outras zonas da América do Sul para resistir ao desmatamento, à mineração e às atividades agropecuárias, que seguem destruindo vastas extensões de selva, não parece haver nenhum impulso decisivo para prestar-lhes apoio durante a Conferência.
Um informe recente da Iniciativa para os Direitos e Recursos (RRI, segundo a sua sigla em inglês) encontrou que muito poucos dos governantes que acodem à Conferência de Paris têm mencionado sequer, em alguma ocasião, os direitos indígenas em suas políticas climáticas ou de conservação da natureza. Dos 47 países examinados, 26 não fazem referência alguma à gestão territorial indígena em suas propostas.
Apesar da sua exclusão das principais plataformas de expressão, centenas de líderes indígenas procedentes da América do Sul e de outros lugares do mundo acodem à Conferência para fazer ouvir suas vozes. Entre eles estão os conhecidos e respeitados ativistas indígenas Davi Kopenawa Yanomami, Raoni Kayapó e Mauricio Yekuana.
Em referência à proteção da Amazônia, Davi declara: “o clima está mudando; aquecimento global, como chamam vocês. Nós chamamos Motokari. Está adoecendo os pulmões da Terra. Assim que necessitamos respeitar este mundo, necessitamos colocar freio, não podemos seguir destruindo a natureza, a terra, os rios. Vocês não podem seguir nos matando, os indígenas, na selva. Nós, os indígenas, sabemos como cuidar da nossa selva”.
Entre os povos indígenas que batalham ativamente para salvar seu meio ambiente, encontramos:
• Os guajajaras: que formam um grupo conhecido como os Guardiões Guajajaras, que chamam a atenção por seu valente esforço em opor resistência ao desmatamento. Estão envolvidos em enfrentamentos com grupos madeireiros armados, e foram dos primeiros a mobilizarem-se para extinguir o grande incêndio que arrasa o território indígena de Arariboia, no Brasil, há dois meses.
• Os ka’apores: este povo tem respondido o desmatamento ilegal em seu território formando um “exército” indígena para combatê-lo (ante a passividade das autoridades). Desde então, vêm sofrendo ataques violentos em represália.
• Os guaranis: para eles, a terra ou Tekoha é a origem de toda a vida. Mas as violentas invasões de fazendeiros pecuaristas e produtores de soja e cana de açúcar devastam seu território e lar. Sofrem uma violência atroz, por tentarem permanecer em sua terra ancestral. Recentemente, pistoleiros contratados por fazendeiros atiraram em dois adolescentes guaranis e assassinaram o líder Semião Vilhalva. Nos últimos anos, este povo indígena tenta organizar boicotes contra a carne bovina de exportação internacional e a soja que se produz em suas terras, sem seu consentimento.
Os povos indígenas e tribais são os melhores conservacionistas e guardiões do mundo natural. Habitam cerca de 80% das zonas mais biodiversas do mundo e dos parques e reservas criadas para que gestem a proteção do seu território, como o Parque Indígena Xingú ou o Parque Yanomami, constituem uma barreira vital contra o desmatamento. Também são os mais intensamente afetados pela destruição dos entornos naturais nos quais vivem e pelas consequências da mudança climática. Sem o apoio contundente da comunidade internacional, no entanto, os povos indígenas da América do Sul e das regiões amazônicas poderão ser destruídos para sempre.
O diretor da Survival International, Stephen Corry, declara: “nossa sociedade industrializada é responsável pela destruição do mundo natural e pela contaminação atmosférica. Os povos indígenas, por outro lado, demonstram serem muito melhores no cuidado do meio ambiente. Por isso a arrogância de assumir que ‘nós’ temos todas as resposta, enquanto marginalizamos os povos indígenas e tribais, é vergonhoso. Já é hora de começar a escutar as vozes indígenas e de reconhecer que nós somos os sócios menores nessa luta para salvar o meio ambiente”.
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Povos indígenas vão à COP21 em sua luta contra a mudança climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU