01 Dezembro 2015
A viagem do papa à África Central dará uma nova esperança para o país. Tinham feito previsões catastróficas, mas houve apenas muita alegria: essa é a avaliação que Dom Dieudonné Nzapalainga, arcebispo de Bangui, traça da visita do Papa Francisco.
A reportagem é de Romilda Ferrauto, publicada no sítio da Radio Vaticana, 30-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Eu posso dizer que estou satisfeito, porque sou um homem de fé, e vocês viram que foi um homem de fé que veio se encontrar com os nossos homens de fé, e assim a nossa alegria foi recíproca: todos estávamos conscientes do fato de que este povo precisava de um renascimento. Um povo abandonado, um povo assassinado, um povo esquecido precisa de uma mensagem de esperança. E o Santo Padre veio trazer essa mensagem de esperança, convidou os centro-africanos à reconciliação, convidou os centro-africanos a terem um coração misericordioso, convidou os centro-africanos a perdoar, sobretudo a semear para construir um país muito bonito que se chama África Central."
Eis a entrevista.
Você sempre esteve perto do papa, em todo esse tempo. Que impressão você teve?
Encontrei nele um papa simples, um papa que ama os pobres, um papa próximo, solidário com a situação: ele se preocupa com aquilo que acontece aqui e traz a esperança de que uma mudança é possível. Ele nos anunciou que o o nosso renascimento está perto, ele deseja que todos tenhamos confiança e compreendamos a Palavra de Deus para unir as nossas forças, para nos darmos as mãos e assumir o grande desafio que nos espera, o da reconciliação, para que no nosso país volte a reinar a unidade: quer sejamos do Norte, do Leste, do Oeste, ou muçulmanos, cristãos e protestantes... Todos somos centro-africanos! Devemos semear e reconstruir o nosso país.
Você teve medo de que, no último minuto, ele poderia renunciar à visita ou sempre esteve confiante nos meses de preparação da viagem?
Eu estive confiante, porque este povo e eu mesmo tínhamos pedido que o papa viesse, para que pudesse dar uma mensagem para tocar os corações. E o Santo Padre veio, com a sua mensagem, e nos disse: "É preciso aceitar a penitência", e vocês viram, ele mesmo deu o exemplo confessando: durante toda a noite, os jovens abriram os seus corações para receber o perdão de Deus. E vocês tinham que ver a exultação, a alegria que estavam pintadas nos rostos dos homens e das mulheres que estavam do meu lado! Isso demonstra que havia a necessidade de um sopro novo... E eu sempre acreditei que esse homem viria até nós: ele veio e partiu novamente, glória a Deus!
Uma recordação de uma imagem, de uma frase...
Aquilo que eu vi na mesquita: o papa tirou os sapatos, foi se recolher, fez-se próximo aos muçulmanos e disse: "Se eu não tivesse vindo aqui, junto aos muçulmanos, eu teria perdido alguma coisa: uma parte de nós se encontra no outro". Isso é o que eu vou me lembrar de modo particular.
Obviamente, o papa não veio com uma varinha mágica para resolver todos os problemas da África Central. Você, no entanto, tem a confiança – haverá eleições em breve – de que a visita do papa realmente pode sacudir as consciências?
Esperamos que os centro-africanos tenham aquilo que nós chamamos de "um sobressalto patriótico". Nós sofremos muito. Chegou a hora. Há um tempo para a guerra e um tempo para a reconciliação, um tempo de renascimento. Estão se aproximando as eleições: não são todos que podem ser presidente; será preciso fazer sacrifícios, aceitar que um ou outro se torne presidente para tomar nas mãos o destino da nossa nação, e todos deverão ajudá-lo nessa tarefa.
O presidente que tiver o "consenso" não deverá excluir as pessoas, mas reuni-las. E, acima de tudo, deverá trazer no coração a questão da reconciliação. Estamos dilacerados e feridos... mas deveremos pensar naquelas feridas com o nosso compromisso, com os resultados que, pouco a pouco, vamos obter. Eu tenho muita confiança nos centro-africanos: eles demonstraram isso! Não houve um único disparo no PK5! Não houve um disparo na Praça da Catedral! Estava previsto o apocalipse: não aconteceu nada. Ao contrário, houve a alegria...
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"Tinham previsto um apocalipse, mas houve apenas muita alegria", afirma arcebispo de Bangui - Instituto Humanitas Unisinos - IHU