23 Novembro 2015
"Not in my name." Não em meu nome, porque "esse câncer ofende e trai a mensagem autêntica do Islã, uma fé que vivemos e interpretamos como via de diálogo e convivência pacífica, junto com todos os nossos concidadãos sem nenhuma distinção de credo. Esse perigoso derivo violento representa hoje o perigo mais feroz para o futuro comum na nossa sociedade".
A reportagem é de Massimo Solani, publicada no jornal L'Unità, 20-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em Roma, neste sábado, eles chegarão de toda a Itália para dizer que o que aconteceu em Paris e em Beirute, o sangue derramado e o terror semeado em todo o mundo, não tem nada a ver com o Islã, com a religião da qual um 1,6 bilhão de pessoas do mundo seguem os preceitos em paz e plena convivência com as outras confissões.
Por isso, neste sábado, vão se reencontrar na Praça Santi Apostoli, como já está acontecendo nestas horas em toda a Itália, para condenar "com força o recente massacre de Paris" e expressar "o mais profundo sentimento de proximidade ao povo francês e a todos os familiares das vítimas tão barbaramente mortas".
"Portanto, convidamos todas as muçulmanas e os muçulmanos – escreveram no recurso – a uma mobilização que, isolando qualquer forma mínima de radicalismo, proteja particularmente as jovens gerações das consequências de uma pregação de ódio e violência em nome da religião."
Muitas adesões
Quem lançou o apelo foi a coordenação sustentada pela Coreis italiana (Comunidade Religiosa Islâmica) em nível regional e intercultural entre muçulmanos italianos, marroquinos, paquistaneses, senegaleses e turcos, mas já nessa quinta-feira a adesão lotou uma lista que, de hora em hora, se tornava mais longa e que incluía, dentre outros, Abdellah Redouane, do Centro Islâmico Cultural da Itália – Mesquita de Roma, Zidane el-Amrani Alaoui, responsável pela Confederação Islâmica Italiana Muçulmanos do Marrocos, Izzedin Elzir, presidente da União das Comunidades Islâmicas da Itália, o imã Yahya Pallavicini, vice-presidente da Coreis, Omar Camiletti, da mesa inter-religiosa de Roma, Khaled Abdalat e Ahmad al-Hygazi da União de Médicos Árabes, o imã Abd al-Razzaq Bergia, da Coreis Piemonte.
E, depois, o sociólogo Ali Baba Faye, o teólogo da comunidade xiita da Itália Hujjatulislam Abbas Di Palma, o diretor-executivo da Halal Itália, Hamid Abd al-Qadir Distefano, e Foad Aodi, presidente da Comunidade do Mundo Árabe na Itália.
Testemunho ativo
Associações, centros culturais e simples imãs, porque, enquanto na França o Conselho Nacional do Culto Muçulmano distribuiu um texto de condenação "de todas as formas de violência ou de terrorismo" que será lido em todas as mesquitas do país, a escolha dos muçulmanos italianos é a de um testemunho ativo e visível nas praças e nas ruas.
"Nós também estaremos lá, porque essa manifestação é um sinal importante de condenação das atrocidades cometidas em Paris e não só. Uma mensagem de distância de todas as guerras injustas, das violências religiosas cometidas em todas as partes do mundo e contra os sentimentos de islamofobia que, nestes dias, estão voltando à baila", comenta Yassine Lafram, coordenador da Comunidade Islâmica de Bolonha.
"Logo após do massacre da redação do Charlie Hebdo em janeiro, os imãs e os pregadores lançaram uma mensagem de clara condenação daquilo que aconteceu", continua. "Os imãs leram um texto durante o sermão da sexta-feira, e hoje queremos continuar condenando toda a violência, mesmo pensando no que aconteceu no Beirute há uma semana."
O diálogo
Uma adesão importante é a da comunidade de Bolonha que conta com 30 mil fiéis, 15 mil dos quais participam todas as semanas dos sermões de sexta-feira nas 13 salas de oração da cidade. Uma comunidade que há anos é muito ativa no plano da integração e do conhecimento recíproco com as hierarquias eclesiásticas da cidade.
"Os responsáveis pela histórica mesquita da Via Pallavicini – explica Lafram, marroquino de nascimento e bolonhês de adoção – a cada dois meses organizam encontros com a paróquia dos Santos Bartolomeu e Caetano para favorecer o diálogo inter-religioso, para explicar o Islã, os seus valores e as suas regras. Encontros em que também se fala das raízes comuns e daqueles tantos valores comuns que compartilhamos e muitas vezes não nos dizemos."
Iniciativas que ajudam a sair das sombras e a tornar mais "abertas" as comunidades geralmente forçadas a viver em esconderijos e a escolher como locais de culto galpões ou garagens. "Pedimos há muito tempo uma lei clara sobre a abertura de locais de culto", continua Lafram. "Na Itália, é mais fácil abrir uma discoteca do que uma mesquita. Por isso, especialmente nestes momentos, pedimos que o Estado proteja o nosso direito de rezar de uma forma mais digna e em locais que permitam que os outros também olhem melhor para aquilo que nós fazemos. Uma mão sozinha não pode aplaudir..."
Em Roma, neste sábado, também estará presente Kamel Layachi, imã das comunidades islâmicas do Vêneto e premiado também recentemente pelo seu compromisso no fronte do diálogo com os católicos e com as pessoas de todas as fés e culturas.
"Aliás, eu nasci em Hipona, na Argélia – sorri –, a cidade de Santo Agostinho. Eu não posso deixar de participar da manifestação em Roma. Não seria coerente da minha parte, já que, há anos, eu trabalho para difundir a cultura do diálogo, do debate, do respeito e da legalidade."
Um fio que hoje, depois dos atentados de Paris, corre o risco de se dividir em um um clima de desconfiança e racismo crescentes. "O que aconteceu abala as nossas almas de muçulmanos e nos ofende – diz –, porque não se trata apenas de crimes monstruosos, mas também de uma inaceitável instrumentalização da nossa fé. Nós, muçulmanos, precisamos nos fazer ouvir, porque somos pela vida, contra os homicídios de pobres vítimas inocentes, mas também para proteger a nossa religião das ofensas desses criminosos. A manifestação de Roma, é um momento de grande visibilidade: a opinião pública deve conhecer a nossa posição. Eu acredito muito no compromisso educativo das nossas organizações, porque a prioridade da formação das novas gerações é a prioridade das prioridades. Para que essas atrocidades não aconteçam mais, é preciso prevenção, e a melhor maneira de fazer isso é trabalhar ao lado dos mais jovens, recolhendo o desconforto e corrigindo as informações equivocadas que maus mestres põem em circulação também através da rede. A nossa comunidade – conclui – deve tomar consciência dessa exigência."
A iniciativa de Roma é apenas a última organizada pelas comunidades islâmicas em solidariedade às vítimas de Paris e contra o fundamentalismo. Marchas, atividades e manifestações nos últimos dias ocorreram um pouco por toda a parte da Lombardia até a Calábria, passando pela Toscana. E outros vão ser realizados nos próximos dias. "Not in my name", repetem todos. Não em nome do Islã.
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"Not in my name": o Islã da Itália contra o terrorismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU