Dominicanos, há 800 anos enviados a anunciar o Evangelho

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

05 Novembro 2015

Com a carta do Mestre Geral, Frei Bruno Cadoré, começam as celebrações para o 8º centenário da fundação da Ordem desejada por São Domingos de Guzmán em Toulouse, para aquele que é chamado de "Jubileu dos Freis Pregadores".

A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 03-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A partir do próximo dia 7 de novembro até o dia 21 de janeiro de 2017, um convite a "voltar às origens da Ordem", escreve o Mestre da Casa Generalícia em Santa Sabina, em Roma: esse é o modo pelo qual mais de 7 mil religiosos e religiosas de todas as partes do mundo pretendem celebrar esse ano de aniversário, desde aquele distante 1216, quando Domingos enviava os seus primeiros freis pelas estradas para pregar o Evangelho.

É um vínculo extraordinário e inesperado aquele que o Frei Cadoré destaca: um jubileu de uma ordem religiosa antiga, que se entrelaça intimamente com o da Misericórdia, desejado pelo Papa Francisco (que iniciará apenas um mês depois, no dia 8 de dezembro).

"Uma feliz coincidência que, para nós, significa que um chamado especial para renovar o nosso ministério da Palavra enxertado na missão específica da Igreja", a ponto de serem cada vez mais os "pregadores da Misericórdia".

Não é um evento isolado ou de praxe esse jubileu da Ordo Praedicatorum: o tema "Enviados para pregar o Evangelho" tinha sido escolhido há dois anos, durante o Capítulo Geral realizado de 22 de julho a 8 de agosto de 2013, em Trogir, na Croácia, uma região fortemente marcada pela presença dos Freis Pregadores desde o século XIII, mas é desde 2005 que os dominicanos se preparam com uma grande série de iniciativas voltadas a compreender cada vez melhor o papel da Ordem no mundo contemporâneo, a confirmação da escolha da vida comunitária e da forte formação cultural e teológica dos seus membros, junto com a opção missionária aos pobres da terra.

O Mestre lembra que, na Bula de Convocação do Jubileu, o Papa Francisco manifestou a intenção de enviar "missionários da Misericórdia" durante a próxima Quaresma de 2016: "Como irmãos e irmãs, nos sentimos desafiados em primeira pessoa, pois, desde o dia da nossa entrada na Ordem ao momento da profissão religiosa, pedimos 'a misericórdia de Deus e dos irmãos', e é a misericórdia do Pai que Domingos anunciou como presente em meio aos homens (como quando decidiu vender os seus livros, enquanto havia homens que morriam de fome)".

"A perspectiva que a Ordem escolheu para celebrar o 8º centenário do seu nascimento nos envolve profundamente, antes ainda que os tantos eventos celebrativos previstos, porque nos obriga a nos pôr novamente em questão", explica o padre Alberto Simoni, do convento de San Domenico em Pistoia (um dos primeiros na Itália, junto com Bolonha, Forlì e Piacenza, desde o século XIII), animador da revista Koinonia.

Eis a entrevista.

Em que sentido o Jubileu embaralha um pouco as cartas?

O motivo do envolvimento está no fato de se encontrar inseridos novamente naquela corrente secular de vida e de missão – "Pregar o Evangelho" – na qual nos aventuramos em todos esses anos na "barca de Domingos". Pregar o Evangelho é, acima de tudo, algo de decisivo: uma paixão de viver, sem antepor qualquer outra preocupação. Pregá-lo é, então, uma obrigação, mas à maneira de Jesus que "fez e ensinou" (Atos 1, 1). Na nossa tradição, afirma-se que "a lei suprema é a salvação dos homens", que não pode deixar de nos solicitar também como pesquisa teológica e experimentação pastoral. Se todos nos encontramos de acordo sobre a necessidade de nos interrogar sobre o imperativo principal, nenhum de nós pode dizer que responde a ele corretamente ainda, porque, nisso, somos todos simples aprendizes ou "servos inúteis".

Como atualizar o mandato de Domingos na Igreja de hoje?

Não parece uma nostalgia vã voltar às reivindicações iniciais: uma autêntica evangelização só pode brotar de uma Igreja que prega o Evangelho não só com palavras, mas com potência, Espírito Santo e plena convicção (1Ts 1, 5), uma Igreja que saiba ser evangelizante não só de direito e de natureza, mas também de fato e nas suas estruturas operacionais. Ser Igreja nada mais é do que viver segundo as coordenadas da íntima comunhão com Deus e da unidade do gênero humano. A evangelização, então, não é demandada a forças especiais, mas é carisma e função primeira de toda a comunidade eclesial. Para nós, Freis Pregadores, isso significa entrar em um processo dinâmico de renovação: lembrarmo-nos das nossas origens em espírito de gratidão e ajudar a nós mesmos a descobrir o papel de itinerância no nosso estilo de vida para nos aventurarmos em mundos novos em diálogo e solidariedade com os últimos, os pobres, as vítimas da violência, estender a mão aos não crentes ou aos crentes de outras tradições, ser criativos no uso das artes e dos modernos meios de comunicação.

* * *

Desde a primeira bula de aprovação da Ordem por parte do Papa Honório III, no dia 22 de dezembro de 1216, são centenas e centenas os dominicanos que deixaram a sua marca na história da Igreja e na cultura mundial, sempre sob o sinal do primado do Anúncio: do Beato Angelico a Santo Alberto Magno e Santa Catarina de Siena, de São Tomás de Aquino aos teólogos do Concílio, como Congar e Chenu, ou ao teólogo que desempenhou um papel significativo no último Sínodo, como o arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, ou o inglês Timothy Radcliffe, ex-Mestre da Ordem e hoje um dos autores católicos mais lidos no mundo.

A abertura oficial das celebrações irá ocorrer no dia 7 de novembro, na Basílica de Santa Sabina, em Roma, sede da Cúria Generalícia, com uma missa em memória de Todos os Santos.

Durante o Ano Jubilar, estamos programados inúmeros eventos internacionais, entre eles o caminho Word ("A Palavra"), pontuado na Lectio Divina e publicado diariamente no site da Ordem nas três línguas oficiais dominicanas, espanhol, inglês e francês (www.op.org).

E Bolonha, na Itália, lugar da morte e do sepultamento de São Domingos (1221), será a sede do próximo Capítulo Geral em 2016.