04 Novembro 2015
"Amazonas, semiárido nordestino, Rio Grande do Sul, Indonésia - o que esses desastres de falta e excesso de água têm em comum? El Niño. O fenômeno climático que aquece as águas orientais do oceano Pacífico e tira a meteorologia dos eixos mundo afora, veio com força total neste 2015, que quase certamente será o mais quente já registrado", escreve Marcelo Leite, jornalista, em artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 01-11-2015.
Eis o artigo.
Depois de 40 dias de combate, 300 bombeiros conseguiram pôr fim a um incêndio florestal no município maranhense de Arame. O fogo destruiu 2.200 km2 de matas na Terra Indígena Arariboia.
A área queimada representa mais da metade do território onde vivem 12 mil índios guajajaras. Também equivale a uma vez e meia o município de São Paulo, onde vivem 12 milhões de pessoas.
Há um mês a cidade de Manaus está coberta de fumaça. O Estado do Amazonas, um dos menos desmatados da Amazônia e em geral muito úmido, vive uma temporada recorde de queimadas, que já fez muita gente baixar ao hospital com problemas respiratórios.
Até a sexta-feira (30), 13.484 focos já haviam sido registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que os identifica por meio de satélites. A dois meses de terminar o ano, já se superaram todos os totais anuais desde 1998 (o maior deles, 9.322 focos, ocorreu no ano passado).
O rio Negro está com nível muito baixo. Tão baixo que foi fechado o acesso à praia de Ponta Negra, popular entre os manauaras. Com a vazante, a entrada de banhistas na água fica muito próxima de buracos de mais de cinco metros de profundidade, o que aumenta o risco de afogamento.
Há poucas semanas, decolando do aeroporto de Confins (MG), o céu matutino estava enevoado pela fumaça. Mesmo sem bater recordes, o Estado tem quantidade acima da média de queimadas.
Cerca de 100 km2 arderam por cinco dias na serra do Cipó. Minas passa pelo quarto ano seguido de seca, que castiga sobretudo sua região norte, a mais pobre do Estado. O rio Doce não consegue mais chegar ao mar na foz tradicional, conformando-se com um filete através da areia a 1 km dali.
O São Francisco nasce em Minas Gerais. Indiferente aos bilhões enterrados pelo governo federal no megalômano projeto de transposição para irrigar o semiárido nordestino, o rio está minguando. Sua represa de Sobradinho tem apenas 4,6% da capacidade normal preenchida.
Em contraste, o Rio Grande do Sul tem sofrido com temporais. Depois de uma trégua, a chuva forte recomeçou. Mas a temperatura tem ficado acima dos 30°C.
A cidade gaúcha de Alvorada, por exemplo, vive sua terceira enchente do ano. Ela já dura mais de um mês e alagou 60 ruas, forçando 2.556 pessoas a deixar suas casas.
Do outro lado do mundo, a Indonésia está em chamas. O país queima há mais de dois meses e produz uma névoa tóxica que se espalha para nações vizinhas, como Cingapura, onde fecha aeroportos e força as pessoas a usarem máscaras.
As florestas tropicais indonésias são ricas em turfa, uma camada espessa de matéria vegetal que se acumula e decompõe no solo encharcado. Esses terrenos são desmatados e drenados para dar lugar a plantações e produzir óleo de palma.
O fogo é a ferramenta preferida dessa empreitada do agronegócio. Só que a turfa pode queimar lentamente, produzindo mais fumaça do que chamas, e de forma contínua.
Amazonas, semiárido nordestino, Rio Grande do Sul, Indonésia - o que esses desastres de falta e excesso de água têm em comum? El Niño.
O fenômeno climático que aquece as águas orientais do oceano Pacífico e tira a meteorologia dos eixos mundo afora, veio com força total neste 2015, que quase certamente será o mais quente já registrado.
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2015, o ano em que o planeta ardeu? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU