Por: André | 03 Novembro 2015
O Papa Francisco promulgará uma exortação apostólica sobre a família com base nas conclusões do Sínodo dos Bispos. A informação foi prestada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado vaticano, à Agência Ansa. Ele participou, na tarde da quarta-feira, do encerramento do Congresso Internacional no 50º aniversário da Declaração Nostra Aetate, que aconteceu na Universidade Gregoriana. Sobre os tempos de publicação da exortação pós-sinodal, o cardeal indicou: “Isto não sei, mas, seja como for, não creio que se demore muito. De qualquer maneira, trabalha-se o ferro enquanto está quente”.
A reportagem é publicada por Vatican Insider, 28-10-2015. A tradução é de André Langer.
Respondendo a uma pergunta dos jornalistas, o cardeal indicou que o documento do Papa “será do tipo da exortação apostólica”, dentro da tradição do Sínodo. Além disso, recordou, “como se pode ler no final do texto conclusivo, os padres sinodais oferecem material ao Papa, pedindo um documento, caso considerar oportuno”.
Com relação à viagem que Francisco fará à África, com uma etapa na República Centro-Africana, no final de novembro, Parolin declarou: “Não creio que ele tenha medo; se tivesse, não iria. Pelo contrário, o Papa vai a todas as partes”. Justamente ele, indicou, quis a etapa “na situação de conflito da República Centro-Africana”, para animar a paz e por isso “está pronto para enfrentar inclusive eventuais riscos”. “A preocupação existe – explicou o secretário de Estado vaticano –, mas imagino que se o Papa vai, é porque também existem as condições para que possa ir. Então, estes fenômenos estão sob controle, pelo menos durante a visita do Papa. O fato de que a viagem aconteça significa que existem as condições mínimas para que vá e para que possa permanecer o tempo necessário para cumprir o programa”.
Durante a sua intervenção no Congresso, o cardeal secretário de Estado indicou que “a Igreja sempre ensinou, ainda hoje ensina e não se cansa de repetir: a paz é possível, a paz é um dever!”
“Um dever, pois se impõe a todos os amantes da paz – destacou – e é o de educar as novas gerações para estes ideais, para preparar uma era melhor para toda a humanidade. A educação para a paz é hoje mais urgente que nunca, porque os homens, perante as tragédias que continuam afligindo a humanidade, estão tentados a ceder ao fanatismo, como se a paz fosse um ideal impossível de alcançar”.
“Em um momento de forte preocupação com a multiplicação de tensões e conflitos em diferentes partes do mundo – acrescentou Parolin –, é urgente promover uma reflexão profunda e articulada sobre o tema da educação para a paz”.
O cardeal secretário de Estado, retomando o que disse João Paulo II na mensagem para o Dia da Paz de 1979, ressaltou a importância da linguagem neste processo. “Para construir a paz – explicou –, a linguagem, criada para expressar pensamentos do coração e para unir, deve abandonar os esquemas pré-fabricados. É necessário agir sobre a linguagem para agir sobre o coração e apagar as insídias da própria linguagem”.
Ao se querer expressar tudo em termos de relações de força, explicou Parolin, “de lutas entre grupos e classes, entre amigos e inimigos, cria-se o terreno propício para as barreiras sociais, para o desprezo, inclusive para o ódio e o terrorismo e para sua apologia, velada ou aberta. Pelo contrário, de um coração dedicado à paz derivam a preocupação de escutar e compreender, o respeito pelo outro, a doçura que é verdadeira força, a confiança. Esta linguagem conduz pelo caminho da objetividade, da verdade e da paz”.
O Papa, observou Parolin, “destacava a tarefa educativa dos meios de comunicação social e o tom expressivo utilizado nos intercâmbios e nos debates políticos, nacionais e internacionais, concluindo com um apelo aos responsáveis das Nações Unidas e das Organizações Internacionais: ‘saibam encontrar uma linguagem nova, uma linguagem de paz: esta abrirá por si só um novo espaço à paz’”.
E, recordando as Jornadas Inter-religiosas de Assis que aconteceram pela primeira vez em 1986, por vontade do Papa Wojtyla, o secretário de Estado vaticano afirmou: “Esperamos que outras iniciativas com os responsáveis das diferentes tradições religiosas mundiais deem novos frutos de paz durante o Ano Jubilar da Misericórdia, que começa em 8 de dezembro próximo”.
Parolin também refletiu sobre o tema das liberdades individuais. Garanti-las, indicou, “é indispensável”, mas “é absurdo pensar fazer isso através da guerra”.
“Quando um cidadão está indefeso perante o Estado, essa tensão interna já é uma situação de guerra”, destacou. Não por nada a Pacem in Terris de João XXIII “parte da afirmação das liberdades individuais. Garantir estas liberdades é indispensável, mas é absurdo pensar em fazer isso através da guerra”.
De acordo com o cardeal, “devemos ter a coragem profética de ir, no final das contas, além do ‘Si vis pacem, para bellum’. Já não basta que as Nações não se agridam mutuamente, mas é urgente compreender que a paz tem a ver com a condição em que vive cada indivíduo dentro do próprio Estado”.
“O caminho por excelência – acrescentou Parolin – é a educação para a paz, começando pela promoção dos textos escolásticos e acadêmicos do conhecimento e pelo valor do respeito dos direitos humanos, da cooperação internacional e da educação para a paz”.
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Sínodo. O Papa fará uma exortação apostólica, segundo Parolin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU