19 Outubro 2015
Apesar de a polinização prestar serviços gratuitos estimados, somente no Brasil, em mais US$ 12 bilhões por ano, pesquisa inédita realizada pelo IBOPE mostra que 78% da população brasileira desconhece o seu papel para garantir a segurança alimentar. O projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pelo Ministério do Meio Ambiente, fomentou, entre 2010 e 2015, uma rede de pesquisas sobre polinizadores em culturas agrícolas que, em alguns casos, podem aumentar em até 70% a produtividade.
A reportagem foi publicada por Envolverde, 15-10-2015.
Cerca de 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização animal. Realizado de forma gratuita, principalmente por insetos, o serviço de transportar células reprodutivas masculinas de plantas para o seu receptor feminino é estimado pela Universidade de São Paulo, somente nas principais culturas produzidas no Brasil, em US$ 12 bilhões por ano. Apesar da sua importância para garantir alimentos de qualidade na mesa do brasileiro, aumentar a produção agrícola e, consequentemente, o lucro do agricultor, uma pesquisa inédita realizada pelo IBOPE, encomendada pelo projeto Polinizadores do Brasil, constatou que 78% da população adulta brasileira desconhece ou nunca ouviu falar no termo polinização.
Para divulgar a importância do papel dos polinizadores na produção de alimentos e a necessidade de promover a conservação e o uso sustentável desses animais, o projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pelo Ministério do Meio Ambiente, formou uma rede nacional de pesquisa que, entre 2010 e 2015, estudou a polinização de culturas agrícolas brasileiras, produziu uma série de planos de manejo com recomendações para agricultores e observou o comportamento de diferentes espécies de polinizadores, identificando, inclusive, nove novas espécies de abelhas, das quais três já foram publicadas.
“O projeto Polinizadores do Brasil é a maior iniciativa já realizada no país sobre o assunto e reforça a importância da polinização para a segurança alimentar. É um grande trabalho de pesquisa e análise de dados, que envolveu quase 60 bolsistas de 18 instituições de pesquisa em mais de quinze estados brasileiros. Ele também é parte de um esforço global para entender, conhecer e reconhecer o papel dos agentes polinizadores na produção agrícola, cujo serviço prestado mundialmente é estimado em US$ 350 bilhões”, afirma a secretária-geral do Funbio, Rosa Lemos de Sá, citando que foram investidos pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) aproximadamente US$ 3,3 milhões para a execução do projeto no Brasil. Sob a coordenação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a iniciativa também acontece na África do Sul, Gana, Índia, Nepal, Paquistão e Quênia.
Dentre as quase 310 mil espécies de plantas conhecidas atualmente, 87% delas dependem, em algum grau, de polinizadores animais. Entre os agentes polinizadores estão aves, morcegos, mamíferos não voadores, répteis, moscas, besouros, abelhas, entre outros. Sendo as abelhas responsáveis por mais de 70% das polinizações e também consideradas os agentes mais eficientes. No entanto, apesar da relevância, de acordo com a pesquisa IBOPE encomendada pelo projeto, entre os 22% dos brasileiros que afirmam conhecer o termo polinização, somente 8% dizem que é o processo de transporte do pólen de uma flor para a outra, 43% sabem que a polinização ocorre a partir da ação de animais e poucos conhecem outros meios de polinização como ar e água.
Práticas amigáveis aos polinizadores
Em parceria com instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Universidade de São Paulo (USP) e diversas outras universidades, a rede de pesquisa fomentada pelo projeto Polinizadores do Brasil coletou informações sobre o comportamento de agentes polinizadores em sete culturas agrícolas nacionais: algodão, caju, canola, castanha-do-brasil, melão, maçã e tomate.
O trabalho rendeu ao todo mais de 40 publicações, incluindo um plano de manejo para cada cultura estudada, com recomendações de práticas amigáveis aos polinizadores. Entre as conclusões, que comprovam a importância da polinização para o aumento da produção e a melhoria da qualidade final da colheita, vale destacar:
Entre as recomendações de boas práticas agrícolas para a manutenção dos agentes polinizadores, algumas delas são comuns para todas as culturas. “Manter a vegetação natural próxima às roças, ter plantios consorciados com outras culturas, disponibilizar fontes de água para os polinizadores e evitar práticas destrutivas aos seus ninhos são ações simples que favorecem a visitação dos agentes”, afirma a coordenadora do projeto pelo Funbio, Vanina Antunes, lembrando que também é importante ter cuidado com o uso de agrotóxico, que em alguns casos pode reduzir em mais de 80% o número de visitas dos agentes polinizadores às flores.
Novas espécies – Dentre os animais, as abelhas são os principais polinizadores da flora do planeta. Elas respondem pela polinização de mais de 50% das plantas das florestas tropicais e no Cerrado podem chegar a polinizar mais de 80% das espécies vegetais. Segundo a FAO, as abelhas seriam responsáveis pela polinização de 73% das plantas cultivadas, que são utilizadas de forma direta ou indireta na alimentação humana. Além disso, dentre as 57 espécies de plantas mais cultivadas em todo o mundo, 42% delas dependem das abelhas nativas para a sua polinização.
Conhecer os polinizadores nativos – e monitorar suas populações durante 3 anos – foi um dos objetivos das pesquisas realizadas durante os cinco anos do projeto Polinizadores do Brasil. No período, foram coletados um total de 16 mil abelhas, distribuídas em 214 espécies. Para se ter uma ideia da diversidade de espécies de abelhas verificadas em cada uma das culturas estudadas, o algodão listou 114 espécies, o caju 55, a canola 214, a castanha-do-brasil 79, a maçã 158, o melão 52 e o tomate 79 – sendo muitas espécies verificadas em mais de uma cultura.
Entre as abelhas coletadas, o projeto identificou nove novas espécies: Melitoma sp. nov. (coletada pelas redes Maçã, Castanha-do-brasil, Caju e Algodão); Scaptotrigona sp. nov. (coletada pelas redes Caju e Melão); Bombus (Thoracobombus) sp. nov. (coletada pelas redes Maçã e Algodão); Ptilothrix sp. nov. (coletada pelas redes Maçã e Algodão); Ancyloscelis sp. nov. (coletada pela rede Algodão); Chlerogelloides nexosa (coletada no Pará durante o Curso de Polinização promovido pelo projeto); Centris (Centris) byrsonimae; Chilicola (Hylaeosoma) kevani (coletada pela rede Maçã) e Eulaema sp. nov. (coletada pela rede Maçã). Também foram identificadas dezenas de novas ocorrências para espécies de abelhas já conhecidas pela ciência, o que prova a contribuição do projeto para a compreensão dos padrões de distribuição geográfica das abelhas polinizadoras dessas culturas no Brasil.
As espécies mais comuns e presentes em quase todas as culturas foram: Ancyloscelis apiformes (em todas, exceto canola), com 342 indivíduos; Exomalopsis analis (todas), com 282 indivíduos; Exomalopsis auripilosa (todas, exceto caju e melão), com 696 indivíduos; Melitoma segmentaria (todas), com 1206 indivíduos; Ptilothrix plumata (todas, exceto caju e canola), com 78 indivíduos; e Trigona spinipes (todas, exceto castanha-do-brasil), com 1449 indivíduos. A Apis mellifera (16% das capturas) foi a única espécie não nativa coletada. Muito abundante nas roças, ela é pouco observada em ambientes preservados, como as áreas de vegetação nativa do cultivo de castanha-do-brasil, na Amazônia.
Um dos produtos finais do projeto Polinizadores do Brasil é o “Guia ilustrado de abelhas polinizadoras no Brasil”, publicado pela Universidade de São Paulo. Para conhecer as principais publicações e outros resultados do projeto Polinizadores do Brasil clique aqui.
Sobre o Funbio
O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) é uma associação civil sem fins lucrativos, que iniciou sua operação em 1996. É um mecanismo financeiro inovador, criado para desenvolver estratégias que contribuam para a implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) no Brasil. Sua missão é aportar recursos estratégicos para a conservação da biodiversidade, e ao longo de sua história de quase 20 anos, o Funbio atua como parceiro estratégico do setor privado, de diferentes órgãos públicos estaduais e federais e da sociedade civil organizada. Essas parcerias viabilizam os investimentos socioambientais das empresas e a redução e mitigação de seus impactos, bem como o cumprimento de suas obrigações legais. Na esfera pública, visam consolidar políticas de conservação e viabilizar programas de financiamento ambiental.
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A importância da polinização para a segurança alimentar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU