07 Outubro 2015
Gualtiero Bassetti, natural da Toscana, arcebispo metropolitano de Perugia, participa do Sínodo porque Francisco o nomeou como Padre sinodal. Ele está entre os cardeais italianos mais próximos de Jorge Mario Bergoglio.
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 06-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Eminência, por que uma parte da Igreja se opõe à abertura do papa sobre a Eucaristia aos divorciados recasados?
Como eu venho de Marradi e sou um toscano de alma, gostaria de lhe perguntar, com uma brincadeira, de qual Sínodo estamos falando: do da mídia ou do da Igreja Católica? O Sínodo se ocupa da família, da sua vocação, da sua beleza, das suas feridas e da sua capacidade de ainda ser o fundamento da sociedade.
Este Sínodo é um dom para a humanidade inteira, um lugar de debate e certamente não é uma sala parlamentar, como disse o papa, ou um talk show de televisão. Sentimos sobre nós, ao contrário, todo o peso dessa reflexão. Mas o jugo torna-se leve com Jesus Cristo ao lado. O sopro do Espírito Santo não falta e não faltará! Aliás, ele vem depois de 35 anos desde o último Sínodo para a família. De 1980 até hoje, um tsunami varreu a sociedade inteira, e nós, como pastores e como padres, temos o dever de cuidar das famílias.
Qual a profundidade da fissura na Igreja entre os conservadores e os progressistas, ou é uma interpretação jornalística errada?
Relatar as divisões, verdadeiras ou supostas, dentro da Igreja é desde sempre um assunto de grande sucesso na opinião pública. Na realidade, sempre houve uma pluralidade de pontos de vista na Igreja, sobre os mais variados assuntos. Temos testemunhos disso nos Evangelhos e nas cartas de São Paulo.
Mas a unidade da Igreja é uma realidade que vai além das divisões de que você fala. É a realização do testamento de Jesus: ut omnes unum sint, "para que todos sejam um". Portanto, eu deixaria as "sínteses", os "progressistas" e os "conservadores" para os políticos e para a sua digníssima atividade. A este Sínodo, ao contrário, foi pedido que se fale com parrésia. É o estilo do Papa Francisco, que pediu um debate franco e aberto. Talvez nunca como agora se tinha realizado um Sínodo tão debatido.
Creio firmemente que todos os Padres sinodais estão aqui com a única intenção de oferecer um serviço para a família em um dos momentos mais difíceis da sua história. Como disse o Santo Padre no domingo de manhã em São Pedro, o que se precisa é "uma Igreja que educa ao amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de Bom Samaritano da humanidade ferida".
O que o senhor pensou quando leu a história do padre polonês Charamsa, que declarou a sua homossexualidade e se apresentou à imprensa com o seu companheiro?
Esse fato, para mim, foi uma fonte de grande sofrimento. Tanto para as pessoas envolvidas quanto pelo modo em que foi tornado público. A homossexualidade é uma coisa muito séria e complexa para ser tratada em uma coletiva de imprensa em uma enoteca às vésperas do Sínodo. Esse tipo de saídas públicas não fazem bem a ninguém. As minhas orações, como sempre, continuarão sendo dirigidas a todos. Mas o silêncio e o discernimento, nestes casos, são mais do que um conselho fraterno.
A Igreja pode acolher os casais homossexuais e os divorciados recasados sem comprometer a doutrina?
A Igreja acolhe as pessoas, todas, sem exceção, a exemplo de nosso Senhor, que não desprezou o fato de se aproximar da pecadora ou do publicano. Mas a Igreja tem uma Palavra sua a anunciar, o seu caminho que leva ao Pai a indicar. É um itinerário exigente, que requer contínua conversão e que vale para todos! Muitas pessoas homossexuais vivem na Igreja serenamente, sem dramas. Também para as pessoas divorciadas e recasadas se podem imaginar serviços e tarefas que as faça se sentir membros de uma comunidade, apesar do peso de um matrimônio fracassado.
O senhor acredita que o papel na política dos bispos italianos é justamente menos eficaz do que no passado ou a Igreja deve influenciar as decisões do governo italiano?
Os bispos não fazem política, mas anunciam o Evangelho, e a Igreja não é e nunca foi o sindicato dos católicos. Os católicos, porém, tem uma missão: a de serem o sal da terra. Eles têm algo a oferecer ao mundo. Ou seja, eles têm uma visão altíssima do homem e do mundo. Eles pensam que ambos são dons que devem ser protegidos e preservados com o máximo cuidado.
Na base de tudo, está o conceito de pessoa, porque Deus se fez homem. Quando falamos de cristianismo, não estamos nos referindo a um ideal ou a uma filosofia, mas nos referimos sempre a um fato: ao mistério da Encarnação. Deus se encarnou e veio entre os pobres e foi reconhecido primeiramente pelos pastores, isto é, pelos últimos, pelos rejeitados da sociedade. Jesus nasce como um descarte em uma estrebaria de Belém e certamente não no Hotel Garden de Jerusalém. E, além disso, como um refugiado, vai para o Egito.
Por isso, os católicos têm uma visão do mundo a oferecer para a política, que se baseia na valorização da dignidade humana em todos os momentos da existência e que parte dos mais fracos: os pobres, os migrantes, os concebidos, as crianças, as famílias, os trabalhadores temporários, os desempregados, os escravos modernos, os povos em guerra. E, depois, como consequência, a liberdade religiosa, a liberdade de educação, a paz, uma economia justa, um Estado não opressivo.
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"A homossexualidade é coisa séria, não é assunto de bar." Entrevista com Gualtiero Bassetti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU