06 Outubro 2015
Também o “pulmão espiritual da humanidade” (como o definiu Bento XVI) chega ao Sínodo em não perfeita saúde. O crescimento da Igreja da África, por mais vezes sublinhada nestes anos, de fato é real, mas não sem contradições: e isto também nas matérias que dizem respeito à família, sobre as quais, na iminente Assembleia dos bispos, se esperam dos representantes do continente posições previamente rigoristas.
A reportagem é de Davide Maggiore, publicada por Vatican Insider, 03-10-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
A um crescimento numérico impressionante dos católicos (+ 238% com respeito a 1980, com o limiar dos 200 milhões de fiéis agora superados) corresponde, de fato, a mais um desafio no campo da pastoral familiar. Entre as feridas abertas, em sentido frequentemente literal, há aquelas da violência doméstica, da qual continuam vítimas principalmente as mulheres. Um fenômeno que a ação da Igreja ainda não conseguiu erradicar, e que impeliu o próprio Papa Francisco a acenar à questão durante a recente visita ad limina dos bispos do Mali.
“Eu vos encorajo – dissera o Santo Padre aos présule que havia recebido no início de maio passado – a prosseguir com vossa ação pastoral dirigindo uma atenção particular à condição feminina: promover o lugar da mulher na sociedade e combater qualquer abuso ou violência contra ela é também uma forma de anúncio do Evangelho de Jesus Cristo que quis nascer de uma mulher, a Virgem Maria”. Pouco antes, Francisco, embora reconhecendo os bons resultados do apostolado no Estado africano, havia notado também que “o testemunho cristão em nível da família ainda necessita de maior coerência, no vosso contexto sociocultural marcado também pelo divórcio e pela poligamia”.
Este último tema, com frequência transcurado pelos comentadores ao falar das temáticas sinodais, também tem sido sublinhado por numerosos participantes da sessão que se abre aos quatro de outubro. Entre os mais diretos em pôr a questão na ordem dia, o arcebispo de Accra, monsenhor Charles Palmer-Buckle, o qual, entrevistado pelo portal Aleteia, evidenciou a situação das “pessoas envolvidas em relações polígamas antes de se tornarem cristãs”, questionando-se: “Como as ajudaremos a olhar para Cristo, e o que Cristo as convida a fazer?”
Perguntas que mostram como, sobre o tema, um consenso ainda não tenha sido atingido no interior da própria Igreja continental. Violência doméstica, poligamia, instabilidade familiar e dificuldades devidas ao crescimento das famílias com um só progenitor (já em 2011 um estudo efetuado na África do Sul mostrava como fossem, naquele país, a norma em dois casos sobre três) são, portanto, obstáculos que mesmo uma Igreja considerada extremamente vital, como a africana, custa enfrentar. A estas, acrescentam-se também problemáticas que no decurso dos anos tem atingido a própria conduta de vida de sacerdotes: um tema sobre o qual os próprios présule lançaram na época sinais de alarme.
Já durante a preparação do primeiro Sínodo africano, nos anos noventa, o cardeal Polycarp Pengo, arcebispo de Dar es-Salaam na Tanzânia chegou, por exemplo, a destacar o problema – ainda hoje discutido – da adesão ao celibato. Numa intervenção intitulada ‘Priestly celibacy and problems of inculturation’, embora opondo-se a várias propostas para derrogar a regra em nome das culturas locais, o Présule reconhecia a presença de “alguns sacerdotes que falham no seu voto de celibato”, falando a este propósito também de “genitorialidade irresponsável no verdadeiro sentido da palavra”.
A mesma vontade de enfrentar diretamente uma ferida transcurada se encontra nas palavras pronunciadas em 2010 por outro arcebispo, Buti Thagale de Johanesburgo, sobre uma questão ainda mais espinhosa, aquela dos abusos com menores cometidos por religiosos. “A Igreja africana está ferida da mesma maneira” como as norte-americanas e europeias, havia explicado numa declaração citada pela imprensa, o então presidente dos bispos sul-africanos, falando de “sacerdotes que se afastaram das pegadas dos apóstolos”.
Comportamentos que, além de provocarem sofrimentos, haviam tido consequências indiretas, das quais monsenhor Thagale se mostrara perfeitamente consciente. “Como líder da Igreja, tornamo-nos incapazes de criticar os comportamentos corruptos e imorais das nossas respectivas comunidades”, havia de fato prosseguido o bispo, que não havia hesitado em falar de uma Igreja bem diversa de vital e até “paralisada” por esta contradição.
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No Sínodo uma África problemática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU