06 Outubro 2015
O coordenador do Grupo de Pesquisa de Prevenção ao Suicídio da Fundação Oswlado Cruz (RJ), Carlos Estellita-Lins, falou em entrevista à Zero Hora, sobre suicídio na adolescência.
A entrevista é de Itamar Melo, publicada por Zero Hora, 04-10-2015.
Eis a entrevista.
Por que aumentou o suicídio na infância e na adolescência?
O que há são explicações epidemiológicas. É como na economia. Por que a bolsa subiu? Você encontra três ou quatro eventos importantes relacionados e diz que deve ter sido por isso. Esse tipo de critério cientítico é bastante frouxo, mas é o melhor que a gente tem. A partir dos nove anos, você tem dados de suicídio. A partir dos 12 anos, já é relevante. O modelo do suicídio é sofrimento psíquico grande, depressão, ansiedade. No caso do jovem, é importante mencionar, existem situações de violência. A violência no Brasil não diminuiu, ela cresceu.
A violência da sociedade tem um impacto no suicídio?
Tem, por alguns mecanismos obscuros e outros claros. Situações de violência geram sofrimento psíquico, geram perdas. E especialmente o abuso, a violência física, com humilhação. Uma forma de violência institucional, que é o bullying, está fortemente associada ao suicídio no adolescente.
Alguma pressão social nova surgiu sobre os adolescentes nos últimos anos?
O aumento é, na verdade, uma curva de elevação. Não está marcando um acontecimento novo. O ponto que a gente pode discutir é a digitalização da sociedade, a virtualização. Há vantagens, mas cada vez mais a gente começa a observar as perdas, os malefícios, que ainda estão sendo estudados.
Que tipo de impacto teria a onipresença da internet?
No adolescente, a gente discute se há síndromes e distúrbios novos. A pessoa ficar vivendo num mundo virtual, levando a um maior afastamento, introspecção, a mais depressão, a um isolamento.
A internet facilita também o acesso a informaçõoes sobre suicídio?
Isso é preocupante, porque o conhecimento dos meios muitas vezes é buscado por quem está com ideação suicida. Ele pode começar a planejar, e isso auxilia. Outro aspecto são ambientes virtuais onde se pode falar tudo, exortar o jovem a fazer. Onde, de modo inconsequente, protegida pelo anonimato, a pessoa exorta o suicídio, dá conselhos, banaliza. A gente viu casos de meninas que foram humilhadas, que tiveram suas imagens eróticas divulgadas de maneira ilegal. É uma forma de cyberbullying. Isso gerou uma forma de suicídio menos típica, que não está relacionada com sofrimento psíquico continuado, e sim com o amor-próprio. Isso é uma novidade. É muito grave.
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“O bullying está fortemente associado” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU