Por: Jonas | 05 Outubro 2015
Quatro dias antes de iniciar, em Roma, a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a Comissão Permanente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), reunida em Madri, deliberava sobre este importante acontecimento eclesial, em concreto, sobre a reforma dos processos de nulidade matrimonial à luz dos motus proprios de Francisco apresentados, em inícios de setembro, no Vaticano. Os decretos causaram certo alvoroço em setores eclesiais pouco propícios às reformas do Papa, que consideraram que com eles se introduzia “o divórcio católico”.
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 02-10-2015. A tradução é do Cepat.
Ao menos três dos membros da delegação espanhola que participará da assembleia sinodal, de 4 a 25 de outubro, não enxergam dessa maneira.
Em declarações a Vida Nueva, Mario Iceta, bispo responsável de Família e Vida, discorda da maioria. “Em seu retorno do Encontro Mundial das Famílias da Filadélfia, o Papa ressaltou que o motu próprio de nenhum modo pode ser considerado como um divórcio católico. As circunstâncias atuais tornam necessária uma adequada diversidade de itinerários neste procedimento, que sempre é doloroso e complicado. Não se trata de ‘anular’ um matrimônio, mas de reformar o procedimento de declaração de nulidade em determinadas circunstâncias e se existem razões fundamentadas para invocá-lo, de modo que seja mais ágil sem por isso perder objetividade e verdade, pois é disso que se trata, de conhecer a verdade da situação diante de Deus”.
O cardeal Lluís Martínez Sistach, que participará do Sínodo por convite expresso do Papa, não oculta sua alegria por uma medida que, como aponta, já havia sido solicitada por alguns cardeais no consistório de 2014 e no Sínodo Extraordinário do ano passado.
“Estou feliz porque com esta reforma se facilita o caminho para que os matrimônios que não são válidos possam ser declarados nulos com maior rapidez e menos ou nada de custos econômicos”. Para o Arcebispo de Barcelona, esse decreto é, além disso, “uma maneira de ajudar os casais cristãos para que possam, se seu matrimônio canônico é nulo, contrair um novo matrimônio e poder se confessar e comungar. Esta reforma de Francisco harmoniza a fidelidade à indissolubilidade com a misericórdia da Igreja. É preciso agradecer ao papa Francisco por esta reforma e que a tenha feito seguindo o que se pediu na assembleia sinodal anterior”.
Também não fica lugar para dúvida na visão de Carlos Osoro. O arcebispo de Madri considera que estas disposições pontificais "são uma porta para fazer uma pastoral matrimonial mais sólida, mais rápida, mais eficaz, e também uma porta para responder às necessidades reais que as famílias possuem nestes momentos; famílias que, com maiores ou menores dificuldades, precisam do acompanhamento da Igreja”.
Não foge destes padres sinodais a tensão que se criou em torno desta assembleia, com posturas divergentes sobre até onde as reformas devem chegar, e com o tema da comunhão aos divorciados em segunda união como pedra de toque.
Para Osoro, esses outros bispos e cardeais que opõem doutrina a soluções pastorais, como pede Francisco, “em muitos casos não leram todo o pensamento do Papa sobre a família, que não foi desenvolvido somente a partir do momento em que que foi nomeado sucessor de Pedro, mas, sim, é necessário ver tudo o que ele disse sobre a família sendo arcebispo de Buenos Aires. Tem tal profundidade, beleza e força que, se os que dizem coisas distintas lessem, ratificariam claramente o que Francisco apresenta”.
Para Sistach, este clima enrarecido entre sinodais se deve, “em grande parte, ao fato de que não se acredita que os que falam sobre estas questões querem respeitar a indissolubilidade do matrimônio cristão, mas também porque se quer refletir sobre o que se pode fazer para dar uma resposta pastoral a pessoas cristãs com uma situação matrimonial peculiar”. Com este último, o purpurado catalão se refere a “um problema pastoral considerável, sobretudo na América do Sul, onde há muitíssimas pessoas jovens e adultas com uma elevada porcentagem de divórcios e novas uniões que desejam comungar com os filhos na missa dominical. O Papa, que foi arcebispo da grande Buenos Aires, vive intensamente este problema pastoral. E é preciso dizer que nos deparamos com uma questão difícil: como harmonizar a fidelidade e a misericórdia. Por isso, reflete-se e fala-se. Penso que convém enxergar assim”.
O bispo de Bilbao também pretende canalizar a partir da perspectiva da comunhão. Iceta recorda que justamente isso é um Sínodo, “uma graça para a Igreja, um dom do Espírito Santo, onde o Papa nos convoca para orar, refletir, dialogar, escutar, argumentar, discernir e propor respostas aos temas que ele pede que sejam tratados e discernidos”. Frente a isso, estima que “não deve se entender como um enfrentamento de diversas posturas, mas, ao contrário, muito mais como um exercício de sinodalidade, ou seja, de busca em comunhão de propostas discernidas à luz de Deus, buscando sua vontade e partindo da Escritura, da Tradição, do Magistério, de modo que possam iluminar com nova luz os desafios que se apresenta hoje na pastoral familiar”.
Ele, que representará a CEE em uma delegação encabeçada pelo seu presidente, Ricardo Blázquez, está convencido de que este Sínodo, que é convocado com o lema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, “será um tempo de verdadeira graça para a Igreja”.
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Os que opõem doutrina a soluções pastorais “não leram o pensamento de Francisco sobre a família” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU