02 Outubro 2015
No aniversário de 62 anos da Petrobras, no próximo dia 3 de outubro, a Frente Brasil Popular (FBP), que articula dezenas de movimentos e organizações sociais em todo país, convocou atos políticos em mais de 30 cidades para defender a principal empresa brasileira, que está ameaçada de perder o controle sobre algumas das maiores reservas de petróleo do mundo. A principal ameaça é o projeto de lei 131/2015, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que pretende tirar da Petrobras a função de operadora única do pré-sal, reservas que podem conter mais de 100 bilhões de barris de petróleo.
A reportagem é de Pedro Rafael Vilela e Bruno Pavan, publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 01-10-2015.
Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), há uma campanha que mistura os graves episódios de corrupção descobertos pela Lava Jato com a missão da empresa. Para José Maria Rangel, coordenador da FUP, os mesmos setores que há décadas tentam privatizar a Petrobras e as empresas internacionais de petróleo estão por trás dessas movimentações. “Aqueles que praticaram atos de corrupção na empresa já estão sendo investigados. O que não podemos aceitar é que a mídia se aproveite disso para atacar dia e noite a Petrobras, passando a impressão de que ela está na bancarrota. Isso é mentira. A empresa tem batido recordes que nunca são noticiados”, protesta.
Já a coordenadora do Sindipetro Unificado do Estado de São Paulo, Cibele Vieira, lembrou que com o pré-sal o país se tornaria um dos cinco maiores produtores de petróleo do mundo e que a luta pela defesa da estatal existe desde que ela foi criada. “Se tem interesse internacional no petróleo no oriente médio, aqui no Brasil não é diferente”, apontou.
Na entrevista coletiva da Frente Brasil Popular, que aconteceu na última quinta-feira (1) em São Paulo, Cibele também informou que os petroleiros estão planejando uma grande greve contra o novo plano de negócios da estatal, que entre outras coisas, já autorizou a abertura de 25% do capital da BR Distribuidora.
Produção
Só no primeiro semestre de 2015, apesar da Lava Jato, a Petrobras ampliou em 9% sua produção de petróleo e registrou lucro líquido superior a R$ 5 bilhões.
De fato, a importância da Petrobras para a economia brasileira é facilmente medida em números. As riquezas que a estatal produz representam 13% do Produto Interno Bruto (PIB), geram milhões de empregos e 42% de todos os investimentos da indústria nacional.
Para José Antônio Moraes, que é coordenador de relações internacionais da FUP, a disputa petrolífera é ainda é algo “muito importante” no mundo. Ele cita a Guerra do Iraque (2001-2003) como marco na retomada das enormes reservas iraquianas pelas empresas multinacionais.
A derrubada de Saddam Hussein também acabou com o controle das reservas por uma empresa nacional. Mais recentemente, mesmo com a queda no preço do barril de petróleo, a gigante Shell pagou 70 bilhões de dólares (cerca de R$ 280 bilhões) pela compra da BG Group. “Não é por acaso, a BG tem participação em cinco campos do pré-sal na Bacia de Santos. Há um claro interesse da Shell nessa compra, que é ampliar sua presença em nossas reservas e a mudança na lei de partilha é crucial para eles”, avalia Moraes.
Ajuste fiscal
Os atos políticos também pretendem cobrar mudança na política econômica do governo Dilma. Para representantes dos movimentos sociais, não é possível admitir que o ajuste fiscal recaia nas costas dos trabalhadores e aliviem a situação dos mais ricos. “A base social que inclusive ajudou a reeleger a presidenta Dilma está sentindo os efeitos da crise. Os cortes anunciados pelo governo vão afetar programas sociais importantes, como o ‘Minha Casa, Minha Vida’, o farmácia popular, Fies, entre outros. Podemos perder parte das conquistas dos últimos anos”, afirma Raimundo Bonfim, da Coordenação dos Movimentos Populares (CMP).
Bonfim reconhece que, apesar do governo não estar correspondendo com o programa que o elegeu, é “golpe” a tentativa de setores da oposição de levar adiante o impeachment da presidenta Dilma e os movimentos sociais não vão permitir a quebra da “legalidade democrática”. “Nós organizamos a Frente Brasil Popular para articular de forma unitária o conjunto dos movimentos, tendo três objetivos: além de combater o ajuste fiscal e lutar contra o ‘golpismo’, nossa meta é que o Brasil avance em reformas estruturais, como a tributária, a política, a agrária, democratização dos meios de comunicação, entre outras”, descreve.
Sobre a política econômica adotada pelo governo, o membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues apontou que os movimentos não vão aceitar “a retomada de uma política neoliberal que foi derrotada em 2002”.
O presidente da CUT/SP Douglas Izzo também reforça que o remédio mais amargo está sendo jogado na classe trabalhadora e que a saída da crise é jogar esse peso nas costas dos que ganham mais. “Vamos apresentar em nosso congresso uma proposta alternativa de política econômica da que está sendo implementada. Entendemos que os trabalhadores não devem pagar pela crise”, finalizou.
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Movimentos vão às ruas exigir mudança na política econômica de Dilma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU