28 Setembro 2015
Com a aproximação da visita de Francisco à Filadélfia, cresceu a especulação sobre se o Papa manteria um bom relacionamento com o arcebispo da cidade, Charles Chaput. O pontífice tem uma visão reformista da Igreja católica. O arcebispo, entretanto, é um dos principais nomes da corrente mais conservadora do catolicismo norte-americano.
Chaput se esforçou nos últimos meses para negar qualquer divergência com o Papa. E Jorge Mario Bergoglio fez o mesmo no sábado: se mostrou sorridente com Chaput em uma missa na catedral e depois, ao chegarem juntos a um seminário, pediu que cantassem parabéns pelo aniversário de 71 anos do arcebispo.
A reportagem é de Joan Faus, publicada por El País, 26-09-2015.
Chaput reflete uma realidade dos EUA, que têm a quarta maior população católica do mundo. 20,8% dos norte-americanos (80 milhões) são católicos, contra 25,4% de evangélicos protestantes, segundo dados do centro de pesquisas Pew. O arcebispo simboliza o ceticismo – visível também nos círculos políticos mais conservadores do país – causado pela retórica progressista do Papa em parte da Igreja norte-americana. O arcebispo, com um discurso inflamado, ao contrário da fala calma de Francisco, é um defensor dos valores tradicionais.
O melhor exemplo do contraste é o casamento homossexual. Frente à mensagem do Papa de “quem sou eu para julgar” os homossexuais, Chaput manifesta publicamente seu repúdio. O arcebispo da Filadélfia, a sexta maior arquidiocese dos EUA, lembrou recentemente, caso houvesse alguma dúvida, de que a Igreja católica continua opondo-se ao casamento homossexual e defendeu uma escola católica local que decidiu demitir uma popular educadora religiosa por ser casada com outra mulher.
O arcebispo da Filadélfia discorda do tom tolerante do Papa em relação à união homossexual
No final do ano passado, o Papa organizou um encontro de debates sobre como a Igreja poderia acolher os católicos divorciados e homossexuais. Chaput não compareceu à reunião e a criticou abertamente. Ele se declarou “muito perturbado” por esse debate. “Acredito que a confusão é coisa do diabo, e acredito que a imagem pública transmitida [por esse debate] foi a de confusão”, disse o arcebispo. Após criar uma polêmica, minimizou suas declarações e disse que não pretende desautorizar o ex-cardeal de Buenos Aires, de 78 anos.
86% dos católicos norte-americanos avaliam Francisco favoravelmente, de acordo com uma pesquisa de junho de 2015 do centro de pesquisas Pew. Destes, 69% consideram que o Papa trouxe uma mudança positiva grande na Igreja.
O apoio a Bergoglio é quase o mesmo de 2014 (85%) e de março de 2013 (84%), quando foi nomeado pontífice. É uma avaliação melhor que a de seu predecessor, Bento XVI, cujo apoio nos EUA oscilou entre 67% e 83%; mas pior que o antecessor de Bento, João Paulo II, cuja aprovação chegou aos 93%.
Nas ruas da Filadélfia, que abriga o Encontro Mundial das Famílias, o apoio a Francisco é visível. Centenas de milhares de pessoas são esperadas no discurso que será feito pelo Papa na tarde de sábado em uma avenida da cidade e em uma missa pública a ser oficiada no domingo. A Filadélfia está tomada pelas forças de segurança, incluindo o Exército, que instalou barricadas e pesadas medidas de segurança, que, se não fosse pelo constante desfile de pessoas, faria dela uma cidade fantasma.
A Filadélfia está tomada pelas forças de segurança depois da chegada de centenas de milhares de pessoas
“A mensagem do Papa é valiosa”, disse John Shaddy, norte-americano de cinquenta anos de Nova Jersey, enquanto enfrentava uma longa fila para entrar no perímetro de segurança da área onde são realizados os principais atos de Francisco na Filadélfia. John, com sua mulher Susie, são membros do coro que cantará na missa de domingo. Conseguiram um lugar após uma longa disputa com outras igrejas da região.
Entre diversos vendedores ambulantes de todo tipo de produtos relacionados ao Papa, Shaddy explica que considera “única” a crítica do pontífice aos excessos do capitalismo na quinta-feira no Congresso dos EUA, em Washington. E afirma que a “maioria” dos católicos norte-americanos está de acordo com a mensagem de tolerância do Papa em relação ao casamento homossexual.
A poucos metros de distância, Mike Principato exibia um sorriso constante. Tem 16 anos e é estudante de uma escola jesuíta na Filadélfia. Ele se diz “muito emocionado” com a possibilidade de ver o Papa no festival musical que se iniciaria em poucas horas no Encontro Mundial das Famílias. “Gosto do fato de Francisco viver de acordo com o que fala”, afirma Principato sobre a atitude humilde do pontífice. “Dá para ver que tem os pés no chão”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa atrai multidões na Filadélfia, um território religioso hostil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU