28 Setembro 2015
O que faz o sucesso de uma liderança, nestes tempos difíceis? Nos últimos dias, os Estados Unidos encontraram dois líderes estrangeiros bastante diferentes: um europeu (embora de origem latino-americana) e um chinês.
A reportagem é de Bill Emmott, publicada no jornal La Stampa, 26-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um (sim, o Papa Francisco) tentou se impor usando a humildade. O outro (o presidente Xi Jinping) fez de tudo para parecer exatamente o homem forte que, há algumas semanas, tinha presidido em Pequim uma imponente marcha militar. Eu aposto que aquele que vai deixar a marca mais profunda é o que chegou em um Cinquecento.
Certamente, uma "sinal profundo" é uma tarefa difícil nos EUA, o país com uma capacidade de atenção limitada, o país das celebridades instantâneos e também instantaneamente esquecidas, onde Donald Trump ainda está imitando com sucesso os sistemas usados por Silvio Berlusconi para dominar o cenário político. E um presidente chinês, duro ou não, é sempre visto pelos norte-americanos como uma espécie de inimigo.
Mas há boas razões para pensar que o Papa Francisco vai deixar o seu sinal.
Uma razão é que o estilo da sua liderança parece responder a uma necessidade autêntica, em ambas as margens do Atlântico. A força assim como o puro poder político já estão desacreditados, quer pela guerra, quer pela crise financeira. A opinião pública tornou-se mais cínica ao julgar os políticos e as suas motivações, particularmente quando vêm da política institucional que muitos culpam pelos atuais problemas do Ocidente.
Em certo sentido, ninguém poderia ser mais institucional do que o líder da Igreja Católica Romana, provavelmente a mais antiga corporação política do mundo. Porém, como os europeus bem sabem, mas os norte-americanos (ao menos os não católicos) não, o Papa Francisco se destacou por ser bem pouco institucional, nada corporativo e dotado de uma maior inteligência política do que os seus antecessores.
Durante anos, nos EUA, a Igreja Católica foi desacreditada pelos escândalos dos abusos sexuais e os papas com ela. Um dos pontos fortes do Papa Francisco é de ser, entre os últimos pontífices, o primeiro e o único que os norte-americanos não acreditam ser conivente.
É por isso que a humildade do Papa Francisco e a sua recusa a aderir à grandiosidade, às estruturas e às práticas consolidadas da sua Igreja podem fazer vibrar uma corda na alma dos norte-americanos.
Normalmente, os norte-americanos admiram o poder e a riqueza, e não têm medo algum da opulência. A modéstia não é uma característica norte-americana. Os atos de humildade muitas vezes são julgados com cinismo. Mas o Papa Francisco superou tudo isso porque a sua humildade é cheia de substância e parece ser totalmente genuína, e também graças ao contraste com os escândalos do passado.
Especialmente a sua possibilidade de ter um impacto duradouro nasce da união da sua modéstia com o seu modo direto de se apresentar como uma voz bipartidária. Os EUA se tornaram ainda mais partidários, ainda mais inclinados a ver as coisas em termos de "nós contra eles", ainda mais tribalmente republicanos ou democratas.
Um papa, obviamente, é a quintessência do espírito de parte, fiel à sua fé e à sua Igreja. Mas as suas posições parecem compôr as divisões dos EUA, oferecendo algo para ambos os lados, com uma linguagem doce e fascinante.
É uma verdadeira façanha conseguir ser elogiado pelos republicanos e pelos democratas. Também ajuda o fato de que o Papa Francisco é, ao mesmo tempo, conservador do ponto de vista social e progressista na economia, unindo-se, assim, nos aspectos diferentes da sua personalidade e dos seus pontos de vista, com ambos os lados.
Mas, graças aos seus modos independentes, não autorreferenciais, ao seu estilo gentil de persuasão, ele poderia, ao menos poderia, enfraquecer a resistência ao compromisso, abrir o caminho para a ideia de que as mudanças climáticas, a imigração e a desigualdade social não são problemas tribais, de brancos ou negros, mas questões sérias que devem ser abordadas.
O que o presidente Xi Jinping pode obter da sua visita aos EUA é menos claro. Ele também tem algo a dizer sobre as mudanças climáticas e tem anúncios a fazer. Mas, no seu caso, os seus verdadeiros problemas e o seu público se encontram no país. Sob esse aspecto, a sua liderança e a sua atitude em relação à política são mais norte-americanas do que as do Papa Francisco.
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Francisco, o líder que triunfa com humildade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU